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Biometano: como lixo pode se tornar a energia do futuro

No esforço para trocar a matriz energética por alternativas mais limpas, o biometano vem se firmando entre as opções mais interessantes.

Gás renovável produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos, como os lixões nos aterros ou o bagaço de cana em usinas de açúcar, esse combustível pode ser usado para abastecer fábricas e descarbonizar frotas de transporte, por exemplo.

“O biogás, produzido a partir da digestão anaeróbia da fração orgânica dos resíduos, será purificado para remoção do gás carbônico e de contaminantes, para que a composição do biometano tenha um teor elevado de metano, acima de 96 %”, explica, sobre a produção do biometano, a engenheira florestal Ana Paula Silva, pesquisadora Laboratório de Bioenergia e Eficiência Energética do IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológicas) de São Paulo.

Esse alto teor de metano faz dele um bom substituto para o gás natural, sem emitir a mesma quantidade de GEE (gases de efeito estufa).

Marcel Jorand, CEO da Gás Verde, explica que, além dos benefícios ambientais, o biometano traz vantagens econômicas: por ser produzido em território nacional, seu valor não varia com o câmbio do dólar, nem com o preço do petróleo. A previsibilidade de fornecimento também é um ponto a favor do biocombustível.

“O biometano [também] é uma solução para o passivo ambiental das cidades, pois dá tratamento adequado ao lixo urbano”, completa Jorand.

A Gás Verde produz biometano a partir de resíduos de aterros sanitários. Mas é possível, ainda, produzir o gás a partir de rejeitos de abatedouros e dejetos animais, esgoto e efluentes agroindustriais, como os de usinas de açúcar e de álcool. Isso pode transformar “um problema ambiental em solução energética”, reforça Silva.

Descarbonização e economia

Empresas de setores diversos, como a L’Oréal (beleza e cosméticos), Nestlé (alimentos) e a STIHL (ferramentas e maquinário), estão adotando essa alternativa como parte de seus planos de descarbonização e também como uma estratégia de economia a médio e a longo prazo.

O Grupo L’Oréal, por exemplo, utiliza o biometano para abastecer sua frota, descarbonizando sua logística. A previsão é que, até o final de 2025, as entregas feitas em cinco Estados (São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul) sejam feitas com menor emissão de carbono. “Nosso objetivo é que 60% dos itens vendidos sejam transportados a biometano até 2030”, afirma Juliana Fleming, diretora de Operações do Grupo no Brasil. Atualmente, 100% do transporte de produtos entre a fábrica e o centro de distribuição já é feito com o biocombustível.

No caso da Nestlé, o biometano abastece a produção de lácteos (creme de leite e leite em pó) e chocolates (KitKat e Especialidades) em Araçatuba e Caçapava, ambas cidades no interior de São Paulo. Ainda que o uso seja o mesmo, o biometano tem matérias-primas diferentes: resíduos de cana-de-açúcar e material de aterros sanitários, respectivamente.

“Essa matriz permite avançar rapidamente na descarbonização das operações industriais, sem comprometer a produtividade nem exigir grandes mudanças na infraestrutura”, diz Donir Costa, diretor de Engenharia da Nestlé.

Para a STIHL, ferramentas motorizadas portáteis, o processo de implantação vem exigindo um trabalho coordenado de diversos setores, da engenharia civil a ajustes contratuais e operacionais.

“O gás será transportado em caminhões dedicados e armazenado em uma unidade construída dentro da nossa planta”, explica Rafael Szabo, gerente de Infraestrutura e Facilities da STIHL. “Foi uma decisão de longo prazo, que envolveu planejamento técnico e financeiro.” A previsão é de que, até o final do ano, a fábrica em São Leopoldo esteja operando com o biocombustível. O projeto se vale da proximidade com o aterro municipal.

“O biometano tem um potencial enorme no Brasil, e ver essa transformação acontecendo na prática é muito motivador”, acrescenta Fleming, da L’Oréal. “Quando uma empresa aposta no biometano, impacta toda uma cadeia, desde o produtor de energia até o transportador. É uma iniciativa que une sustentabilidade, inovação e colaboração. E inspira outras empresas a seguirem o mesmo caminho”, completa.

Fonte: Ecoa


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