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Estimativa de esgoto e modelagem da autodepuração dos efluentes domésticos lançados no rio doce na cidade de Baixo Guandu, ES

Resumo

A expansão da urbanização e a industrialização, consequências da Revolução Industrial, aumentaram progressivamente as pressões sobre os recursos hídricos, tanto em termos de demanda quanto de degradação. O esgoto doméstico da Cidade de Baixo Guandu é lançado diretamente no rio sem nenhum prévio tratamento. Este trabalho tem como objetivo estimar a quantidade de esgoto lançado no rio e avaliar o processo de autodepuração após o lançamento do efluente. Para execução desse trabalho foi feito um levantamento de dados no Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Baixo Guandu do consumo de água do município dos anos de 2010 até 2015 e modelos matemáticos citados na literatura. Notou-se que a depleção da concentração de OD e o aumento da DBO após o lançamento do efluente doméstico não é tão significativo, devido ao rio possuir vazão suficiente para diluir o esgoto nele lançado. Apesar do intenso despejo de efluentes lançados “in natura” no Rio Doce, o mesmo ainda apresenta uma boa qualidade em suas águas com base nos valores de OD e DBO. Por meio do modelo de Streeter e Phelps, verificou-se que não há um significativo impacto ambiental no Rio Doce causado pelo lançamento de matéria orgânica proveniente de efluentes domésticos de Baixo Guandu em relação ao oxigênio dissolvido.

Introdução

A expansão da urbanização e a industrialização, consequências da Revolução Industrial, aumentaram progressivamente as pressões sobre os recursos hídricos, tanto em termos de demanda quanto de degradação (TUNDISI, 2008). A alteração da qualidade da água agrava o problema da escassez desse recurso, já que apesar de abundante, sua distribuição se dá de forma irregular no planeta, além disso, outro problema a ser considerado é o das doenças de veiculação hídrica, responsável por 25 milhões de mortes por ano no mundo segundo a Organização Mundial de Saúde (BRAGA et al., 2002).

Existem padrões de exigências de qualidade da água tanto para consumo humano, quanto para outras áreas, como recreação, agricultura, indústria, entre outros. A alteração dos parâmetros de qualidade pode ser diversa, dentre os quais se destacam os sedimentos, nutrientes, temperaturas, níveis de oxigênio dissolvidos, pH e ocorrência de produtos naturais ou sintéticos que podem causar danos ao meio ambiente, à vida aquática e os animais, além das pessoas que dependem do recurso hídrico (BITTERNCOURT e PAULA, 2014).

Quando o esgoto sanitário, coletado nas redes, é lançado “in natura” nos corpos d’água, isto é, sem receber prévio tratamento, dependendo da relação entre as vazões do esgoto lançado e do corpo receptor, pode-se esperar, na maioria das vezes, sérios prejuízos na qualidade dessa água. Além do aspecto visual desagradável, afeta a sobrevivência dos seres de vida aquática; exalação de gases malcheirosos e possibilidade de contaminação de animais e seres humanos pelo consumo ou contato com essa água (NUVOLARI et al, 2011).

Segundo Von Sperling (1996) a introdução de matéria orgânica em um corpo d’agua resulta indiretamente no consumo de oxigênio dissolvido e tem sido utilizado tradicionalmente para a determinação do grau de poluição e de autodepuração em cursos d’água. A sua medição é simples e o seu teor pode ser expresso em concentrações quantificáveis e passíveis de modelagem matemática. A repercussão mais nociva da poluição de um corpo de água é a queda do oxigênio dissolvido, causado pela respiração dos microrganismos envolvidos na depuração de esgotos. Ao decréscimo do oxigênio dissolvido na massa líquida dá-se o nome de depleção do oxigênio.

Nuvolari et al (2011), caracteriza o esgoto, quando não contém resíduos industriais, com a seguinte composição: 99,87% de água; 0,04% de sólidos sedimentáveis; 0,02% de sólidos não sedimentáveis; e 0,07% de substâncias dissolvidas. Nesses sólidos proliferam microrganismos, podendo ocorrer organismos patogênicos, dependendo da saúde da população contribuinte. Esses micro-organismos são oriundos das fezes humanas. Cerca de 75% desses sólidos são constituídos de matéria orgânica em processo de decomposição.

A DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) é o parâmetro tradicionalmente mais utilizado. Os microrganismos decompositores de matéria orgânica são responsáveis pela redução do oxigênio dissolvido na água. A DBO retrata de uma forma indireta, o teor de matéria orgânica nos esgotos ou no corpo d’água, sendo, portanto, uma indicação do potencial do consumo do oxigênio dissolvido e é um parâmetro de fundamental importância na caracterização do grau de poluição (VON SPERLING, 1996).

O crescimento populacional, além de aumentar a demanda por recursos hídricos, também gera um aumento na produção de efluentes domésticos e, como resultado, na degradação da água dos rios que recebem esses efluentes quando não são devidamente tratados (SOUZA e SEMENSATTO, 2015). O lançamento desses efluentes em corpos hídricos pode proporcionar grande decréscimo na concentração de oxigênio dissolvido no meio, cuja magnitude depende da concentração de carga orgânica e da quantidade lançada, além da vazão do curso d’água receptor (MATOS, 2003).

De acordo com Salla et al. (2013), a utilização de um modelo matemático de qualidade da água permite avaliar os impactos do lançamento das cargas poluidoras e analisar cenários de intervenção e medidas de controle ambiental. Na história, esses modelos vêm sendo utilizados desde o desenvolvimento do modelo clássico de Streeter e Phelps (1925), criado para o Rio Ohio, tornando-se um marco na história da engenharia sanitária e ambiental.

O esgoto doméstico da Cidade de Baixo Guandu é lançado diretamente no rio sem nenhum prévio tratamento. Isto faz com que as águas receptoras se tornem impróprias a vários tipos de uso (abastecimento doméstico, comercial ou agrícola e recreação (THEBALDI, et al., 2011). O interesse nesse estudo é para com a cidade de Colatina, que fica localizada aproximadamente 45 quilômetros rio abaixo da cidade de Baixo Guandu, devido ao seu abastecimento de água depender totalmente do Rio Doce. Este trabalho poderá avaliar se o esgoto lançado em Baixo Guandu é auto depurado ou se o mesmo chega às bombas de captação de água de Colatina.
Este trabalho tem como objetivo efetuar um levantamento de dados em busca do volume de água mensal consumido do município de Baixo Guandu, ES, nos últimos anos e da população urbana nos últimos censos para estimar a quantidade de esgoto sanitário urbano lançado diretamente no rio e simular matematicamente a capacidade de autodepuração do Rio Doce após o lançamento dos efluentes.

Autores: Edilson Sarter Braum; Gemael Barbosa Lima e Wanderson de Paula Pinto.

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