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Pesquisadores do Ceará desenvolvem bio-óleo para combustível de aviação a partir da casca de coco

Pesquisadores do Ceará desenvolvem bio-óleo para combustível de aviação a partir da casca de coco

Ceará Pode Liderar Produção de Combustível Sustentável para Aviação

Pesquisadores do Ceará desenvolvem bio-óleo para combustível de aviação a partir da casca de coco

O Ceará pode sair na frente na corrida mundial pelo combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). Pesquisadores da Universidade Estadual (Uece) desenvolveram um bio-óleo para abastecer aeronaves a partir da casca de coco em substituição do querosene (derivado do petróleo) como matéria-prima.

A avaliação é de que o produto deve atrair investidores por ser mais competitivo, graças ao potencial local agrícola, além do fator geográfico. Atualmente, o Ceará é o maior produtor do fruto no Brasil, segundo o último levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2022.

Estado / Quantidade produzida (toneladas)

Alagoas

Bahia

Ceará

Espírito Santo

Paraíba

Pará

Pernambuco

Rio de Janeiro

Rio Grande do Norte

Sergipe

105201

340941

572328

123954

53613

175022

142875

27461

74507

140245

Conforme explica a professora do Departamento de Física e Coordenadora do Laboratório de Conversão Energética e Inovação (LCE+) do Centro de Ciências e Tecnologia da Uece, Mona Lisa Moura, extrai-se o bio-óleo a partir de um processo de degradação térmica da biomassa vegetal, chamado de pirólise.

Por meio desse método, utiliza-se também a casca do coco, seja ela verde ou seca, para produzir biocarvão (conhecido como biochar) e um gás de síntese rico em hidrogênio.

Entenda a realização do processo

O processo vastamente estudado, no qual decompõe-se a matéria orgânica após exposição a altas temperaturas e ambiente desprovido de oxigênio é a pirólise. Os produtos gerados por meio desse método são vários e têm inúmeras aplicabilidades. Abaixo, veja uma síntese do processo geral para produção de combustíveis renováveis a partir de biomassa.

Ademais, esse reaproveitamento contribuirá com o descarte correto no Estado. Conforme a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), é proibido depositar casca de coco em aterros sanitários, já que é um material de difícil decomposição, com período estimado de oito a 10 anos para ser degradado, segundo estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Por isso, é necessário fazer a logística reversa (processo de reinserir a mercadoria na cadeia produtiva) para evitar os impactos ambientais negativos.

“Esses resíduos são um grande problema ambiental, sendo produzidos em milhões de toneladas”, frisa a professora.

Porque o combustível sustentável da aviação poderá ser mais barato no Ceará

Para a professora Mona Lisa, “o grande problema” da discussão sobre os combustíveis sustentáveis é o “imediatismo de buscar tecnologia fora”, encarecendo o produto com a importação.

“Precisamos desenvolver, criar e tropicalizar para baratear mais, principalmente aqui sendo um polo onde cruzam várias aeronaves”, observa.
Mona Lisa Moura – Professora do Departamento de Física e Coordenadora do Laboratório de Conversão Energética e Inovação (LCE+) do Centro de Ciências e Tecnologia da Uece

Foi o que a Uece fez: aprimorou uma tecnologia para aproveitar o vegetal onde o plantio é abundante, utilizando ambos de acordo com a realidade do Ceará. Outra vantagem regional competitiva, explica, é custo logístico mais baixo quando a biomassa é utilizada em um raio máximo de 250 quilômetros do local de fabricação.

Além disso, segundo a docente, a unidade piloto de pirólise (máquina para o processo) produzida pela universidade pode chegar a preços inferiores na comparação com os praticados pela China. No laboratório da Uece, ocorre a produção do bio-óleo em volume de até cinco quilos. Portanto, já é possível pensar em escalabilidade para atender à demanda comercial.

No dia 18/06, representantes do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) visitaram a universidade para conhecer a tecnologia. O porto planeja investir US$ 6,5 milhões em um centro de inovação para combustíveis sintéticos renováveis (sem a utilização do petróleo) para a descarbonização dos transportes, incluindo o aéreo.

Cenário e desafios para o SAF no mercado brasileiro;

Em 2022, os estados-membros da Organização da Aviação Civil Internacional (Oaci) aprovaram meta global de zerar as emissões de carbono (CO₂) até 2050. Nesse contexto, o SAF é crucial para reduzir a emissão desses gases causadores do efeito estufa em pelo menos 80%, conforme a Associação Internacional de Transporte Aéreo (Iata, na sigla em inglês).

Para a professora Mona Lisa, “o grande trunfo do Brasil é a biodiversidade e os biorresíduos (material orgânico de origem vegetal ou animal)”.

No entanto, pondera, essas tecnologias precisam ser incentivadas pelos governos, instituições privadas e públicas. No Brasil, os combustíveis sustentáveis para aviação ainda não são fabricados, mas também já há outros experimentos nesse sentindo, no Rio Grande do Norte, por exemplo.

Nessa segunda-feira (17), na Usina de Itaipu, no Paraná, foi inaugurada a primeira planta piloto do País para produção de petróleo sintético a partir do biogás e do hidrogênio verde, com foco no SAF.

O equipamento foi elaborado pelo Centro Internacional de Energias Renováveis (CIBIogás) e pela Cooperação Brasil-Alemanha para o Desenvolvimento sustentável. O projeto recebeu investimento de R$ 10 milhões do governo alemão.

No mercado brasileiro, todavia, as ausências de um marco regulatório e de incentivos fiscais ainda são desafios para a comercialização do SAF. No início deste ano, a Câmara dos Deputados aprovou Projeto de Lei (PL) de n.º 528/20, conhecido como programa do combustível do futuro.

O texto obriga as companhias aéreas a usarem o SAF para reduzir emissões de gases de efeito estufa, a partir de 2027. A redação seguiu para a apreciação do Senado.

Fonte: Diário do Nordeste


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