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As Represas Municipais de Abastecimento

Fahad Moysés Arid*

O sistema de abastecimento público de água em São José do Rio Preto é, na verdade, um multi-sistema, extremamente complexo. Composto dos sistemas de Captação, de Tratamento, de Distribuição e de Operação e Manutenção, tais sistemas, em virtude de suas características técnicas próprias, tem, obrigatoriamente, que ser considerados, para todos os fins, separadamente, em sua construção, instalações, manutenção e operações técnicas, exigindo, cada um deles, adequado tratamento e técnicas especializadas.

A captação, por seu lado, envolve dois sistemas igualmente complexos: a captação de águas superficiais, de rios, e a captação de águas subterrâneas. Da mesma forma, cada um exige tratamento diferenciado, em virtude de suas características inteiramente diversas. Todavia, a integração desses sistemas, sua manutenção e operação eficientes e gestão integrada, são requisitos indispensáveis para a eficiência do sistema a fim de que produza água potável, em abundância e de boa qualidade, com absoluta segurança à saúde pública.

As Represas

Os estudos que vem sendo efetuados há muitos anos revelam acentuado crescimento de carga orgânica dissolvida nas águas do Rio Preto e nas represas de abastecimento. Já se sabe que essa elevação progressiva da carga orgânica poluidora se deve à ausência de ações efetivas de controle ambiental, de responsabilidade do poder público. Ocorrem freqüentes vazamentos de esgotos sanitários e despejos clandestinos, agravando a qualidade das águas.

Ressalte-se que a qualidade bacteriológica dessas águas já está comprometida há muitos anos, encontrando-se, os indicadores de coliformes, muito acima dos valores preconizados para rios destinados a abastecimento público. São baixos os valores de oxigênio dissolvido, indicando aumento excessivo da carga orgânica em suspensão. Os Valores do DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) vem alcançando limites de risco sanitário.

Nessas condições, a elevada carga orgânica e a alta taxa bacteriológica, vem prejudicando a qualidade das águas captadas pela Estação de Tratamento de Água (ETA), baseada em processos de tratamento primário, convencional, da água, acarretando dificuldades na manutenção dos parâmetros legais de potabilidade.

É de se ressaltar ainda, na opinião de estudos efetuados pela TEKNON – Controle de Erosão e Meio Ambiente, empresa de consultoria ambiental contratada pela Prefeitura Municipal (1995), para elaborar projeto de desassoreamento das represas municipais, os níveis gravíssimos de assoreamento e de poluição, notadamente na represa velha.Esta encontra-se, totalmente, atulhada por sedimento e lodos, refletindo a contribuição de acentuada erosão a montante, bem como de lançamentos de substâncias orgânicas. A poluição das águas e o assoreamento tem origem, segundo esses estudos, em efluentes domésticos, efluentes industriais e o deflúvio superficial, tanto urbano quanto agrícola.

Os esgotos domésticos, despejados nas represas apresentam contaminantes orgânicos, biodegradáveis, nutrientes, bactérias e matéria orgânica acumulada. Os efluentes de origem industrial contém maior variedade de contaminantes orgânicos e inorgânicos oriundos das matérias primas e dos processos industriais utilizados. Os sedimentos e a entrada do esgoto clandestino prejudicam a potabilidade da água para o abastecimento.

Há trechos no meio da represa velha onde a lâmina de água não atinge 30,0cm de espessura, enquanto na represa nova, a lâmina de água ainda alcança até 3,00 de espessura. A represa velha, pois, já está com 65% do seu volume original disponível comprometido, assoreada, revelando a excessiva carga de sedimentos depositados no seu fundo.

Impactos

Como já se sabe, o assoreamento provoca impactos danosos nos corpos d’água. Entre eles, a diminuição da capacidade de armazenamento de lagos destruição dos habitat aquáticos excesso de turbidez da água degradação da água para consumo prejuízo dos sistemas de fornecimento e distribuição de água veiculação de poluentes, como fertilizantes, inseticidas, pesticidas, herbicitas, etc. e veiculação de microorganismos (bactérias e vírus) patogênicos.

Por outro lado, análises de alguns parâmetros químicos de qualidade das águas do rio Preto (e represas), apontaram, (CETESB, 1990 e 1995) anomalias químicas que exigem estudo mais detalhado. Algumas amostras recolhidas nas águas da represa velha apresentaram excesso de Fósforo, de Cádmio, de Cobre, de Níquel, de Zinco, de Chumbo e Fenóis, acima dos limites do índice de toxidade, comprometendo a qualidade das águas captadas para o tratamento convencional da ETA. É preciso um controle periódico e mais rigoroso dessas anomalias.

Como se constata, as águas estão comprometidas. É preciso que a Administração Municipal adote, com urgência, ações rigorosas e indispensáveis para controlar os processos erosivos nas bacias de contribuição dos respectivos reservatórios e é preciso também adotar, procedimentos para o desassoreamento dessas represas, visando à remoção total dos depósitos que as entulham e que vem comprometendo sua capacidade de armazenamento e fornecimento de água. É preciso que sejam adotadas ações para o controle das freqüentes cheias e inundações, que tem origem nas cabeceiras das bacias afluentes.

É preciso, enfim, recuperar as represas municipais, para o seu efetivo uso no abastecimento público de água, com vistas ao aprimoramento do sistema de tratamento de água, e que produza água com padrões de potabilidade que garantam a saúde pública.

Represa Velha = a) volume estimado de sedimentos depositados = 367.875m3
b) volume hídrico livre atual = 198.225m3
c) volume hídrico inicial = 566.100m3
d) % assoreado = 65%

Represa Nova = % assoreado = 13%

Exames realizados em 1966 pelo Planídro, no rio Preto, mostraram que as condições fisico-químicas estavam dentro dos padrões de qualidade para os rios com a finalidade de abastecimento.

1966 – bact. – 920 – 1920/ml

1870 – 3600/ml

(*) Geólogo. Professor Titular de Geologia e Paleontologia da UNESP. Centro de Geologia Aplicada. Consultor em Recursos Hídricos, Saneamento Básico e Meio Ambiente. [email protected]

Fonte: http://www.cprm.gov.br

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