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Descarte da água de rejeito gerada pela osmose reversa em uma clínica de hemodiálise no município de Salvador-BA

Resumo

O principal tratamento à Doença Renal Crônica no Brasil é a hemodiálise, para a qual é necessária a utilização de água purificada, os pacientes em tratamento de hemodiálise são submetidos a tratamento semanal de 3 sessões com duração média de quatro horas, e para cada sessão é necessário um volume de aproximadamente 120 litros de água. Na obtenção da água tratada com o uso do equipamento de osmose reversa, em média 1/3 da água que entra no sistema é descartada como solução salina (água de rejeito). O reaproveitamento do concentrado gerado pelo tratamento da osmose reversa nas clínicas de diálise podem favorecer uma economia financeira significativa, todavia, mais relevante que a economia financeira, pode representar a economia no gasto dos recursos naturais. Diante disto, este trabalho busca estudar o volume e o destino dado a água de rejeito – também chamada de concentrado, gerada durante o tratamento de água para hemodiálise por osmose reversa, em um centro de diálise dentro de uma instituição hospitalar no município de Salvador- BA. O presente trata-se de estudo de caso do tipo descritivo, com abordagem quantitativa de natureza aplicada, do tipo observacional não participante, com o objetivo de descrever e caracterizar informações coletadas referentes ao número de pacientes dialisados em uma clínica, avaliar qual o volume de água de rejeito é produzida por cada tratamento e descrever a técnica utilizada para descarte desta água. Após investigado e contabilizado o volume total da água de rejeito, gerada pela Osmose Reversa, foi identificado que não há o reaproveitamento da água de rejeito, produto final do processo da osmose reversa da clínica em questão, como produto do trabalho, atendendo a um dos objetivos do estudo, foi elaborada uma proposta em formato de Nota Técnica direcionada a DIVISA (Divisão da Vigilância Sanitária), a Nota Técnica proposta como resultado desse trabalho visa trazer a luz e conscientizar sobre a necessidade do reaproveitamento da água rejeito nas clínicas.

Introdução

A Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) divulgou no Censo 2017, sobre o cenário do tratamento de diálise no país. De acordo com a pesquisa feita com informações de uma amostra de 291 unidades de Terapia Renal Substitutiva (TRS), o total atual estimado de pacientes em tratamento dialítico é de 126.583. A cada ano entram em programa de TRS cerca e 35 mil novos pacientes. Cerca de seis mil são transplantados. Infelizmente, a taxa de mortalidade é elevada, e se mantém constante nessa população devido à concomitância de complicações cardiovasculares. Atualmente, a SBN tem cerca de 840 clínicas de diálise cadastradas, sendo 758 clínicas ativas com programa de terapia renal substitutiva crônica (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2018).

O principal tratamento à Doença Renal Crônica (DCR) no Brasil, segundo o Censo Brasileiro de Nefrologia de 2017, é a hemodiálise, para a qual é necessária a utilização de água purificada que deve ser instituída em conformidade com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), com os padrões internacionais da organização Food and Drugs Adminstration (FDA) e da Association for Advancement of Medicine Instrumentation (AAMI). Para atender aos parâmetros estabelecidos, utiliza-se o processo de purificação por osmose reversa, onde ocorre a separação do afluente através da membrana semipermeável, restando de um lado a água purificada e do outro lado o concentrado (SOCIEDADE BRASILEIRA DE NEFROLOGIA, 2018).

A técnica de hemodiálise (HD) consiste em um tratamento para pacientes com problemas renais, que realiza a retirada de substâncias tóxicas do organismo e regula o equilíbrio hidroeletrolítico, este processo ocorre através da passagem do sangue por dentro de fibras chamadas de capilares contidas dentro de um filtro, são banhadas por um líquido composto por 49 ml da solução básica, 27 ml da solução ácida e 924 ml de água, no momento da diálise chamado de dialisato (JESUS; ALMEIDA, 2016).

Considerando que mais de um milhão de pacientes estão sendo tratados com HD em todo o mundo, ao multiplicar esse número pela média de 144 sessões de diálise por ano (uma média de diálise de três vezes por semana), chegamos aproximadamente a 150 milhões de sessões de HD por ano. Esta estimativa torna-se ainda mais alarmante ao considerarmos que, a estimativa de pacientes em HD para o ano de 2025 é de cerca de dois milhões em todo o mundo. Tais números representam desafios altamente relevantes, não só para os orçamentos de saúde, mas também para a sustentabilidade do planeta, devido à grande necessidade de água, energia e, não menos importante, para a questão da produção de resíduos (PICOLLI et al., 2005).

Os pacientes em HD, são submetidos a tratamento semanal de 3 sessões com duração média de quatro horas, e para cada sessão é necessário um volume de aproximadamente 120 litros de água (JESUS; ALMEIDA, 2016). A água é necessária para preparar dialisato, limpar e reprocessar máquinas e membranas, antes da sua utilização em HD, a água deve ser tratada para remover partículas, reduzir a dureza e íons orgânicos (TARRAS; BENJELLOUN, 2010).

A água utilizada na HD deve ser receber tratamento específico, isso porque, deve-se eliminar a possibilidade de transmissão de todo e qualquer tipo de contaminantes e substâncias indesejáveis que possam afetar o estado de saúde dos pacientes. Para tal, o Ministério da Saúde através da Portaria no 83 de 03 de janeiro de 2000, tornou obrigatório o uso de um processo de tratamento da água nos estabelecimentos de TRS denominado osmose reversa. Processo pelo qual a água pura pode ser retirada de uma solução salina, através da diferença de pressão osmótica, por intermédio de uma membrana semipermeável (BRASIL, 2000; ELZESSER, 2014).

Na obtenção da água tratada com o uso do equipamento de osmose reversa, em média 1/3 da água que entra no sistema é descartada como solução salina (água de rejeito), sendo que esta relação pode variar de acordo com o sistema instalado. De acordo com a Portaria no 82, a água de rejeito não pode ser considerada potável, mas também não dever ser considerada água contaminada, com destinação ao esgoto (ARAÚJO, 2002; BRASIL, 2000).

O reaproveitamento do concentrado gerado pelo tratamento da osmose reversa nas clínicas de diálise podem favorecer uma economia financeira significativa, todavia, mais relevante que a economia financeira, pode representar a economia no gasto dos recursos naturais. O que já é uma preocupação da Organização das Nações Unidas, estimam que um terço da população mundial não tem acesso a água potável, a organização aponta como causas do problema a má distribuição da água e o desperdício. Com vistas a modificar este cenário, a ONU traçou objetivos para que até 2030 possamos mudar nosso comportamento e viver em harmonia com a natureza, causando o mínimo possível de danos ao planeta.

Agenda 2030 da ONU, que estabelece dezessete objetivos para a transformação do mundo, sendo que o objetivo 6, visa assegurar todos os dispositivos de sustentabilidade, como o uso consciente e gestão dos recursos hídricos de modo a incluir coleta de água, utilização de processos de dessalinização, tratamento de afluentes e aplicação de tecnologias diversas que tenham como objetivo o reuso e o uso eficiente deste recurso (ONU BR, 2015).

É de fundamental importância reavaliar a utilização da água nos diversos setores da nossa sociedade, com o objetivo de reduzir o máximo de desperdício, adotando práticas de reaproveitamento desse recurso, sempre que possível. Diante disto, este trabalho busca estudar o volume e o destino dado a água de rejeito – também chamada de concentrado, gerada durante o tratamento de água para hemodiálise por osmose reversa, em um centro de diálise dentro de uma instituição hospitalar no município de Salvador- BA.

Autora: Juciene Martins dos Santos.

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