BIBLIOTECA

Ecotecnologia de wetlands construídos: a eficiência das macrófitas emergentes no tratamento de efluentes em experiências brasileiras

Resumo

Os wetlands construídos são sistemas de engenharia projetado para otimizar processos encontrados em ambientes naturais sendo, portanto, considerado uma opção ecológica e sustentável para tratamento de efluentes. Apesar dessa tecnologia já ser difundida, existem ainda muitos conhecimentos fragmentados ou a serem descobertos para tornar ainda mais viável a sua implementação. Assim, este trabalho analisou as eficiências das experiências brasileiras sobre o tema na última década, levantando as pesquisas feitas com macrófitas emergentes no território brasileiro, utilizando como meio de suporte solo, areia e brita e descrevendo e quantificando suas principais características, finalidades e parâmetros. Para isso, determinou-se uma metodologia com estratégia de busca das publicações e critérios de seleção, a fim de dar integralidade nas diversas variáveis que constituem tal tecnologia, o que impossibilitaria um resultado com análises comparativas de projetos. Diante disso, foram selecionados 16 trabalhos que investigaram as eficiências de remoções de parâmetros em 26 wetlands construídos, onde foi possível verificar que a região sul possui maior número de pesquisas sobre o tema e que a maioria dos sistemas construídos é para o trato de efluentes do tipo doméstico e agrícola. Em geral, os sistemas atenderam aos padrões exigidos pela legislação, apenas em alguns casos as eficiências não foram satisfatórias.

Introdução

Há no mundo uma preocupação com a escassez de água. A demanda por este recurso é indispensável para diversas atividades humanas, desde o processo de produção até ao abastecimento público. Desta forma, é importante que seja mantido sua qualidade para que se possa atender a todas essas finalidades.

Dentro de uma visão de que o investimento em saneamento básico resulta em maior qualidade de vida e diminuição da taxa de mortalidade, o Brasil vem consolidando planos de saneamento nas esferas federais, estaduais, municipais e distritais, a fim de universalizar o saneamento. Entretanto, ainda são baixos os índices de cobertura e atendimento de coleta de tratamento de esgoto, 43%, contribuindo para péssima qualidade da água de nossos corpos hídricos. De acordo com dados do Atlas Esgoto da ANA (2017, p. 52), mais de 110 mil km, o correspondente a 6,2%, de trechos rios estão com a qualidade comprometida para o abastecimento humano por excesso de carga orgânica, já que metade da população brasileira não possui tratamento de esgoto considerado adequado, muitas vezes buscando soluções individuais para tratar seus dejetos.

Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, saneamento “é o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que exercem ou podem exercer efeitos nocivos sobre seu bem estar físico, mental e social”. Sob uma análise moderna, há uma associação de saneamento a sistemas constituídos de infraestrutura física (obras e equipamentos) e uma estrutura educacional, legal e institucional. Essas definições, e outras formuladas visando a conceituar o saneamento, deixam claro que saneamento constitui um conjunto de ações sobre o meio ambiente físico, portanto de controle ambiental, cujo objetivo é proteger a saúde humana (Barros, et al. 1995).

Contudo, o saneamento ambiental pode se enquadrar e ir muito além dos exemplos acima citados e abranger uma série de componentes que podem ser, diferentemente, definidos por autores diversos.

Assim, dentro dessa grande área de atuação, a Lei 11.445 de 05/01/2007, que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, em seu Art. 3o, considera saneamento básico “ao conjunto de serviços, infra-estruturas e instalações operacionais de abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos e drenagem e manejo das águas pluviais urbanas”. Serviços esses considerados essenciais à população brasileira no sentido de salvaguardar a saúde pública.

A saúde pública é viabilizada através da ação do Estado, conforme o Art. 196 da Constituição Federal de 1.988:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Dentro do contexto deste trabalho, trataremos apenas do componente esgotamento, lançamento de efluentes, ou seja, o tratamento das águas residuárias de diversas atividades antrópicas, visto que a poluição e contaminação dos mananciais propiciam a presença de elementos nocivos à saúde ambiental, colocando esse eixo do saneamento básico diretamente ligado à saúde pública.

Um dos efeitos negativos da urbanização está associado ao desenvolvimento de grandes contingentes populacionais, aglomerados em centros urbanos, produzindo dejetos em quantidades superiores àquelas que o ambiente pode assimilar.

Os efluentes líquidos industriais são gerados após o uso da água e podem conter diversos tipos de resíduos, alterando suas características químicas, físicas, biológicas e sensoriais (GIORDANO, 2004). Para Telles e Costa (2007) as impurezas podem estar presentes no corpo d’água nas formas dissolvidas ou em suspensão, possuindo 5 (cinco) tipos básicos de contaminantes naturais: sólidos em suspensão; sais dissolvidos; materiais orgânicos dissolvidos, microorganismos e gases dissolvidos (NEVES, 2015).

A indústria têxtil, por exemplo, possui um elevado nível de consumo de água, aproximadamente 150 litros de água para a produção de 1(um) quilo de tecido, com descarte de 88% do volume de efluentes resultantes dos processos de lavagem, tingimento e acabamento dos tecidos. Tais efluentes possuem um elevado potencial poluente e apresentam diversos elementos tóxicos ao corpo d’água receptor. Segundo, NAGEL-HASSEMER (2006) o uso de corante durante o processo de tingimento e lavagem, transfere ao efluente cor forte, característica visual mais notável do resíduo têxtil (NEVES, 2015). Outros estudos sobre as características de efluentes de indústrias têxteis relatam a presença de alumínio, coliformes totais, fósforo, manganês e ferro. Segundo Jordão e Pessoa (2011, p. 19):

(…)

Autores: Aliciane de Souza Peixoto; Maria José Salles; Luis Eduardo Martin e Priscila Grimberg.

ÚLTIMOS ARTIGOS: