Apartamentos e carros concentram níveis elevados da partícula, que pode entrar na corrente sanguínea e penetrar profundamente no sistema respiratório
O ar que respiramos dentro de casa ou no carro pode conter quantidades significativas de microplásticos – pequenos o suficiente para penetrarem nos nossos pulmões -, revelaram pesquisadores da Universidade de Toulouse, na França.
Pelos dados do trabalho, publicado na revista Plos One, inalamos diariamente até 68.000 partículas microscópicas de plástico em ambientes internos. Os pedaços menores medem entre 1 e 10 micrômetros (ou cerca de um sétimo da espessura de um fio de cabelo), e representam um risco maior à saúde, pois podem ser distribuídos mais facilmente pelo corpo.
“Ficamos bastante surpresos com os níveis de microplástico que encontramos – eram muito maiores do que o estimado anteriormente”, disse Nadiia Yakovenko, pesquisadora de microplásticos e coautora do estudo, ao The Guardian. “O tamanho da partícula é pequeno e sabidamente se transfere para os tecidos, o que é perigoso porque pode entrar na corrente sanguínea e penetrar profundamente no sistema respiratório.”
Os cientistas analisaram o ar em diferentes cômodos de vários apartamentos e nas cabines de carros. Nos imóveis, o tipo de polímero predominante foi polietileno (PE), encontrado em uma enorme variedade de produtos do dia a dia, desde embalagens, passando por utensílios domésticos e até roupas.
Praticamente qualquer atividade humana libera microplásticos, pois os fragmentos são muito leves, relata a reportagem. “E qualquer movimento de ar, vibrações, seu movimento, se você anda, senta, levanta, se você abre uma janela – tudo isso vai ressuspender as partículas”, informou Yakovenko.
Nos carros, o estudo mostrou que a concentração de plástico era cerca de quatro vezes maior do que nos apartamentos, e o material mais prevalente era a poliamida (PA). Yakovenko salientou que, por ser um ambiente fechado e menor, os automóveis têm uma concentração maior de plástico, e a ventilação não é boa.
Foi demonstrado que as concentrações em ambientes internos são maiores do que nos externos. Os autores do estudo salientam que isso é preocupante, visto que passamos cerca de 90% do dia em ambientes fechados.
Como amenizar o problema
Microplásticos são pequenos pedaços de plástico adicionados intencionalmente a bens de consumo ou que são produtos da decomposição de plásticos maiores. As partículas contêm cerca de 16.000 substâncias químicas, muitas delas perigosas para a saúde.
Diversas pesquisas já detectaram microplásticos em todo o corpo humano – sangue, coração, pulmões, cérebro, fígado, rins, placenta, testículos, leite materno etc. E sua presença tem sido associada a diversas doenças, incluindo cardiovasculares, pulmonares, endócrinas e neurológicas, além de problemas reprodutivos e cânceres.
Evitar totalmente os microplásticos do ar é impossível, mas há medidas que podem ajudar a diminuir a presença dessas partículas em casa. Entre as recomendações estão substituir itens plásticos por alternativas de madeira, metal ou fibras naturais e aspirar e tirar o pó regularmente com equipamentos que utilizem filtros HEPA.
Nos carros, a redução é mais complexa. Abrir as janelas pode melhorar a circulação de ar, mas também aumenta o risco de entrada de partículas externas, como as geradas pelo desgaste dos pneus.
Fonte: UM SÓ PLANETA