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Remoção de turbidez em filtro lento domiciliar operado em fluxo contínuo

Resumo

A dificuldade de acesso à água de boa qualidade em comunidades isoladas está relacionada principalmente à baixa utilização de métodos adequados de tratamento de água para a população. Por esse motivo, ao longo dos últimos anos vários estudos têm sido feitos para avaliar a eficácia de tratamentos alternativos. Um desses tratamentos é a filtração lenta em escala domiciliar (FLD), que consiste em um filtro de areia em uma estrutura de concreto, o qual forma uma camada biológica denominada schmutzdecke que é responsável pelo tratamento principal. Neste estudo, o objetivo principal foi avaliar uma adaptação desse filtro, proposta por Magalhães e Sabogal Paz (2013), utilizando materiais de fácil aquisição, de modo a tornar essa tecnologia realmente acessível às comunidades brasileiras. Avaliou-se, portanto, a eficiência de um filtro lento em escala domiciliar com operação contínua na remoção de turbidez. Constatou-se que a tecnologia é capaz de produzir água filtrada com turbidez abaixo de 1 uT, no entanto, necessita de um período inicial para atingir esse patamar.

Introdução

Globalmente, estima-se que 663 milhões de pessoas utilizam fontes impróprias de água para o consumo (WHO, 2015). A realidade brasileira também carece de preocupação, uma vez que 6,6% dos munícipios não apresentavam nenhum tipo de tratamento de água em levantamento da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico de 2008 (IBGE, 2010). A falta de água tratada é uma realidade principalmente em locais onde a rede de abastecimento de água não é capaz de chegar. Neste sentido, soluções descentralizadas são necessárias como abordagem para o fornecimento de água no local de uso. Dentre essas soluções, destaca-se o uso da Filtração Lenta em Escala Domiciliar (FLD).

A FLD é considerada uma alternativa econômica, de fácil utilização, capaz de produzir água necessária às atividades básicas e eficiente na remoção de microrganismos (SOBSEY et al., 2008). O modelo de FLD tradicional é construído em concreto, com minúcias descritas em manual de livre acesso (CAWST, 2010). Tradicionalmente, este tipo de filtro é operado de maneira intermitente, com alimentação de um volume predeterminado de água a ser tratada dentro da unidade filtrante. O volume que entra no filtro e substitui a água que preenchia os espaços vazios. O tratamento ocorre no período entre alimentações (1 h a 48 h), no chamado período de pausa (CAWST, 2010).

O tratamento em questão depende da formação de uma camada biológica (schmutzdecke) de maneira análoga à filtração lenta tradicional e pesquisas indicaram um melhor desempenho do FLD em longos períodos de pausa (16 h) em comparação aos curtos (5 h), segundo Jenkins et al. (2011). Dessa forma, indica-se que o a ação dos microrganismos em um maior período de pausa pode ser um fator decisivo no desempenho dos FLDs.

A operação de maneira contínua tem sido pouco explorada na literatura internacional (YOUNG-ROJANSCHI E MADRAMOOTOO, 2014). A essa operação associam-se baixas taxas de filtração para tratamento de volume compatível à operação intermitente.

O modelo de FLD de concreto descrito em CAWST (2010) apresenta algumas dificuldades de concepção como sua construção relativamente demorada, pois depende de tempos de secagem do cimento e dependência de conhecimentos mínimos de construção civil. Além disso, o modelo construído é pouco versátil do ponto de vista de transporte, pois é pesado. A presente pesquisa teve como objetivo avaliar um FLD construído em materiais de PVC e operado continuamente, para tanto, considerou-se o desempenho da unidade construída na remoção de turbidez.

Autores: Catherine Yuriko Shigeoka; Paulo Marcos Faria Maciel e Lyda Patricia Sabogal-Paz.

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