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Projeto do NAP-Mineração visa recuperar mercúrio e ouro de rejeitos

O projeto realizou testes bem-sucedidos com uma placa desenvolvida pela startup brasileira GoldTech que, usa o processo de eletrodeposição


Descontaminar os rejeitos de ouro que contêm mercúrio e ainda recuperar o ouro residual contido nesses rejeitos, transformando o passivo ambiental em ativo financeiro. Este é o objetivo de um projeto desenvolvido pelo NAP-Mineração, da USP. O projeto, coordenado pelo pesquisador Oswaldo Nico, realizou testes bem-sucedidos. Realizaram-se os testes com uma placa desenvolvida pela startup brasileira GoldTech. Ela então utilizou o processo de eletrodeposição, permitindo quebrar a tensão superficial do mercúrio contido numa polpa de rejeitos. Assim possibilita com que o metal fique aderido à placa. O lado bom é que, além do mercúrio, a tecnologia consegue recuperar o ouro residual contido nos rejeitos.

Resultados muito interessantes

Segundo Oswaldo Nico, avaliou-se a tecnologia com rejeitos em áreas de cooperativas de garimpeiros (Coogavepe, Cooperpoconé) em Mato Grosso e em áreas controladas pela empresa Goldmine, no Pará, com resultados considerados muito interessantes. O próximo passo será a montagem de uma planta piloto, para testar a escalabilidade da tecnologia e para tal o NAP-Mineração está buscando um investidor privado, que possa integrar um projeto no modelo Embrapii, que pressupõe a participação de uma instituição de pesquisa, um investidor privado (que banca 50% do investimento) e o desenvolvedor da tecnologia.

“O processo é muito interessante, porque além de recuperar o mercúrio recupera também o ouro que fica no amálgama junto com o mercúrio. É uma tecnologia que pode recuperar os passivos ambientais. O rejeito do ouro que já foi trabalhado, que está contaminado por mercúrio, através do processo pode ser limpo e, além disso, ao recuperar o ouro pode transformar esse passivo ambiental em ativo financeiro”, diz Oswaldo Nico, acrescentando que o NAP-Mineração já realizou trabalhos de levantamento de passivos ambientais em cooperativas de garimpeiros e que há muito rejeito a ser trabalhado. “Nós fizemos a cubagem, trabalhos de sondagem, colocamos no software de mineração e verificamos a atratividade econômica desses passivos. Com a tecnologia, esse passivo vira reserva estratégica”.

Ao se efetuar a caracterização tecnológica do depósito, pode-se fazer uma concentração do material e direcionar para esse tipo de tratamento, com grande potencial de sucesso, segundo o pesquisador.

Recuperação do Ouro

Ele explica que, para possibilitar o processamento do rejeito na placa, objetivando a recuperação do mercúrio, precisa-se formar uma polpa que vai passar sobre a placa que irá aderir o mercúrio. Assim, recupera-se também o ouro que eventualmente esteja no rejeito.

Oswaldo Nico ressalva, no entanto, que deve-se considerar o processo uma “bala de prata”, que eliminará todo o problema do mercúrio em garimpos. Mas, é uma solução.

“Temos que entender o garimpo regionalmente, entender a geologia, o tipo de minério, o tipo de operação que se está trabalhando, entender como é a cultura social do lugar, o aspecto social daquela região, para poder propor uma solução. Mas o que detectamos é que, sim, existe uma solução. O principal foco é fazer a recuperação desses passivos, transformá-los numa possibilidade de que o ouro retido naquele mercúrio também possa pagar o processo. Claro que depende do potencial econômico do passivo ambiental, mas existe a possibilidade, sim. Isso que é interessante: conseguimos cubar o passivo e optar ou não pelo investimento no uso da tecnologia”.

O pesquisador explica que, no projeto do Nap-Mineração, foi acompanhado todo o processo do garimpo, desde o bateamento até a amalgamação e a queima. “E quando fizemos o balanço de massa do mercúrio, vemos que recuperamos mais de 100%, porque se está recuperando o material que já foi lavrado e que continha mercúrio. Os dados são bastante interessantes e promissores”, diz.

Ele explica que o primeiro objetivo do projeto é, primeiramente, a redução da utilização do mercúrio e, depois, a sua substituição.

“Entendemos o seguinte: se conseguirmos aplicar a engenharia, estudar o minério, extraí-lo da melhor forma e obter concentrados, fazer uma concentração eficiente, já vai reduzir demais a utilização do mercúrio, porque se vai ter um concentrado e o mercúrio pontualmente. E usando-se esse mercúrio pontualmente, com o uso de retortas eficientes, capelas, se recupera mais de 95% do mercúrio. Portanto, se o garimpo for bem feito, já se reduz bastante a emissão de mercúrio”, conclui. (Por Francisco Alves)

Fonte: Brasil mineral


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