LEITURA RECOMENDADA

A dessalinização aliviaria a falta de água que pesa sobre as mulheres latino-americanas

A Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, alerta que a escassez de água projetada para a região aprofundará as disparidades de gênero que ameaçam o desenvolvimento e propõe soluções para enfrentar o problema

seca

Imprensa ALADYR – Dia 17 de junho se comemora o Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, cujo slogan para este ano é “Mulheres. Suas terras. Seus direitos” de tornar visíveis as disparidades de gênero nos ambientes rurais que podem se aprofundar com a intensificação das secas e o avanço da desertificação. A Associação Latino-Americana de Dessalinização e Reúso de Água, ALADYR, juntou-se para fornecer uma visão geral da situação na América Latina e propor soluções para enfrentá-la.

Aproximadamente 20% da população latino-americana vive em ambientes rurais cuja economia é principalmente agrícola. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação, a FAO, as mulheres constituem 48% desse segmento, com mais de 58 milhões.

“O campo já é particularmente difícil e injusto para as mulheres”, dizem a ALADYR, e dados da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) corroboram isso ao garantir que sua remuneração nessas tarefas é 40% menor do que a dos homens e que muitas vezes sofrem com o excesso de trabalho sem ter renda própria.

Para a associação latino-americana, a falta de água é sempre um agravante das injustiças sociais e das condições precárias. De acordo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento, BID, quando o líquido não chega à casa, em 72% dos casos será uma mulher ou uma menina que deve procurá-lo.

“Imagine ser privado de qualquer possibilidade de melhorar sua educação e buscar um futuro melhor, porque tem que passar a maior parte de seus dias andando quilômetros para buscar água em baldes pesados acima de sua cabeça. Literalmente, a falta de água pesa mais na cabeça das mulheres e as secas que atingem a América Latina ameaçam agravar esta situação que é o sofrimento diário em lugares como La Guajira na Colômbia ou na Região Nordeste do Brasil”, diz Angélica Rivera, diretora da ALADYR.

Da mesma forma, em países onde a gestão do saneamento e o acesso à água potável merecem melhores esforços e investimentos, como México, Venezuela e Uruguai, geralmente é uma mulher que deve resolver os problemas domésticos para conseguir acesso ao precioso recurso. Encher recipientes e baldes, estar atento a cortes de água e suspensão do serviço passa a fazer parte da rotina da casa e pesa na decisão de ir ao trabalho/escola ou coletar água.

Diante desse problema, a ALADYR propõe soluções como a dessalinização, tecnologia que permite obter água potável a partir da água do mar e de poços salobres. Essa tecnologia oferece uma alternativa sustentável para aumentar a disponibilidade de água em zonas áridas e combater a escassez hídrica em comunidades rurais, como realizado com sucesso no Brasil com o programa Água Doce.


LEIA TAMBÉM: ALADYR AVISA A RECICLAGEM MAIS IMPORTANTE ESTÁ SENDO IGNORADA: A AMÉRICA LATINA E A URGÊNCIA DO REÚSO DE ÁGUA


Da mesma forma, a implantação de sistemas de reúso de água, que aproveitem a água existente, tratando e reciclando águas residuais para uso em atividades agrícolas, industriais e urbanas, pode contribuir para reduzir a pressão sobre os recursos hídricos naturais e reduzir as lacunas no serviço.

Rivera enfatiza a importância dessas soluções: “A dessalinização e o reúso de água são ferramentas fundamentais para ganhar espaço do deserto e garantir um abastecimento de água sustentável. Essas tecnologias beneficiam a todo o mundo, mas com foco no slogan que discutimos este ano, é oportuno dizer que podem beneficiar especialmente as mulheres nas comunidades rurais, proporcionando-lhes acesso a água potável e recursos hídricos para o desenvolvimento de atividades agrícolas e econômicas. Literalmente, tem o potencial de tirar o peso pela busca de água das mulheres.”

Cabe destacar que, se essas previsões não forem levadas em conjunto com as políticas públicas de inclusão de gênero nos programas de assistência rural, a região enfrentará um drama social que será mais difícil de reverter à medida que se agravam as secas meteorológicas, agronômicas e hidrológicas (redução de chuvas, umidade do solo e vazões, respectivamente) projetadas pelo Grupo Intergovernamental de especialistas sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em seu último relatório que assegura com alto nível de certeza de que a Américas Central e a América do Sul são regiões “altamente expostas, vulneráveis e fortemente impactadas pelas mudanças climáticas”.

As ferramentas disponíveis

A escassez de água e a desertificação afetam desproporcionalmente as comunidades rurais, exacerbando as desigualdades de gênero na região latino-americana. No entanto, as tecnologias de dessalinização e reúso de água oferecem soluções concretas para garantir o acesso constante à água potável e ganhar espaço para o deserto. Em que consistem?

A dessalinização permite purificar a água do mar ou de poços salobras. Esta é uma tecnologia particularmente relevante em áreas costeiras, onde a escassez de água doce é mais acentuada. Ao fornecer uma fonte adicional, a dessalinização pode ajudar a mitigar os efeitos da seca e garantir o acesso à água potável para lavouras, cultivos e serviços sanitários, beneficiando as comunidades em geral e fechando a lacuna de gênero.

Por outro lado, o reúso de água apresenta-se como uma alternativa sustentável para garantir o fornecimento constante de água em diferentes atividades. Ao tratar e reciclar águas residuais, evita-se o desperdício e aproveitam-se recursos valiosos que podem ser devolvidos a uma cadeia produtiva e de serviços. Seu foco é o da economia circular da água e sua aplicação agrícola é segura e uma tendência crescente.

Além disso, práticas de irrigação oportunas e sustentáveis, como irrigação por gotejamento usando água de dessalinização ou reúso, desempenham um papel crucial na restauração de paisagens vegetais. Essas práticas têm permitido a revalorização da terra em ambientes áridos tanto na Arábia Saudita, como no Chile e México.

Mais desigualdades latino-americanas

Por sua vez, a FAO também aponta que, embora trabalhem a terra tanto quanto os homens, apenas 18% das explorações agrícolas regionais são administradas por mulheres e que recebem apenas 10% dos créditos e 5% da assistência técnica para o setor, o que evidencia uma falha nas políticas públicas de assistência ao campo.

Outra desproporcionalidade que a FAO destaca é que a propriedade de terras nas mãos das mulheres na região varia de 7,8% na Guatemala a 30,8% no Peru e destaca que geralmente são menos adequadas para a produção agropastoril do que as de propriedade dos homens.

A ALADYR se coloca à disposição das autoridades para acompanhá-las na elaboração de políticas e planos estratégicos de captação de água nos setores mais vulneráveis e ressalta que essa escassez causada pela seca pode se estender a cidades importantes como Lima, São Paulo e Santiago se não forem tomadas as providências para fortalecer os sistemas de abastecimento de água.

“Empoderar as mulheres consiste em gerar oportunidades de desenvolvimento mesmo nos ambientes mais remotos, como os desertos latino-americanos e para isso já existem soluções técnicas descentralizadas”, concluiu Rivera.

Fonte: ALADYR


ÚLTIMAS NOTÍCIAS: EMPRESAS BUSCAM SE ENGAJAR E TRAZER JUNTO A CADEIA PARA O NET ZERO

ÚLTIMAS NOTÍCIAS: “UMA GUERRA PELA ÁGUA”: A EUROPA SOA O ALARME SOBRE OS RECURSOS HÍDRICOS ANTES DE OUTRO VERÃO EXTREMO

Mais sobre este autor:

Fundada em 30 de novembro de 2010, no âmbito do II Seminário Internacional de Dessalinização na cidade de Antofagasta, Chile. A AADYR é uma associação sem fins lucrativos que promove conhecimentos oportunos e experiências em torno de tecnologias de dessalinização, reuso de água e tratamento de efluentes, a fim de otimizar a gestão hídrica na América Latina e garantir o acesso à água potável dentro de padrões de qualidade, eficiência, sustentabilidade, desenvolvimento econômico e futuro social.

Mais publicações deste autor »

ÚLTIMAS NOTÍCIAS: