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Como Joinville pode ajudar o Brasil na exploração de minérios das terras raras

Como Joinville pode ajudar o Brasil na exploração de minérios das terras raras

Cidade de SC é referência na América Latina em um dos processos do projeto pioneiro no país

Um projeto pioneiro no Brasil sobre as terras raras conta com o apoio de Joinville, maior cidade de Santa Catarina. A combinação exata de 17 minérios na natureza tem se tornado cada vez mais cobiçada no mundo todo entre as indústrias de tecnologia. A cidade catarinense é referência na manufatura aditiva metálica, uma das fases mais importantes da fabricação de ímãs permanentes.

As terras raras são uma combinação entre 17 elementos químicos encontrados na natureza, geralmente misturados a outros minérios e de difícil extração. Apesar do nome, não são necessariamente raros, mas difíceis de isolar em alta pureza, por estarem misturados a outros minérios, o que torna o processo caro e complexo.

Esses materiais, principalmente o neodímio ferro boro, são utilizados para a fabricação de ímãs permanentes, extremamente essenciais na fabricação de motores de carros elétricos, mísseis, dispositivos eletrônicos, turbinas eólicas, equipamentos médicos e outros aparelhos da indústria.

No mundo todo, a China é o país com a maior concentração de terras raras em seu território, com cerca de 40% da reserva mundial. Logo em seguida vem o Brasil, com aproximadamente 20%. Ao contrário do país asiático, o Brasil não detém a tecnologia de exploração, conforme explica Luís Gonzaga Trabasso, pesquisador chefe do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas de Manufatura e Processamento a Laser de Santa Catarina.

— Esse assunto de terras raras estava um pouco dormente. Mas agora, em função de todo esse contexto geopolítico, ele ganhou uma importância fundamental — destaca.

Com o objetivo de buscar essa independência tecnológica, o MagBras é um projeto pioneiro que visa à consolidação de uma cadeia produtiva nacional de ímãs permanentes à base de terras raras. Com investimento de R$ 73 milhões, o projeto foi lançado em julho deste ano e está em estágio inicial.

Todas as ações do MagBras acontecem em Lagoa Santa (MG), a cerca de 27 quilômetros da capital Belo Horizonte, no laboratório fábrica do Instituto Senai de Inovação de Processamento Mineral.

Qual é o papel da maior cidade de SC no projeto pioneiro
Joinville, no Norte de Santa Catarina, é referência na América Latina no setor de manufatura aditiva metálica, um processo de fabricação que constrói objetos tridimensionais camada por camada a partir de um modelo digital, como uma impressão 3D de metais.

— Existem algumas aplicações que a geometria do ímã (permanente) não é um quadrado, uma circunferência ou um retângulo, ou seja, essas formas padrão. Ela requer uma geometria específica para acomodar num determinado motor (…) [e isso] nós é que vamos fazer aqui [em Joinville]. Mas assim, de uma forma experimental, nunca vamos trabalhar em termos de escala, não vendemos essas coisas. A gente define o processo para que outras empresas tenham interesse e vejam nisso uma oportunidade de negócio — destaca.

Assim, após passarem de minérios a metais, o processo dá continuidade à fabricação dos ímãs em moldes específicos para posterior aplicação na indústria.

Empresas do Norte catarinense no projeto
Durante a execução do MagBras, grandes empresas de Joinville e Jaraguá do Sul apoiam o trabalho de pesquisa, como Weg, Tupy e Schulz. Ao longo do processo, as indústrias fornecem dados importantes sobre os ímãs que serão fabricados de forma inédita, principalmente em relação a porcentagem dos metais que constituem a peça.

— Essas porcentagens vão implicar, no final, a condição de maior ou menor campo magnético desse ímã. Então, dependendo da aplicação, por exemplo, a Weg vai usar isso para motores elétricos e ímãs para gerar e fazer parte do motor elétrico. Então, ela vai definir junto conosco qual é a grade do ímã mais adequada para aquela aplicação. Se ela for usada para a parte de geradores eólicos, é uma outra configuração do ímã que é mais adequada para geradores eólicos — explica Luís.

Segundo o coordenador, a demanda atual do Brasil é de 10 mil toneladas de ímãs permanentes por ano, que são importados da China. A base de Lagoa Santa tem capacidade para a produção de 100 toneladas por ano.

— Nós não vamos e, como instituto de pesquisas, nem é nosso escopo prover toda a demanda aqui do Brasil. Então, o que a gente espera é que as empresas, algumas dessas que estão participando do projeto ou mesmo outras empresas, não precisam nem ser empresas brasileiras, mas que façam aqui a sua fábrica, que elas, olhando para esse projeto, tenham uma referência para dizer: “Ah, é assim que são essas etapas necessárias para produção de ímã” — fala sobre a expectativa em relação às indústrias a partir do projeto.

Importância da aliança das empresas e institutos no MagBras
A contribuição de vários estados brasileiros no projeto pioneiro, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina, é uma necessidade para que o ciclo de produção se complete, da “mina ao ímã”, como defende Trabasso. Enquanto alguns estados contam com as reservas de terras raras, outros são especialistas em cada etapa da produção com a tecnologia necessária.

— Nós precisamos passar por todas essas etapas que em cada lugar com a sua competência tem a sua contribuição respectiva — ressalta.

Brasil no centro da discussão no cenário das terras raras

Com o projeto pioneiro, o Brasil foi o país selecionado para sediar o maior congresso de terras raras e ímãs permanentes do mundo em 2027, a International Workshop on Rare Earth and Future Permanent Magnets and Their Applications (REPM). A decisão foi oficializada na última edição do evento, que aconteceu na última semana de julho. Além do Brasil, os Estados Unidos também concorria pela escolha.

Fonte: NSC TOTAL


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