Resumo
A presença de substâncias húmicas em águas submetidas as unidades das estações de tratamento de água para consumo humano pode ser um risco a saúde pública, uma vez que a adição do cloro na água pode acarretar em reações que resultam na formação de compostos com caráter carcinogênico, em especial, os trihalometanos. Uma alternativa para o controle da formação dos trihalometanos é a remoção de seus precursores, que pode ser efetuada a partir do emprego de coagulantes, que podem ser de origem orgânica ou inorgânica. O presente trabalho teve como objetivo avaliar o desempenho de quatro coagulantes, sendo dois de natureza orgânica, tanfloc SL e tanfloc SG, e dois de caráter inorgânico, sulfato de alumínio e cloreto férrico, na remoção dos precursores da formação dos trihalometanos. Os resultados dos ensaios de tratabilidade indicaram que os coagulantes estudados não foram efetivos na remoção dos precursores da formação dos trihalometanos, porém, destaque merece ser dado ao tanfloc SL, que apesar de natureza orgânica, conseguiu atenuar os níveis da matéria orgânica de forma bastante equiparada ao cloreto férrico e o sulfato de alumínio.
Introdução
Nas estações de tratamento de água para abastecimento público (ETAs), a etapa da desinfecção assume um papel de grande relevância, por destruir ou inativar organismos patogênicos com potencial de causar doenças de veiculação hídrica, ou de outros organismos que sejam indesejáveis.
O cloro é o desinfetante mais utilizado e difundido, por possuir vantagens como baixo custo e elevada eficiência, também sendo aplicado em etapas de oxidação de compostos responsáveis pela cor nas águas, facilitando etapas subsequentes como a coagulação e a floculação. Porém, nas últimas décadas, o emprego do cloro nas ETAs vem sendo questionado, uma vez que o mesmo pode reagir com compostos presentes na água e formar subprodutos com potencial carcinogênico.
A reação do cloro residual livre com compostos orgânicos presentes na água pode formar uma série de subprodutos indesejáveis, em especial, os trihalometanos (THMs), que vem sendo fonte de muitos estudos por parte da comunidade científica (Wang et al., 2012; Drinan et al., 2012). Acredita-se que existe uma forte relação entre o câncer de bexiga, cólon e reto e a ingestão de água tratada, na presença de THMs (USEPA, 1998). Os THMs de ocorrência mais frequente são o triclorometano, bromodiclorometano, dibromoclorometano e o tribromometano, sendo que a soma da concentração desses quatro compostos é denominada de trihalometanos totais.
Uma maneira de controlar a formação dos THMs é a efetiva remoção dos seus precursores, que pode ser realizada a partir da coagulação/floculação. Desta forma, uma grande variedade de coagulantes é utilizada nas ETAs, como sais de alumínio e ferro. Porém, destaque merece ser dado a coagulantes de origem vegetal, como o tanfloc, que possui como matéria prima o tanino, extraído da árvore Acácia-negra. Estudos como os de Coral, et al. (2009) e Trevissan (2014) tem comprovado a eficiência do tanfloc na atenuação dos níveis de importantes parâmetros para a potabilidade da água, indicando que o respectivo coagulante vegetal apresenta potencial de substituição dos sais de alumínio e ferro como coagulantes primários nas ETAs. Além disso, o tanfloc pode proporcionar a produção de lodo com elevada biodegrabilidade, sendo de mais fácil tratamento de destinação final do que o resíduo mineral gerado pelo sulfato de alumínio e o cloreto férrico, com potencial de servir de insumo para a agricultura e até mesmo geração de biocombustíveis.
Sendo assim, é necessário a verificação da eficiência de coagulantes a base de tanino na remoção de precursores da formação dos THMs, de maneira a alicerçar a possibilidade de substituição dos sais de ferro e alumínio nas ETAs, proporcionando um tratamento em maior consonância com as legislações que priorizam a saúde pública e o meio ambiente.
Autores: Weruska Brasileiro Ferreiro; William de Paiva; Thiago Cabral Nepomuceno; Tarciana Ramos Diniz e Nancy Morgana Ramos Diniz.
