A jornada de manter um blog pessoal e a luta contra as tarefas do dia a dia: Como a Frequência de Postagens Mudou ao Longo do Tempo
Tem sido um grande desafio escrever este blog. Quando o iniciei, tive a pretensão de escrever e publicar todos os dias; porém, esse delírio logo passou. Então adotei uma perspectiva mais realista: escreveria e publicaria uma vez por semana. Justo! Uma vez por semana é até tranquilo de escrever. Errei novamente! Com a rotina que tenho, uma vez por semana parece um esforço homérico (ou olímpico, para não deixar de lado o principal evento esportivo no momento) e tem sido cada vez mais difícil cumprir essa meta. Isso é bem frustrante! Tenho escrito sempre tarde da noite, quase que num transe e com pouquíssimo (ou nenhum) tempo para revisar os textos. O resultado disso é que, além de os textos não saírem bons, saem cheios de erros. Prometo me esforçar para manter esse blog e melhorar a sua qualidade! Dito isso, vamos ao que interessa neste blog: os projetos!
Detalhes do Novo PRAD (Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas ou Alteradas) para Mineração de Minério de Ferro em pilha de estéril
Hoje finalizei a elaboração de mais um PRAD (Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas ou Alteradas) para mineração de minério de ferro! Dessa vez, foi para uma mineradora no município de Sabará/MG. Esse empreendedor irá explorar uma pilha de estéril que foi colocada num todo de serra, numa área de campo rupestre ferruginoso, ao lado de uma RPPN. O empreendimento terá apenas alguns meses, mas os impactos por ela causados podem durar longos períodos de tempo, e é aí que o PRAD atuará.
Medidas de Nucleação e Adaptação ao Solo Local (Ou a falta dele)
Quando o empreendimento finalizar a exploração da pilha de estéril, a área onde a atividade ocorrerá se encontrará bastante degradada: sem cobertura vegetal; com as camadas superiores do solo removidas ou alteradas; solo compactado, entre outros impactos. Por isso, uma série de ações será necessária para recuperar o local.
O projeto se iniciará pela sistematização de taludes e pela elaboração e implantação de um plano de drenagem. Essas ações são super importantes para a estabilidade das áreas do projeto e para evitar focos erosivos na mesma. O controle do fluxo de águas pluviais é essencial para qualquer ação de recuperação ambiental. Para você ter uma ideia do quanto isso é importante, durante o meu Mestrado, eu cursei uma disciplina de mesmo nome e a professora Mariângela Leite dizia várias vezes em todas as aulas:
“Primeira coisa a fazer num projeto de recuperação é controlar a água. Se não controlar a água, o projeto vai todo embora!”.
E vai mesmo! Por isso, essa lição eu nunca esqueci e a aplico em todos os projetos que elaboro. Já em relação aos taludes, estes não devem ser muito íngremes, com inclinação suave, para que se possa utilizar topsoil com tranquilidade. Onde não for possível e a inclinação for maior, recomendou-se utilizar topsoil e geotêxtil.
Topsoil
O topsoil, ou solo superficial, foi a técnica escolhida para a recuperação do solo e vegetação dessa área. Sua eficácia na restauração de áreas mineradas e de campos rupestres ferruginosos e o custo de implementação dessa técnica foram definitivos para a sua adoção. Entretanto, este empreendimento não contará com a retirada de topsoil, pois este já foi degradado na construção da pilha de estéril, e isso se tornou um grande desafio para este projeto. Essa dificuldade surgiu porque as técnicas para restaurar os solos do local poderiam descaracterizar totalmente a futura cobertura vegetal devido aos teores de nutrientes mais altos do que os naturais para esse tipo de solo. Além disso, ele impactaria o campo rupestre adjacente com a introdução de espécies exóticas que hoje já são uma das grandes ameaças à conservação desses tipos de ambientes em Minas Gerais.
Para contornar o problema, decidimos propor uma pequena doação de topsoil de outro empreendimento minerário próximo ao deste projeto, dos mesmos proprietários, e que tenha solo superficial estocado a menos de um ano ou recém-retirado. Propus uma camada menor de solo do que usamos normalmente, no caso, uma camada que cubra toda a área do empreendimento com uma espessura de 10 cm. Esse solo, somado ao banco de sementes nele contido, é o suficiente para recuperar o solo e iniciar a cobertura vegetal no local. Mas, antes da deposição do material, foi sugerido o gradeamento do solo, que permite a descompactação do mesmo e, só então, a colocação do topsoil.
Medidas de nucleação
Foi sugerido também medidas de nucleação, onde serão colocados poleiros por toda a área para o pouso de pássaros e morcegos, para a facilitação da dispersão de sementes, e espalhar pedaços de rochas que sobrarem da exploração de minério de forma aleatória no solo superficial. Essa última medida consiste em criar novos nichos ecológicos para plantas e animais, contribuindo para a heterogeneidade do ambiente, característica em áreas de campos rupestres ferruginosos.
Após isso, tirando as coisas de praxe – controle de formigas, cercamento da área, etc. – não serão necessárias nenhuma manutenção ou intervenção, apenas monitoramento de focos erosivos e ações que mantenham o desenvolvimento da vegetação. Isso porque, conforme percebi na minha pesquisa de mestrado, você não precisa manejar muito o topsoil de campo rupestre.
Campos rupestres são ambientes muito pobres em nutrientes e que possuem um filtro ambiental muito restritivo. As espécies que nele ocorrem são adaptadas a esse tipo de ambiente e, portanto, têm vantagens competitivas com as espécies que não são desses locais. Portanto, adubar ou fazer outras técnicas que são comuns em outros ambientes pode prejudicar a recuperação da vegetação nativa, causando uma simplificação da comunidade vegetal, onde poucas espécies de gramíneas prevalecerão. Por isso, o ideal é que áreas de campos rupestres em recuperação com o uso do topsoil não sejam manejadas após a implementação do projeto, apenas em casos estritamente necessários.
O Que Esperar Após a Implementação do Projeto?
Para o monitoramento, propôs-se a metodologia descrita na Portaria CBRN 01/2015 de São Paulo. Apesar de ser uma portaria de outro estado, ela fornece um bom método de análise para avaliação dos resultados de projetos de recuperação em áreas campestres.
Neste momento, o projeto está sendo revisado e, em breve, será protocolado no órgão ambiental. Quando isso acontecer, conto para vocês aqui.
Atualização de outros projetos aqui do blog
Para fechar, há alguns dias eu publiquei este texto sobre o projeto de construção civil em que trabalhei e que fiz o pedido de supressão de indivíduos arbóreos no terreno do empreendimento. Ele foi deferido! Queria compartilhar com vocês minha alegria e mais esse bom resultado!
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Sua ajuda é muito bem-vinda!
Autor: Diego D. Dias
Biólogo especialista em flora
Mestre em Ecologia de Biomas Tropicais – UFOP
[email protected]
(31) 99339-2002
Referências Bibliográficas
DE OLIVEIRA BAHIA, Thaise et al. Contribution of nucleation techniques to plant establishment in restoration projects: an integrative review and meta‐analysis. Restoration Ecology, v. 31, n. 7, p. e13932, 2023.
DIAS, Diego Dayvison. Recrutamento e estabelecimento de plantas após transposição de topsoil para área degradada pela mineração de bauxita. 2016.
ONÉSIMO, Cecilia MG et al. Ecological succession in areas degraded by bauxite mining indicates successful use of topsoil. Restoration Ecology, v. 29, n. 1, p. e13303, 2021.