Ambicioso projeto ambiental – Iniciativa inédita tem participação de empresários e investidores de peso, entre eles João Moreira Salles, Arminio Fraga e Fabio Barbosa
Um grupo de grandes investidores, pesquisadores renomados de biodiversidade e economistas criou uma empresa para implantar um ambicioso projeto ambiental de restauração de áreas degradadas do país. A re.green nasce com capital inicial de R$ 389 milhões e o objetivo pioneiro de restaurar 1 milhão de hectares de Mata Atlântica e floresta amazônica
Imagem ilustrativa
A iniciativa de regenerar florestas tropicais em larga escala é inédita no Brasil e talvez no mundo. Um milhão de hectares é quase metade da área do território de Sergipe e 250 vezes o Parque Nacional da Tijuca. Equivale à área de mata nativa da Suzano, uma das maiores áreas privadas protegidas do país.
“A re.green nasce da ciência, contém ciência e pretende fazer muita ciência”, diz um dos fundadores e sócios, o economista Bernardo Strassburg, referência em estudos globais sobre áreas prioritárias para restauração de ecossistemas. “Será, de longe, o maior experimento de ecologia tropical do planeta”, diz.
Para se ter uma ideia do tamanho da ambição, no compromisso climático brasileiro lançado em 2015, uma das estratégias para o país cortar em 43% suas emissões de gases-estufa em relação aos níveis de 2005 era restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030. Isso sequer começou.
A re.green levou 1,5 ano de maturação e estimulou quatro investidores de peso e próximos de agendas ambientais – BW (family office da família Moreira Salles), a gestora Lanx Capital e seu braço de private equity Principia, a Gávea Investimentos e a Dynamo.
O retorno do investimento virá com a venda, em alguns anos, de créditos de carbono premium – porque irão contemplar, ao mesmo tempo, benefícios em clima, nas comunidades e em biodiversidade- e produtos madeireiros e não-madeireiros das matas regeneradas. O plano é capturar 15 milhões de toneladas de CO2 ao ano.
O Conselho da re.green é presidido por Marcelo Medeiros (sócio fundador da Lanx e da Cambuhy) e tem entre seus membros João Moreira Salles, Fábio Barbosa (exSantander e grupo Abril, e sócio da Gávea), Arminio Fraga (Gávea), Marcelo Barbará (sócio fundador da Lanx e da Cambuhy) e Ana Luiza Squadri (sócia da Principia Capital Partners), além de Bernardo Strassburg.
A intenção dos fundadores e sócios da re.green é restaurar boa parte do passivo ambiental do Brasil fazendo com que pastagens degradadas e abandonadas, por exemplo, voltem a ser florestas. Ou estabelecer parcerias para restaurar grandes áreas em propriedades privadas e de empresas. A terceira frente é restaurar áreas em unidades de conservação. Uma das estratégias é comprar áreas e formar corredores de biodiversidade.
“Iremos planejar espacialmente para conseguir ampliar habitats de espécies nativas e, preferencialmente, perto de unidades de conservação”, diz Ricardo Rodrigues, um dos sócios da re.green.
Ele é professor titular de Ecologia da Restauração da Universidade de São Paulo e referência no campo da restauração dos trópicos, com mais de 30 mil hectares de restauração de Mata Atlântica. Fundou em Piracicaba o viveiro Bioflora, o mais simbólico de mudas nativas da Mata Atlântica com quase 30 anos.
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No caso de parcerias, a re.green entra com as mudas, as sementes e a implantação das florestas, e fica com os créditos de carbono, explica o economista Thiago Picolo, CEO da nova empresa.
“A compra de propriedades é uma possibilidade, principalmente pela questão de permanência dos projetos e dos créditos de carbono. É essencial que possamos garantir que a restauração irá perdurar para sempre”, explica Picolo que foi CEO do Hortifruti Natural da Terra, rede de varejo alimentar focada em produtos frescos e orgânicos que foi vendida em 2021 à Americanas S.A.
A escolha de áreas prioritárias a serem regeneradas é um dos diferenciais da nova empresa e área de estudos de Strassburg.
“Estamos usando a ciência para priorizar onde iremos regenerar florestas. Onde terá mais impacto para a biodiversidade, para a captura de carbono e onde será financeiramente viável”, diz ele.
Não se trata de uma escolha randômica, mas de áreas que, regeneradas, podem ter dez vezes mais impacto para o clima e a biodiversidade que outras, explica Strassburg, professor licenciado de ciência da sustentabilidade no departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-RJ.
O primeiro lugar de interesse da re.green está no Sul da Bahia, região que é hotspot de biodiversidade com grande impacto também para o sequestro de carbono. Outra região prioritária está no Pará. No caso da compra de áreas, a promessa é devolver à sociedade a terra restaurada e como unidade de conservação.
Rodrigues lembra que uma tendência atual em projetos de restauração e venda de carbono está se concentrando “em situações mais fáceis”. São áreas com potencial de regeneração natural.
“Se tivermos só esta opção iremos deixar um rastro de áreas degradadas que já não tem potencial de regeneração natural porque foram muito exauridas. A re.green não se furtou disso. É um desafio enorme”, diz ele.
No caso da venda de créditos de carbono, o ambicioso projeto ambiental da re.green é de se qualificar para a venda de créditos de remoção de carbono, que tem, em média, um preço cinco vezes maior que os de desmatamento evitado. São premium porque procuram a certificação Verra CCB (que certifica projetos com benefícios simultâneos ao clima, à comunidade e à biodiversidade.).
“São créditos de remoção de carbono, baseados na natureza e carregados de benefícios. Isso nos posiciona no topo da pirâmide do mercado”, explica Picolo.
“A economia da restauração é um ‘business case’ complexo. Exige muito investimento inicial e retorno ao longo do tempo. Tem que aguardar a floresta voltar. É um capital paciente”, diz Strassburg.
A estratégia inicial é dividir os esforços de regeneração igualmente entre os dois biomas florestais.
“A beleza deste projeto também é o fato que gera toda uma cadeia de restauração, com impacto social na geração de empregos de coletores de sementes e nos viveiros de mudas”, diz Rodrigues.
Fonte: Valor Econômico