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Análise de viabilidade técnico-econômica para redução de odores: biorremediação e controlador de odores x aeração

Resumo

Dentre os impactos sociais causados por Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs), a geração de odores é um dos que mais incomodam a vizinhança. E esses incômodos não são somente psicológicos, pois, conforme a concentração no ar, os gases podem causar danos à saúde do ser humano. Existem diversas tecnologias para a minimização de odores e variados custos de implantação e operação. Desta forma, este trabalho tem como objetivo realizar o levantamento dos custos de implantação e operação de cada umas dessas tecnologias, comparar tais custos em um recorte temporal de dezoito meses, além de observar o comportamento do parâmetro sulfetos no efluente, após a substituição da tecnologia de biorremediação associada a controlador de odores por aeração superficial. A metodologia adotada para a análise e comparação de viabilidade econômica é a de Fluxo de Caixa Incremental que consiste na diferença entre dois Fluxos de Caixas antes do projeto (biorremediação + controladores de odor) e depois da implantação do novo projeto (aeração superficial), fundamentando a tomada de decisão em todos os custos adicionais que o novo projeto possa trazer em comparação com a configuração existente anteriormente. Assim, foram elaboradas duas Demonstrações de Resultado do Exercício pelo período de 18 meses e efetuados os cálculos dos fluxos de caixa das duas tecnologias e o fluxo incremental. Todos os dados foram fornecidos pela empresa de saneamento que opera a estação e englobaram os custos de aquisição do produto utilizado na biorremediação e do controlador de odores mensalmente, assim como os custos operacionais e energéticos e impostos. Para a aeração superficial foram considerados os custos da aquisição dos equipamentos, adequações para fornecimento de energia, mão de obra e montagem, custo energético operacional, além dos impostos e depreciação do patrimônio. Embora a aeração represente um alto investimento inicial, o custo mensal é menor do que a biorremediação e controladores de odores a partir do 11º mês. Conclui-se a partir deste estudo que análises de viabilidade econômica devem ser simuladas durante a avaliação e escolha das tecnologias a serem adotadas para gestão dos odores considerando todos os custos envolvidos desde a implantação até a operação e manutenção das tecnologias. No estudo proposto a aeração superficial se apresentou mais vantajosa que a biorremediação + controladores de odor, porém deve ser feita sempre uma análise criteriosa de toda a configuração do sistema, pois pode ocorrer casos em que a vantajosidade apresentada neste estudo não seja a mesma numa outra configuração do sistema com a utilização das mesmas tecnologias.

Introdução

A geração de odores é um dos impactos ambientais que causam mais incômodos à população vizinha de Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs). Mesmo com o aspecto positivo com relação à melhoria da qualidade de vida para a população beneficiada pelo sistema coletivo de tratamento de esgoto doméstico, há inúmeras reclamações por usuários vizinhos. Assim, é grande a importância da avaliação da produção de odores e do controle das emissões de gases odorantes, pois tais gases podem levar a estresses psicológicos, insônias, perda de apetite, entre outros problemas (BRENNAN, 1993).

Os odores provenientes de ETEs estão relacionados à liberação de diversos compostos químicos para a atmosfera, como por exemplo, mercaptanos, nitratos, amônia, fenóis, aldeídos, ácidos orgânicos e ácido sulfídrico (BELLI FILHO et al., 2001). Quando a ETE utiliza princípios de anaerobiose, esses transtornos tornam-se ainda mais intensos, visto que o gás sulfídrico um dos produtos finais desse processo de tratamento, é produzido com maior intensidade e um dos grandes responsáveis pelos odores característicos das estações (CHERNICHARO et al., 2010). O processo de formação desse gás se inicia, de maneira geral, quando bactérias anaeróbias utilizam sulfatos presentes nas composições químicas de proteínas e aminoácidos para obtenção de oxigênio, transformando-os em sulfetos, em ambientes em que a concentração de oxigênio está abaixo de 0,5 mg/L (MONTENY et al., 2000; HEWAYDE et al., 2006) ou entre 0,1 e 1 mg/L, de acordo com U. S. EPA (1985) apud Silva (2007). Esses sulfetos reagem com íons de hidrogênio presentes nos esgotos e formam o H2S (METCALF; EDDY, 2003).

Dentre as técnicas utilizadas para a atenuação desse problema, está a biorremediação que consiste em potencializar a atividade de degradação de poluentes por microrganismos, selecionando os microrganismos envolvidos, adicionando nutrientes ou modificando características ambientais (BRANCO, 2002 apud RODRIGUES, 2005). Essa técnica foi estudada por Rodrigues (2005) em lagoas anaeróbias para redução de odores e o autor concluiu que a mesma foi eficiente visto que houve redução do número de reclamações pela população vizinha e uma diminuição na concentração de gás sulfídrico.

Embora existam trabalhos que afirmem que a biorremediação possui um baixo custo (ABBAS, 2003; MACEDO, 2015; TERRA, 2016), não foram encontradas muitas pesquisas relacionando os custos detalhados envolvidos nessa alternativa, daí a importância do desenvolvimento de pesquisas que avaliem os custos de implantação e operação dessa tecnologia, comparando-a com outras disponíveis. A biorremediação atua indiretamente na redução de odores uma vez que utiliza microrganismos para melhorar a qualidade do efluente e consequentemente a eficiência da ETE, pois quando estações de tratamento operam acima da capacidade projetada, há maior liberação de agentes odoríferos (TERRA, 2016). Portanto, a utilização desta medida pode ser ainda combinada com a implantação de agentes mascarantes ou neutralizadores de odores (neste trabalho denominado de controladores de odor) que reagem com os compostos que causam o mau cheiro sobrepondo-os ou neutralizando.

Outra técnica utilizada para mitigação de odores consiste na implantação de sistemas de aeração em que há a injeção de oxigênio de forma a reduzir a produção de sulfetos, pois só são produzidos em baixas concentrações de oxigênio (SILVA, 2007). Truppel (2002) desenvolveu sua pesquisa aplicando duas alternativas para redução de odores: uma com recirculação de 1/6 da vazão e outra com a combinação entre a recirculação e a implantação de aeradores. O autor concluiu que a segunda alternativa foi mais eficiente que a primeira na redução de emissão de H2S, além da redução do número de reclamações devido ao mau cheiro da estação.

O presente estudo refere-se à Estação de Tratamento de Esgoto Parque Atheneu, localizada no município de Goiânia (GO), projetada para uma vazão de 90 L/s e que opera atualmente com uma vazão média de 110 L/s, portanto acima de sua capacidade de projeto. O processo de tratamento envolve a utilização de uma lagoa anaeróbia e duas lagoas facultativas em série, sendo que a partir de 2010 a lagoa anaeróbia foi desativada para seu redimensionamento visando à ampliação da capacidade da estação.

(…)

Autores: Lívia Marques De Almeida Parreira; Eraldo Henriques de Carvalho; Fausto Batista Alves dos Santos e Nayara Gracyelle Dias.

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