De acordo com a Global Water Intelligence (GWI), referência internacional de mídia no setor de água, a América Latina está em um ponto de inflexão em termos de sustentabilidade e produção de energia limpa
De acordo com a Global Water Intelligence (GWI), referência internacional de mídia no setor de água, a América Latina está em um ponto de inflexão em termos de sustentabilidade e produção de energia limpa, testemunhando um rápido crescimento nos mercados de dessalinização, reúso de água e hidrogênio verde. Essas soluções emergentes estão atraindo investimentos, gerando oportunidades econômicas e melhorando a qualidade de vida na região.
Especialistas da GWI apontam que, apesar dos efeitos econômicos da pandemia de COVID-19 e da guerra na Ucrânia, um aumento sem precedentes na capacidade de dessalinização é esperado globalmente nos próximos anos e que a América Latina não é exceção. Também explicaram que as estratégias nacionais de hidrogênio verde, como as do Chile e do Brasil, contam com fontes de água não convencionais dentro do seu planejamento.
O reúso de água também ganhou força na região com projetos em andamento no Brasil. Espera-se que o marco regulatório impulsione um número crescente de projetos de reúso de águas residuais em processos industriais e agrícolas, para reduzir a dependência de fontes de água convencionais e garantir uma gestão sustentável dos recursos hídricos.
O hidrogênio verde se posicionou como uma solução-chave na busca por energia líquida zero na região. Estima-se que, até 2030, serão necessários mais 2 milhões de metros cúbicos de água desmineralizada por dia para a produção de hidrogênio verde. Esse combustível limpo é fundamental para descarbonizar setores difíceis de abordar, como o transporte de longa distância e a indústria de refino.
O Chile lidera a corrida do hidrogênio verde com uma Estratégia Nacional de Hidrogênio e uma meta ambiciosa de 25 GW de capacidade instalada de eletrólise até 2030. Projetos como Gente Grande e Hoasis anunciaram que usarão a dessalinização da água do mar em seus processos. A GWI estima que a demanda por água desmineralizada no Chile para a produção de hidrogênio verde pode ultrapassar 110.000 m3/d em 2030, se todos os projetos planejados se concretizarem.
O Brasil continua desenvolvendo sua estratégia de hidrogênio e planeja projetos em áreas portuárias industriais, como Pecém e Açu. Um projeto no Rio Grande do Sul desenvolvido pela Enterprize Energy utilizará água do mar dessalinizada. Além disso, a Cagece, empresa que fornece água potável e serviços de saneamento no Ceará, assinou um convênio com a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará para fornecer águas residuais tratadas para o processo eletrolítico.
Outros países da região, como Argentina, Colômbia, Costa Rica, Peru e Uruguai, também estão explorando iniciativas de hidrogênio verde em menor escala, usando predominantemente fontes convencionais de água no processo eletrolítico.
Dessalinização
Apesar das incertezas sobre as reformas constitucionais do Chile em 2021, que desaceleraram momentaneamente o mercado, o país continua sendo o mercado de dessalinização mais forte da região. Embora a mineração continue a ser o principal motor da demanda por dessalinização, nos últimos anos um número crescente de projetos de dessalinização para consumo humano está em andamento para combater a seca severa, em cidades como Antofagasta e Coquimbo. Em 2026 poderá haver um grande aumento da capacidade de dessalinização devido à primeira fase do projeto Águas Marítimas da CRAMSA, que envolveria a adição de 350 mil metros cúbicos por dia à atual capacidade instalada nacional.
Por sua vez, o Brasil começa a ver a dessalinização como uma solução além da industrial com o projeto de purificação da água do mar em Fortaleza. O Plano Nacional de Recursos Hídricos para 2022-40 estabelece a dessalinização como a solução preferencial no nordeste do país, o que poderia gerar mais oportunidades em projetos para consumo humano, como o projeto SWRO (dessalinização da água do mar por osmose reversa) Itaqui Bacanga, no estado do Maranhão.
No Peru, há dois projetos de dessalinização que se destacam no portfólio da Associação Público-Privadas da ProInversión: a planta de dessalinização Ilo, de 37.000 m3/d, que poderá ser adjudicada em 2025, e a planta Lambayeque, de 51.840 m3/d, que deverá ser adjudicada antes de 2027. Além disso, há quatro operações de mineração que estão considerando o uso de água do mar para suas operações, mas apenas uma delas, a planta SWRO de 20.000 m³/d para abastecer a mina de cobre de Tía María, poderia ser concedida antes de 2027.
Reúso de água
A GWI destacou que a região pode registrar um aumento considerável na capacidade de reúso a médio e longo prazo, especialmente em alguns de seus grandes mercados nacionais: Brasil, Chile, México e Peru. Isso, graças a casos de sucesso como o Aquapolo em São Paulo, que promoveram iniciativas governamentais e legislativas para regulamentar e estimular a implementação de reutilização de águas residuais.
Nesse sentido, no Plano Nacional de Recursos Hídricos para 2022-40, o reúso se estabelece como uma das soluções para o país enfrentar seus problemas de disponibilidade de água, especialmente na região Nordeste. Além disso, espera-se que a curto prazo seja aprovada uma resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) que regulará o reúso da água em nível nacional e estabelecerá padrões de qualidade da água, o que traria maior segurança ao mercado.
O Chile está ansioso pelo que pode ser o primeiro projeto de reúso de águas residuais em grande escala do país. O projeto “tratamento para o reúso e comercialização de águas residuais de Antofagasta”, licitado pela Econssa, que tem com objetivo o tratamento biológico até 77.760 m3/d de águas residuais pré-tratadas de Antofagasta, numa nova PTAR. A previsão é que o projeto inicie uma nova etapa de licitação e conceção durante este ano.
A Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, destaca que esses exemplos demonstram como tecnologias e alternativas em dessalinização, reúso de água e hidrogênio verde estão ganhando espaço e aceitação na região, graças aos casos de sucesso cada vez mais numerosos. Acrescentaram que, com o aumento dos investimentos e o foco em soluções sustentáveis, a América Latina tem potencial para se tornar líder na adoção dessas tecnologias e na luta contra às mudanças climáticas.
Fonte: ALADYR
ÚLTIMAS NOTÍCIAS: MEIO AMBIENTE: CONHEÇA OS PARQUES EM SP COM ÁREAS DE PROTEÇÃO
ÚLTIMAS NOTÍCIAS: URUGUAI: CONFIANÇA NA QUALIDADE DA ÁGUA “DESABOU”