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Economia da água

Ladislaw Dowbor
Economista, escritor, professor da PUC-SP

O custo de se assegurar água limpa para todos é incomparavelmente menor do que os prejuízos gerados pelo não-acesso. As pessoas em geral não se dão conta de que quatro milhões de crianças morrem anualmente, segundo o UNICEF, por não ter acesso à água limpa.

Os custos adicionais gerados por problemas de saúde, pela imensa perda de capacidade de trabalho, sem falar do elementar conforto e qualidade de vida, são imensos. Em outros termos, a boa gestão da água constitui um fator essencial da produtividade econômica no sentido estrito, e da produtividade sistêmica de forma mais ampla. Além disso, não se contabiliza o gigantesco prejuízo real causado à sociedade pelo fato de se liquidar bens públicos, como o acesso livre e gratuito a um rio ou lago limpos, a uma praia não poluída, prazeres simples, mas que continuam essenciais, e cujo custo encontraremos mais adiante nos preços dos clubes privados, nos dramas das clínicas de saúde, nos gastos com a criminalidade.

A idéia imediatamente levantada por certas ideologias econômicas é, naturalmente, a da privatização.

A verdade é que, na ausência de uma política efetiva para o setor, e à medida que a qualidade da água vai se deteriorando, as populações vêm-se obrigadas a comprar água de fornecedores privados, que atendem hoje algo como 20% da população urbana do terceiro mundo. A ONU calcula que a relação entre preços da água fornecida por sistemas públicos e fornecedores privados é de 1 para 10 em Istambul, 1 para 17 em Lima, chegando a 1 para 83 em Karachi, para dar alguns exemplos.

Na realidade, a riqueza excepcional do estudo da gestão da água, é que nos obriga a pensar como articular interesses muito diversificados, da agricultura, da indústria, do consumo domiciliar, das futuras gerações. Como nesta área a competição é destrutiva, e o centralismo estatal demasiado rígido frente à diversidade de usos e necessidades, a gestão da água nos condena a avançar no paradigma da colaboração, da construção de consensos, da gestão compartilhada. Abre-se assim um eixo de análise muito mais rico do que as simplificações que aprendemos nas faculdades tradicionais de economia.

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Ladislaw Dowbor é membro do Comitê Consultivo da Conferência Internacional de Governança e Sustentabilidade Ambiental: 2005 – A Questão da Água, a ser realizada de 29 a 31 de agosto, em São Paulo, pelo Senac-SP.

Fonte: http://www.eco21.com.br
Agosto 2005

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