BIBLIOTECA

Avaliação da biodegradabilidade do líquido percolado (chorume) proveniente do tratamento de resíduos sólidos orgânicos

Resumo

Um dos problemas ambientais recorrentes em todo país é a geração de Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) que mostram um total anual de 78,4 milhões de toneladas. Cerca de 29 milhões de toneladas de resíduos são dispostas em lixões ou aterros controlados. Estes locais não possuem medidas necessárias para o descarte de resíduos, gerando danos ao meio ambiente e danos à saúde de milhões de pessoas que vivem próximas a esses locais (ABRELPE, 2018). O presente trabalho teve como objetivo conhecer o potencial metanogênico específico do lodo anaeróbio da estação de tratamento (ETE) da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (CAESB), estudar a biodegradabilidade do biochorume proveniente do processo de vermicompostagem utilizando o processo de digestão anaeróbia e verificar a potencialidade do digestato como biofertilizante. O lodo anaeróbio foi caracterizado quanto aos sólidos totais, fixos e voláteis e analisado pelo teste AME para que fosse conhecido o seu potencial de produção de metano. A quantidade de sólidos reportada foi de 32496,66 mg/L de sólidos totais, 11616,33 mg/L de sólidos fixos e 20883,33 mg/L de sólidos voláteis. O teste AME teve como resultado 0,335 de g DQOCH4/g SVS.d, obtendo-se então um alto potencial de produção de metano. A DQO do biochorume produzido na vermicompostagem foi de 1500 mg/L. Os testes de biodegradabilidade anaeróbia tiveram como resultados das porcentagens 10%, 20% e 30% uma DQO respectivamente de 422,96 mg/L, 489,30 mg/L e 361 mg/L e uma % DQO removida de 71,8%, 67,4% e 75,9%, obtendo-se então remoções significativas de material orgânico. Para avaliar o uso do digestato da digestão anaeróbia do biochorume foram realizadas análises da relação C/N e os resultados obtidos foram para as porcentagens de 10%. 20% e 30% foram respectivamente de 21,66, 28,19, 26,66. As relações C/N encontradas mostram que é interessante a utilização do digestato como biofertilizante por apresentar valores dentro do reportado na literatura.

Introdução

É de enorme importância uma gestão de RSU, sendo essencial um entendimento embasado na Política Nacional dos Resíduos Sólidos (BRASIL, 2010). Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2017), no Brasil são gerados diariamente cerca de 160 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos, sendo composto por 30% a 40% de resíduos que são passíveis de algum tipo de tratamento ou reciclagem. Várias alternativas de tratamento podem ser utilizadas. Os tratamentos são processos de transformações dos resíduos em subprodutos ou materiais inertes ou estáveis. As formas de tratamento mais utilizadas são: reciclagem, compostagem e digestão anaeróbia (RECESA, 2010).

De acordo com Dal Bosco e colaboradores (2017) a matéria orgânica constitui uma parcela significativa dos resíduos sólidos urbanos, portanto uma opção viável seria a utilização da compostagem como forma de tratamento. Quando usada em escalas municipais, os benefícios podem ser ampliados, como aumentar o tempo de vida útil dos aterros sanitários, diminuir a emissão de gases de efeito estufa, pois o processo de compostagem produz o CO2 que tem um potencial poluidor 20 vezes menor que o CH4 (gás produzido nos aterros sanitários). O processo de compostagem produz dois produtos significantes, que seriam o composto (húmus) e o outro produto denominado biochorume, que é a fração líquida (EMBRAPA, 1996).

O chorume é um líquido, de cor escura, subproduto da degradação da matéria orgânica, que contém alta carga poluidora e por isso também é um problema ambiental se descartado de qualquer forma no meio ambiente. O chorume produzido no processo de compostagem, pode ser utilizado como fonte de energia quando submetido à digestão anaeróbia gerando biogás ou usado como biofertilizante quando submetido a diluição. A digestão anaeróbia produz CH4, que pode ser utilizado como fonte de energia, sendo uma opção ambientalmente e economicamente viável (SERAFIM et al., 2003).

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2014), a utilização de combustíveis fósseis é responsável por cerca de 78% do total de emissões de gases do efeito estufa que provocam o aquecimento global. Com a crise ambiental é necessário se adequar às mudanças que permitam a preservação dos recursos naturais e reduzam os impactos ao meio ambiente. O elevado preço do petróleo juntamente com as causas ambientais oferece argumentos fortes para a utilização de fontes renováveis de energia.

Neste contesto, a utilização de lodo das Estações de Tratamento de Efluentes (ETE) como fonte de biomassa para processo de digestão anaeróbia é bastante interessante do ponto de vista econômico e ambiental (LIMA, 2015), pois o processo de digestão anaeróbia é caracterizado pela conversão da matéria orgânica a biogás (DAMASCENO, 2013).

O biogás é uma fonte renovável de energia que pode ser usado como combustível ou ser transformado em energia elétrica e térmica, apresentando em sua composição gases metano, seguido pelo dióxido de carbono e pequenas quantidades de outros gases, como ácido sulfídrico. Além disso, pode ser obtido por meio da utilização de biodigestores, onde acontece a transformação da matéria orgânica em biogás e biofertilizante (BARBOSA, 2014).

O presente trabalho visa conhecer o potencial metanogênico específico do lodo anaeróbio da ETE da CAESB, estudar a biodegradabilidade do biochorume oriundo do processo de vermicompostagem utilizando o processo de digestão anaeróbia e verificar a potencialidade do digestato como biofertilizante.

Autor: Giorgiane dos Santos Pereira.

leia-integra

ÚLTIMOS ARTIGOS: