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Problemas sanitários no interior do Estado de São Paulo na década de 1930

Problemas sanitários no interior do Estado de São Paulo

Clamor Sanitário na Década de 30: O Flagelo das Endemias no Interior de São Paulo

Por: José Eduardo Cavalcanti

Um dos mais importantes problemas pela sua feição endemo-epidêmica e social na década de 30 do século passado que afetava as populações do interior era a ação devastadora que exerciam as três principais endemias: as verminoses, o impaludismo (malária) e o trachoma.

As verminoses aniquilavam o homem rural diminuindo assim sua capacidade produtiva preparando campo para irrupção de outras doenças; o impaludismo instalava-se como endemia transformando suas vítimas em verdadeiros “zumbis”; o trachoma levava quase sempre a defeitos permanentes de visão chegando a causar cegueira.

Em São Paulo, excluindo o Vale do Paraíba, a malária existia em toda parte ao longo dos grandes rios e seus afluentes. Também por extensas faixas do litoral e muitas das que se expandiam para o planalto invadindo a zona urbana de muitos municípios.

Um inquérito feito à época sobre a extensão deste mal identificou a existência de malária em 97 municípios, dos quais 43 nas próprias zonas urbanas. A barragem das dunas na orla do litoral e os represamentos irregulares dos rios, bem como o afloramento das águas do sub solo causavam a multiplicação dos mosquitos transmissores da febre.

O único medicamento defensivo e curativo disponível era a quinina responsável pela diminuição da mortalidade pela malária. Embora o consumo deste remédio tivesse crescido desde 1903 chegando a 30.000kg em 1933 sua distribuição era irregular agravada pela paralização da fabricação do cloridato de quinina entre nós, após a grande guerra obrigando o governo a importar a matéria prima.

Problemas Sanitários

Outra doença que grassava no interior do estado era o amarelão, que embora não fosse tão dramática como a malária, era insidioso, pertinaz e depauperante nas palavras de Armado Salles de Oliveira, presidente do estado à época. Entretanto, o índice de infestação de mais de 90% em algumas cidades atacando desde crianças até pessoas em idade avançada.

Além destas endemias, destacavam-se as doenças infecto contagiosas agudas, dentre as quais a febre tifoide e as disenterias dada a ausência de recursos higiênicos malgrado a abundância de sol e ar puro, predicados característicos da área rural. O mesmo se podia dizer das disenterias bacilar e amebiana tão comuns no interior.

Em 1933, os estudos estatísticos sobre a mortalidade causada pela febre tifoide nos 250 municípios do interior paulista registraram 525 óbitos, cerca de 10% dos casos realmente verificados.

Outras doenças, como varíola, meningite cérebro-espinal epidêmica, peste bubônica e outras doenças transmissíveis não adquiriam portanto grande importância por não serem muito complexas e graças às medidas específicas aplicadas contra elas pelo governo do estado.

Por outro lado, a construção e a ampliação dos leprosários, a criação de dispensários e a criação do Instituto de Leprologia por parte do governo contribuíram para o combate à terrível lepra.

Em 1924 foram recenseados no estado 8000 leprosos. Faleceram daquele ano até 1934, 2.300 doentes. Estavam internados naquele ano 3.600 e outros 400 achavam-se em tratamento nos ambulatórios. Com a entrega em 1934 dos 1000 leitos que estavam em construção praticamente se resolveu o problema da lepra no estado.

Clamor Sanitário

Por fim, São Paulo perdeu durante o ano de 1933, em seus 250 municípios, cerca de 2.200 vidas ceifadas pela peste branca correspondente aproximadamente à existência de 17.000 doentes de tuberculose. Perderam-se também nestes mesmos municípios 28.000 crianças de menos de 1 ano sobre cerca de150.000 nascimentos, das quais perto de 11.000 nascidas mortas.

Num exame das verbas destinadas aos serviços de higiene pública, fica-se surpreendido por sua insignificância dentro do orçamento do estado. Em 1934, estavam destinados apenas 3.6% dos recursos, sendo que 2.9% para a Capital. A Capital contava com uma população de 1.000.000 habitantes (92.8% do total destinado aos serviços sanitários). Os 0.7% deste valor era para o interior, com uma população de 6.000.000 habitantes (7.1%). Este número destoa dos países civilizados que destinavam cerca de 10% do orçamento total.

Para minorar o problema, o governo de Armando Salles de Oliveira prometeu em 1934 efetuar algumas modificações de ordem técnico-administrativa que se resumiram a:

  • Criação de um organismo dotado de capacidade suficiente para centralizar a administração dos serviços do interior;
  • Divisão do estado em distritos sanitários, instalando uma unidade sanitária em cada município com população superior a 20.000 habitantes;
  • Subordinação direta dos distritos sanitários à inspetoria geral do interior;
  • Instituição da carreira sanitária para o pessoal que serve no interior.

Este era em resumo o quadro sanitário do interior do estado de São Paulo na década de 30.

Fonte: Instituto de engenharia


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