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Aumento da segurança hídrica para os sistemas de abastecimento público de água na RMSP no pós crise hídrica

Resumo

Este trabalho tem o objetivo de apresentar os resultados dos estudos de disponibilidade hídrica e de mudanças climáticas, elaborados no âmbito do trabalho de Atualização e Revisão do Plano Diretor de Abastecimento de Água da Região Metropolitana de São Paulo – RMSP. Estes estudos foram efetuados em meio à crise hídrica e apresentam uma mudança de paradigma no que tange à garantia de disponibilidade hídrica, e consequente aumento da segurança hídrica.

Trata-se de uma pesquisa teórica documental onde são apresentados e discutidos estudos que utilizaram ferramentas de modelagem matemática. No estudo de disponibilidade hídrica foram realizadas simulações matemáticas com o Modelo AcquaNet 2013, desenvolvido pelo LabSid – Laboratório de Sistemas de Suporte a Decisões da Escola Politécnica da USP. O estudo de mudanças climáticas, desenvolvido por pesquisadores do CCST/INPE, teve o objetivo de avaliar os possíveis impactos das mudanças climáticas nos regimes de precipitação e vazão, e principalmente estimar estes impactos nas vazões futuras nos corpos hídricos de interesse para o abastecimento de água da RMSP, utilizando projeções dos cenários de mudanças climáticas. O modelo climático global utilizado foi o HadGEM2-ES desenvolvido pelo Met Office Hadley Centre do Reino Unido.

O modelo climático regional utilizado foi o Eta-INPE, que é um modelo atmosférico regional completo usado pelo CPTEC/INPE, desde 1997, para as previsões do tempo e clima operacionais. O uso de garantia de disponibilidade hídrica de 95%, que representa uma vazão com permanência de 95%, era o valor comumente utilizado nos estudos de disponibilidade hídrica, mas em virtude da crise hídrica os estudos foram ampliados para a verificação de disponibilidades hídricas com garantias de 95% a 100%.

Esta necessidade de aumento da segurança hídrica, com aumento da garantia da disponibilidade hídrica foi corroborada com os resultados dos estudos de mudanças climáticas. Estes estudos concluíram que é necessária a elevação da garantia de disponibilidade hídrica para o patamar mínimo de 98% em toda RMSP, visando o aumento da segurança hídrica. Em vista dos diversos episódios de eventos extremos que vem ocorrendo no Brasil e no mundo, é imperativo que os planejadores e tomadores de decisão considerem como assunto estratégico os impactos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos.

Introdução

Um Plano Diretor de Abastecimento de Água é o principal instrumento de referência de planejamento e gestão da água de abastecimento e tem como objetivo compor diretrizes de planejamento para o aproveitamento dos Recursos Hídricos sob a forma de mananciais, bem como para os sistemas de tratamento, adução e reservação. Para tanto, os estudos que compõem o Plano Diretor de Abastecimento de Água devem identificar a necessidade de novos aportes de água e a necessidade de ampliação de estações de tratamento de água existentes, com avaliação de suas unidades e processos de tratamento e, se for o caso, a implantação de novos sistemas produtores. Assim, os estudos de disponibilidade hídrica dos mananciais atualmente explorados e dos mananciais que se configuram em alternativas de uso futuro para abastecimento de água são importantíssimos na elaboração de Planos Diretores de Abastecimento de Água.

Neste contexto, no ano de 2014, durante a atualização e revisão do Plano Diretor de Abastecimento de Água da RMSP, deparou-se com um evento extremo, uma crise hídrica sem precedentes. Esta situação desencadeou uma série de novos estudos no intuito de avaliar as ações emergências que estavam sendo apresentadas e implementadas nos mananciais que atendem a população da RMSP. A necessidade de aprofundar os estudos de disponibilidades hídricas e de avaliar os possíveis impactos das mudanças climáticas nos regimes de precipitação e vazão na RMSP, nortearam os estudos hidrológicos na Revisão e Atualização do Plano Diretor de Abastecimento de Água da RMSP.

No tocante às mudanças climáticas, anteriormente à Revolução Industrial as alterações climáticas podem ser explicadas por causas naturais, tais como alterações na energia solar, erupções vulcânicas, e as mudanças naturais nas concentrações dos gases de efeito estufa. No entanto, os recentes eventos climáticos podem não ser totalmente explicados somente pela ocorrência de causas naturais. Através de pesquisas e simulações avançadas, grande parte da comunidade científica tem associado às mudanças climáticas ao aumento da temperatura média global, devido ao intensivo uso de combustíveis fósseis, intensificando o efeito estufa natural.

De acordo com o IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) uma das consequências das mudanças climáticas é a intensificação dos extremos de precipitação (eventos de cheias e secas). Extremos climáticos podem gerar significativos impactos sobre o regime hidrológico de uma região. Estudar a vulnerabilidade e os impactos das mudanças climáticas sobre os recursos hídricos, tendo como base a unidade da bacia hidrográfica, é certamente um assunto estratégico, que permite planejar potenciais medidas de adaptação em associação às ações existentes de gerenciamento dos recursos hídricos.

Assim, torna-se plenamente justificável a elaboração de estudo para avaliar os impactos das mudanças climáticas nos regimes de precipitação e vazão em sub-bacias das principais Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos (UGRHI) do estado de São Paulo. Entende-se que os efeitos das mudanças climáticas, como as alterações de temperatura e precipitação, se fará sentir diretamente na disponibilidade hídrica dos corpos de água.

Tanto os estudos de disponibilidade hídrica, quanto os de mudanças climáticas, foram efetuados em meio à crise hídrica e apontaram para uma mudança de paradigma no que tange à garantia de disponibilidade hídrica, e consequente ao aumento da segurança hídrica.

Autores: Silene Cristina Baptistelli; Gladys Fernandes Januario; Fabiana Rorato L. Prado; Maria Regina Ferraz Campos e Dante Ragazzi Pauli.

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