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Microrganismos são capazes de degradar poluente de esgoto altamente tóxico

Microrganismos eliminam o tetrabromobisfenol A (TBBPA), aditivo usado para evitar chamas em plásticos e tecidos e que no meio ambiente apresenta efeitos tóxicos e cancerígenos

Degradação do poluente

Para identificar os microrganismos que degradam o TBBPA, a pesquisa então usou uma combinação de técnicas de biologia molecular.

“Inicialmente, nós extraímos e sequenciamos o DNA de uma biomassa, que é uma população composta de milhares de organismos diferentes, exposta ao esgoto doméstico simulado, contendo TBBPA. Nós monitoramos em paralelo a degradação do composto e o desenvolvimento deste ecossistema microbiano”, descreve Williane Macêdo. “Em seguida, unimos essas duas informações, através de uma técnica conhecida como sequenciamento do gene 16SrRNA, para sugerir que grupos deste ecossistema estavam atuando na degradação do TBBPA, e foram ou não afetados por ele.”

“Em seguida, nós adquirimos o TBBPA ‘confeccionado’ com carbonos marcados, ou seja, átomos de carbono que podíamos identificar, com técnicas analíticas, que são provenientes dele. Então, a biomassa foi alimentada com o TBBPA-marcado e as proteínas produzidas na atividade metabólica dos organismos que tinham o carbono-marcado foram identificadas e conectadas diretamente a microrganismos específicos”, aponta a pesquisadora. “Por exemplo, a proteína A possuía carbono proveniente do TBBPA-marcado, e foi produzida no metabolismo do organismo X. Desta forma, sugerimos que o organismo X ‘consumiu’ o TBBPA-marcado”.

A pesquisa então concluiu que a combinação da química analítica, engenharia de reatores e biologia molecular resultou no avanço científico na degradação de micro poluentes.

“Esta técnica representa o estado da arte da biotecnologia e é a combinação do sequenciamento genômico de uma cultura complexa, a metagenômica; da análise global das proteínas expressas, metaproteômica; e da protein-SIP, do inglês, Protein Stable Isotope Probing”, diz Williane Macêdo. “Os resultados sugerem que os microrganismos anaeróbios são capazes de degradar retardantes de chama como o TBBPA e como essas tecnologias devem ser otimizadas para maximizar a degradação de poluentes e, consequentemente, trazer maior segurança ambiental.”

“Este trabalho foi pioneiro e investigatório, dessa forma, é necessário responder às perguntas que a pesquisa gerou e aprofundar o conhecimento nas técnicas utilizadas. A pesquisa de base antecede a aplicada, dessa forma, a ampliação de escala dos reatores, por exemplo, é necessária para poder se falar em aplicação de tecnologia em escalas reais”, comenta a pesquisadora. De acordo com o professor Zaiat, “a importância do estudo está, principalmente, na proposição de sistemas de tratamento de águas residuárias não focados apenas na remoção de matéria orgânica e nutrientes, como os sistemas convencionais, mas na retirada adicional de micropoluentes ou poluentes emergentes, que podem causar grandes impactos ambientais.”

O professor Marcelo Zaiat, da EESCA orientou a pesquisa. O professor Jeppe Lund Nielsen, da Aalborg University, supervisionou parte do trabalho  desenvolvido na Dinamarca. O estudo teve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Fonte: labnetwork


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