A contaminação de recursos hídricos por agrotóxicos representa um dos principais desafios ambientais e de saúde pública da atualidade.
O uso intensivo de defensivos agrícolas no Brasil, aliado a práticas inadequadas de manejo e à ausência de sistemas de controle eficazes, tem levado à presença de resíduos tóxicos em rios, lagos, aquíferos e águas subterrâneas. Este artigo aborda os mecanismos de contaminação, os impactos ecotoxicológicos e as estratégias de monitoramento e tratamento, com foco na proteção dos ecossistemas aquáticos e na segurança da água destinada ao consumo humano.
O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, utilizando milhões de toneladas de produtos químicos anualmente para o controle de pragas e aumento da produtividade agrícola. Embora esses compostos desempenhem papel econômico importante, seu uso intensivo e muitas vezes inadequado tem causado sérios impactos ambientais, especialmente na qualidade dos recursos hídricos.
A infiltração no solo, a lixiviação e o escoamento superficial são os principais caminhos pelos quais os agrotóxicos atingem corpos d’água. Uma vez presentes no ambiente aquático, esses compostos podem persistir por longos períodos, bioacumular-se na cadeia alimentar e comprometer tanto a fauna aquática quanto a saúde humana.
Principais vias de contaminação
A contaminação hídrica por agrotóxicos ocorre por diferentes mecanismos:
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Esgotamento superficial: ocorre quando chuvas intensas transportam partículas do solo contaminado para rios e lagos.
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Infiltração e lixiviação: os compostos solúveis em água podem migrar para o lençol freático, contaminando aquíferos.
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Deriva de pulverização: ventos e evaporação durante a aplicação agrícola dispersam o produto para áreas não alvo, incluindo mananciais.
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Disposição inadequada de embalagens e sobras de calda: práticas comuns em pequenas propriedades rurais contribuem significativamente para a poluição difusa.
Impactos ambientais e à saúde
Os efeitos dos agrotóxicos na água vão muito além da contaminação química. Compostos como glifosato, atrazina, carbofurano e clorpirifós têm sido detectados em amostras de água bruta e tratada em diversas regiões do Brasil.
Os impactos incluem:
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Ecotoxicológicos: redução da biodiversidade aquática, morte de organismos sensíveis (como peixes e anfíbios) e alteração da microbiota aquática.
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Humanos: exposição crônica pode causar distúrbios endócrinos, neurológicos e reprodutivos, além de potencial carcinogenicidade.
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Socioeconômicos: comprometimento de mananciais de abastecimento, aumento dos custos de tratamento e prejuízos à agricultura sustentável.
Monitoramento e regulação
O Ministério da Saúde, por meio da Portaria GM/MS nº 888/2021, estabelece padrões de potabilidade que incluem limites para diversos agrotóxicos em água destinada ao consumo humano. Entretanto, a fiscalização e o monitoramento ainda são limitados, principalmente em pequenos municípios e áreas rurais.
Programas como o Vigiágua e o Siságua são fundamentais para o acompanhamento da qualidade da água, mas demandam maior integração com os órgãos ambientais e de agricultura para garantir respostas rápidas frente à detecção de contaminantes.
Tecnologias de tratamento
Os sistemas convencionais de tratamento de água, baseados em coagulação, floculação, decantação, filtração e cloração, não são plenamente eficazes na remoção de muitos agrotóxicos, especialmente os de baixa biodegradabilidade.
Tecnologias emergentes têm sido estudadas para o tratamento de águas contaminadas, entre elas:
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Processos oxidativos avançados (POAs): ozonização, fotocatálise e peroxidação, capazes de degradar compostos orgânicos complexos;
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Carvão ativado granular (CAG): adsorção de moléculas orgânicas persistentes;
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Membranas de ultrafiltração e nanofiltração: separação seletiva de micropoluentes;
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Biorremediação: uso de microrganismos capazes de degradar agrotóxicos no ambiente aquático.
Estratégias de mitigação
A redução da contaminação exige uma abordagem integrada, envolvendo:
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Educação e capacitação de agricultores sobre uso racional de defensivos e descarte correto de embalagens;
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Fomento à agricultura orgânica e agroecológica, reduzindo a dependência de produtos químicos;
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Zonas de amortecimento e barreiras vegetais para proteger mananciais;
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Monitoramento contínuo da água e do solo, com transparência dos dados para a sociedade.
A contaminação de recursos hídricos por agrotóxicos é um problema complexo e multifatorial, que exige ações coordenadas entre os setores de agricultura, saúde, meio ambiente e saneamento. A adoção de tecnologias de monitoramento e tratamento mais eficientes, associada a políticas públicas voltadas à sustentabilidade agrícola, é fundamental para garantir a segurança hídrica e alimentar das próximas gerações.
Fonte: elaborado por Portal Tratamento de Água com auxílio de IA.