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Método de empresa-filha da Unicamp para indicar solubilidade de fármacos se torna padrão da Anvisa

Método de empresa-filha da Unicamp para indicar solubilidade de fármacos se torna padrão da Anvisa

Cientistas desenvolveram o primeiro método para uma quantificação precisa da concentração micelar crítica (CMC) de detergentes usados como solubilizantes de medicamentos

Para serem eficazes e oferecerem ação rápida, os medicamentos necessitam de um nível adequado de solubilidade em água. Quando um fármaco não apresenta essa propriedade, uma possibilidade é adicionar um surfactante (detergente) na sua formulação. Esse agente tensoativo induz a formação de aglomerações de moléculas (micelas) na composição, o que torna o medicamento solúvel e estável.

Identificar a concentração ideal do surfactante na formulação para gerar as micelas, medida denominada concentração micelar crítica (CMC), não é algo simples. Mas uma startup incubada na Incubadora de Empresas de Base Tecnológica da Unicamp (Incamp) desenvolveu um know-how de alto grau de precisão para realizar essa análise, tornando-se praticamente a única empresa do país a dominar esse método, de grande importância para indústria farmacêutica. A medida do CMC mostra-se tão relevante que passou a ser uma exigência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no processo de aprovação de novos medicamentos que usam surfactantes.

Essa empresa é a ForNano, fundada em 2022 por duas ex-alunas da Universidade, as farmacêuticas Juliana Oliveira e Viviane Damasio. Ambas fizeram sua pesquisas de doutorado no Instituto de Biologia (IB) da Unicamp (Damasio já havia concluído seu mestrado também no IB) e trabalharam no desenvolvimento desse know-how com a docente Eneida De Paula, professora colaboradora do IB, e com outro ex-doutorando do mesmo instituto, Gustavo Rodrigues da Silva. Juntos, desenvolveram o primeiro método para uma quantificação precisa da CMC de detergentes usados como solubilizantes de medicamentos.

Concluído o trabalho, procuraram a Agência de Inovação da Unicamp (Inova Unicamp) para licenciar a tecnologia e assegurar sua proteção intelectual. Além disso, receberam apoio para elaborar os contratos de transferência de tecnologia e conheceram os caminhos para o desenvolvimento da startup voltada às áreas de nanotecnologia e quimiometria.

Uma nova exigência da Anvisa

De Paula observa ainda que o desenvolvimento do método encontrou receptividade da parte da Anvisa desde os primeiros momentos.

“Assim que desenvolvemos o método, encaminhamos os primeiros resultados à Anvisa. A agência recebeu as nossas análises e, para nossa satisfação, elas foram aceitas muito bem”, comenta De Paula.

Desde então, o método de determinação do CMC desenvolvido na Unicamp passou a ser uma exigência da Anvisa. Antes, não havia uma maneira precisa de assegurar se a solubilidade de um medicamento nas formulações micelares era adequada, algo que motivou ainda mais a criação da startup.

“Nossas análises alcançaram um ótimo resultado e esse tipo de caracterização de uma formulação farmacêutica tornou-se obrigatório para a Anvisa. A agência passou a exigir esses testes para garantir a segurança dos novos medicamentos e atestar que os fármacos sejam realmente solúveis, o que é muito importante para o paciente. Podemos dizer que ‘lançamos escola’”, completa De Paula.

Como tudo começou

Segundo De Paula, que atua como consultora da startup, a quantificação do CMC apresentava um desafio tecnológico para a indústria farmacêutica.

“As empresas precisavam demonstrar à Anvisa que um medicamento continha um componente específico para solubilizar um princípio ativo, garantindo que a formulação fosse estável e que tivesse solubilidade adequada. Diante desse desafio, começamos a desenvolver o método.”

Para isso, na pesquisa, foram aplicadas técnicas de espectrofluorimetria, um procedimento responsável por medir a fluorescência emitida por uma substância após ser submetida à ação de uma luz em determinada frequência.

“Foi assim que pudemos identificar a existência de agregados de detergente, as micelas, em que o medicamento estava banhado, comprovando assim as propriedades de solubilidade desejadas”, explica De Paula.

O desafio é identificar a concentração crítica do detergente na formulação do medicamento, algo alcançado pela equipe de pesquisa. Embora a aplicação dessa técnica fosse conhecida no meio científico, os conhecimentos e procedimentos envolvidos no desenvolvimento do método de caracterização chamou a atenção da indústria farmacêutica, conforme comenta Damasio.

“A aplicação dessa técnica é conhecida, porém o know-how para quantificar a concentração micelar de detergentes em uma formulação farmacêutica é algo que só nós dominamos. Um atrativo para isso é que o método permite às empresas gastarem menos com insumos, que são formulações caras, além de o método exigir uma baixa quantidade de medicamentos para garantir a determinação”, detalha.

Proteção do know-how desenvolvido

Uma vez desenvolvida a técnica, as pesquisadoras sabiam da importância de licenciar a tecnologia, dotada de elevado potencial de aplicação na indústria farmacêutica.

“Esse know-how tinha, e até hoje tem, um valor muito importante para a indústria. E a Inova Unicamp nos auxiliou em todos os trâmites necessários para licenciar a tecnologia, o que permitiria que tanto as empresas quanto a Universidade fossem beneficiadas, promovendo uma inovação sustentável e sustentada”, acrescenta a pesquisadora.

Quando o licenciamento conclui-se, a tecnologia torna-se apta a ser comercializada. Com esse objetivo, Oliveira e Damasio criaram, em 2022, a ForNano, uma startup considerada uma spin-off acadêmica da Unicamp, ou seja, uma empresa criada a partir dos resultados de uma pesquisa, de um conhecimento ou de uma tecnologia da Universidade. A fim de aperfeiçoar seu modelo de negócio, a ForNano agora está incubada na Incamp e funciona no prédio Núcleo do Parque Científico e Tecnológico da Unicamp, complexo gerenciado pela Inova.

Hoje, a startup já atende outras empresas que necessitam dessa tecnologia. Os principais clientes, como explica Damasio, são da indústria farmacêutica:

“Elas [essas empresas] são numerosas e competem para lançar medicamentos no mercado nacional. Quando introduzem pequenas modificações em novas formulações, elas precisam demonstrar à Anvisa que o fármaco é solúvel e estável. E nós podemos atestar tudo isso com o know-how que desenvolvemos”.

Damasio acrescenta que os medicamentos antineoplásicos (quimioterápicos usados no tratamento do câncer) e soluções oftálmicas costumam ser os que mais demandam esse tipo de análise. Com informações da Unicamp.

Fonte: labnetwork


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