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Grandes passos para a mudança climática. A sua empresa consegue bancar?

Por Aileen Ionescu-Somers, diretora suplente do “Corporate Sustainability Management” da escola de negócios suiça – IMD e Tania Braga, pesquisadora associada.

A segunda metade de 2009 será crucial, pois o mundo se prepara para enfrentar duas crises simultâneas: a econômica e a ameaça crítica do aquecimento global.

Alguns líderes de negócios estão se perguntando se conseguem lidar com o preço do aquecimento global em meio a essa severa crise econômica, enquanto outros argumentam que ambas as crises podem, e devem, ser enfrentadas juntas, de maneira construtiva.

Em maio de 2009, líderes de negócios se reuniram em Copenhagen e pleitearam por um acordo referente às mudanças climáticas, alegando que medidas drásticas “eliminariam incertezas, desencadeariam investimentos e auxiliariam os atuais esforços de retomar o crescimento de forma sustentável”[1].

Lord Nicholas Stern[2] e o vencedor do Prêmio Nobel Paul Krugman[3], economistas renomados, entendem que uma guinada brusca em direção a uma economia de “pouco carbono” criaria a maior oportunidade tecnológica da nossa era, comparável aos avanços e inovações da eletricidade e da informática.

Porém, mesmo se a economia mundial se beneficiasse com uma enorme ação focada nas mudanças climáticas, será que o seu negócio conseguiria tomar, e arcar, com os eventuais “grandes passos”?

O Forum for Corporate Sustainability Management (CSM) – Fórum para o Gerenciamento da Sustentabilidade Corporativa – no IMD, após um levantamento empírico de como as corporações têm lidado com a sustentabilidade, incluindo a mudança climática, aponta que o que de fato ocorre é uma abordagem conservadora mesmo a esse assunto tão urgente. As corporações ainda estão muito distantes de darem os “grandes passos”.

Em abril de 2009, a CSM/IMD abriu espaço aos participantes corporativos durante o fórum para discussões referentes ao desafio da mudança climática. As seguintes questões e definições surgiram deste encontro.

1. Como colocar em prática os “grandes passos” para amenizar o aquecimento global? Como as empresas podem realizar estratégias mais agressivas no longo prazo e ainda manter resultados positivos no curto prazo, mesmo no atual momento de incertezas?

– Para dar grandes passos, é preciso que a mudança climática deixe de ser considerada uma responsabilidade corporativa e passe a ser uma verdadeira questão de negócios. Um pré-requisito para isto ocorrer é colocar em primeiro plano questões econômicas de sustentabilidade, como a mudança climática, no modelo de negócios corporativo.

– Uma ação enérgica à mudança climática requer uma estratégia corporativa fixa, em toda cadeia de valor, do início ao fim. Porém, há flexibilidade e espaço, acordado entre membros da administração, para melhorias de conhecimento e ações a serem tomadas nesta cadeia.

– A alta do preço do petróleo é vista como uma força propulsora para a inovação. Ademais, reduzir custos de inovação através de avanços em conhecimento e inteligência coletiva também pode ser uma arma poderosa.

– Estabelecer a mudança climática como um valor empresarial pode ser uma estratégia para acelerar as ações, mas é apenas o primeiro passo. Os valores têm de ser mensuráveis, integrados às recompensas e avaliações de desempenho e alinhados ao modelo administrativo para poderem, efetivamente, despertar ação e alterar mentalidades.

2. Qual tem sido o impacto da crise financeira na estratégia corporativa da mudança climática?

– Por um lado, a crise financeira revelou as limitações de um foco a curto prazo; portanto criando, em alguns setores, uma consciência mais aguçada da importância de enfrentar riscos ainda em fase inicial. Se isso levará as empresas a postergarem suas ações a longo prazo, como as necessárias para enfrentar a mudança climática, ainda não sabemos. Por outro lado, está claro que as empresas não dispõem de tempo ou dinheiro para uma estratégia de aquecimento global quando seus negócios core estão instáveis.

– Os impactos negativos da crise, tais como escassez de recursos para pesquisas e para empresas de tecnologia ‘limpa’, já estão se manifestando. Porém, é importante notar que fundos de investimento sustentáveis estão em melhor situação que os fundos convencionais.

3. Quais são os principais passos que as organizações podem dar para garantir que iniciativas a longo prazo relacionadas ao clima seguirão, mesmo num contexto de negócios cada vez mais incerto?

– Tenha certeza de que a estratégia de mudança climática da empresa esteja bem definida e direcionada.

– Construa pontes entre expectativas e implementações.

– Garanta recursos (de funcionários ou financeiros) suficientes e focados, desde o início.

– Transforme objetivos a longo prazo em objetivos a curto/médio prazo.

– Equilibre objetivos a longo prazo com resultados a curto prazo. Gere lucro (mesmo mínimo) ou reduza custos no início da implementação.

– Envolva acionistas relevantes.

4. É difícil prever o que acontecerá na Conferência da ONU sobre Mudança Climática, em Copenhagen, em dezembro, mas, no momento, entendemos que haverá uma maior regulamentação às empresas, e seus conseqüentes custos. As corporações já aceitaram que não poderão influenciar quaisquer decisões que serão tomadas. Então, é uma questão de “esperar pra ver”? Como as empresas podem se preparar para as inevitáveis regulamentações quando ninguém sabe ao certo o que virá? Aqui estão algumas idéias provenientes do fórum CSM:

– Foque nas certezas do longo prazo – regulamentação mais acentuada, “comercialização” do carbono, evidência científica da aceleração da mudança climática – ao invés das incertezas do curto prazo, ex. as características específicas da regulamentação por vir.

– Internamente, nas empresas, aproveite o ímpeto que já está criado e envolva todos os gerentes da organização.

– Prepare-se para a eventualidade de regulamentações mais acirradas e envolva sua equipe financeira no planejamento.

– Elabore estratégias. A mudança climática tem de ser uma das prioridades do CEO.

– Vá além da concordância. Não vale a pena esperar. Reduza os riscos ao reduzir sua “marca deixada” de carbono e desvincule sua empresa do “greenwashing” (práticas enganadoras de empresas, sob o pretexto de que estão beneficiando o meio ambiente), desde o início.

– Busque colaborar com entidades externas. Se estiver fazendo um bom trabalho, comunique isto em parceria com outros acionistas. Isto ampliará sua mensagem.

– Não aceite as regulamentações como uma obrigação externa, e sim tente participar e contribuir com o processo todo. Uma declaração unânime dos CEOs, por exemplo, poderá fazer muita diferença. Mesmo se sua empresa não puder influenciar as decisões, pelo menos você terá acesso a informações privilegiadas e incorporará esse conhecimento à sua agenda estratégica.

Estes e outros desafios de liderança global estão sendo discutidos nos programas Business Performance e Orchestrating Winning Performance, no IMD.

[1] Extraído do “The Copenhagen Call”, lançado por líderes de negócios globais no encerramento do World Business Summit on Climate Change, 26 de maio de 1999.

[2] Lord Nicholas Stern era Economista Chefe e Vice-Presidente Sênior do Banco Mundial e segundo secretário permanente da UK Treasury. Ele elaborou resenhas para o governo Britânico sobre os efeitos econômicos da mudança climática, conhecido como o Stern Report.

[3] Prêmio Nobel de economia de 2008.

FONTE: http://www.revistasustentabilidade.com.br

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