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Lodo de esgoto compostado e diferentes lâminas de irrigações no desenvolvimento de Acacia polyphylla

Resumo

É cada vez mais comum a adição de componentes orgânicos aos substratos em viveiros florestais, com o objetivo de potencializar seus atributos biológicos, químicos e físicos. Entre esses componentes destaca-se o lodo de esgoto que, após passar por processo de estabilização, torna-se um componente rico em matéria orgânica, podendo ser utilizado na agricultura, e em viveiros florestais. O trabalho teve como objetivo analisar o comportamento da espécie em diferentes composições de substratos e lâminas de irrigação. Utilizaram-se 5 formulações distintas de substrato compostas por substrato comercial (SC) e lodo e esgoto compostado (LEC). Avaliaram-se simultaneamente 3 lâminas de água, perfazendo um total de 300 mudas no estudo. Os parâmetros analisados foram: altura de planta, diâmetro do coleto, número de folhas, massa seca de parte aérea e raiz. Observou-se que os melhores tratamentos consistiram nas seguintes formulações: S1 (100% LEC), S2 (25% SC + 75% LEC), e S3 (50% SC + 50% SC). Mostrou-se que, a partir do LEC puro, houve melhor desenvolvimento das mudas, expressando um aporte com o aumento no diâmetro do coleto, altura da planta, maior crescimento inicial e desenvolvimento radicular, ou seja, além do potencial como fertilizante, o LEC atua como condicionador de atribuições físicas, química e biológicas necessárias às mudas. As diferentes lâminas de irrigação não apresentaram influência significativa em nenhum dos parâmetros avaliados.

Introdução

Acacia polyphyllaDC (Fabaceae) é uma espécie arbórea conhecida pelos nomes comuns de monjoleiro e angico-branco. Sua distribuição geográfica vai desde a região Amazônica até o Paraná, sendo particularmente frequente nos Estados do Mato Grosso do Sul e São Paulo. Trata-se de uma árvore de porte médio, rápido crescimento e que pode atingir os 20 m de altura (Araújo Neto et al., 2005). Sua floração acontece nos meses de dezembro a março, e os frutos expressam uma coloração em diferentes tons de marrom. Possui folhas compostas e bipinadas, apresentando de 24 a 34 pares de folíolos (Araújo Neto et al., 2002). Apresenta grande potencial para recuperação de áreas degradadas e áreas de preservação permanente, além de ser usada em projetos paisagísticos.
Por ser uma leguminosa do gênero Acacia apresenta grande potencial de fixação de nitrogênio (Chaer et al., 2011). É classificada como uma espécie pioneira de rápido crescimento, com boa capacidade de competição com plantas de fotossíntese C4 e alta taxa de sobrevivência das mudas, com apenas 17% de mortalidade nos primeiros dois anos (Campoe et al., 2014).
Dentro desse contexto e, tendo em vista o grande potencial da espécie, torna-se essencial que o manejo e o processo de produção de mudas sejam adequados. Nos viveiros, a qualidade da muda depende dos materiais e do manejo utilizado, principalmente do substrato, já que esse é o responsável pela sustentação da planta e sua fonte de água e nutrientes.
Os estudos mostram que tem se tornado comum o uso de diferentes componentes orgânicos em substratos de viveiros florestais, com o objetivo de potencializar seus atributos biológicos, químicos e físicos (Delarmelina et al., 2014; Trigueiro e Guerrini, 2014). Trazzi et al. (2012) reportaram que o substrato deve conter caraterísticas fundamentais, destacando-se a estrutura, consistência, boa porosidade, capacidade de retenção de água, estar livre de substâncias tóxicas, plantas invasoras, insetos e doenças.
Por outro lado, a expansão das cidades acarreta inúmeros problemas ambientais, dentre os quais a geração de um grande volume de lodo de esgoto, que após seu tratamento, estabilização e compostagem, dão origem ao lodo de esgoto compostado (LEC) (Cabreira et al., 2017). O lodo de esgoto resulta do esgoto recolhido das residências, indústrias e das Estações de Tratamento de Esgoto.
Quanto maior o investimento em saneamento básico, maior será a coleta e tratamento de esgoto, resultando em maiores quantidades de LEC (Camargo et al., 2013).
Para Scheer et al. (2010), um dos resíduos promissores para uso em viveiros é exatamente o LEC, visto apresentar altos teores de nutrientes, que além de possibilitar uma diminuição de alguns problemas ambientais causados pelo lodo como aumento de doenças por veiculação hídrica (Neves et al., 2019), modificação da atividade microbianado solo (Moreira et al., 2019) e deposição de metais pesados (Chu e He, 2020), proporciona uma economia na adubação suplementar de viveiros, ou seja, seu custo torna-se inferior em comparação aos fertilizantes minerais sintéticos e substratos comerciais amplamente utilizados (Vieira e Weber, 2016).
Neste contexto, Scheer et al. (2012) e Delarmelina et al. (2014) pontuam que, visando uma produção de qualidade por parte dos viveiros, o LEC pode ser utilizado como condicionador de atribuições físicas, química e biológicas necessárias às mudas. Cabreira et al. (2017) reforçam que a destinação correta do LEC deve ser uma alternativa altamente promissora, viável e acima de tudo sustentável.
Delarmelina et al. (2014), ressaltam que uma grande diversidade de compostos pode ser incorporados ao substrato (dentre eles o LEC), porém, é necessário um estudo detalhado sobre a eficácia destes. Para que ocorra a estimulação do crescimento inicial das mudas, bem como nas fases seguintes, esses compostos devem trazer todas as condições necessárias ao bom desenvolvimento, sendo essa a fase mais importante nos viveiros (Trazzi et al., 2012).
Além dos substratos, outro fator de alta importância é a irrigação para o bom desenvolvimento das mudas. As irrigações em viveiros são realizadas manualmente, com regadores ou mangueiras, por aspersão, e por micro aspersão. Este último tem sido mais indicado em função da economia, da mão-de-obra e do maior controle sobre a distribuição da água.
Na irrigação dos canteiros de semeadura e das mudas em estágio inicial de desenvolvimento, as regas devem ser mais frequentes do que para as mudas já desenvolvidas. O excesso de rega costuma ser mais prejudicial do que a falta por dificultar a circulação de ar no solo, impedindo o crescimento das raízes, lixiviação dos nutrientes e o aparecimento de doenças (Testezlaf, 2017).
O presente trabalho teve como objetivo analisar o comportamento da espécie A. Polyphyllaem diferentes formulações de substratos e lâminas de irrigação.
Autores: Nayara Gabriele Alcassa Alves Lanzeti; Ana Cláudia Chimini; Miguel Stancare Neto; Marcelo Fossa da Paz e Marcos Vinicius Bohrer Monteiro Siqueira.
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