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Impactos no abastecimento de água decorrentes do rompimento da barragem de fundão: estudo de caso de Governador Valadares

Resumo

A utilização de barragens de rejeito para o armazenamento de resíduos provenientes do beneficiamento de minério de ferro é uma prática comum em complexos minerários. Porém, esta prática oferece uma série de riscos ao meio ambiente e à população estabelecida na área de influência, tal como pode ser verificado pelos diversos incidentes já ocorridos no Brasil. Nessa conjuntura, no dia 05 de novembro de 2015 ocorreu o rompimento da Barragem do Fundão, pertencente ao Complexo Minerário de Germano, no município de Mariana – MG, representando o maior desastre ambiental do país. Este fato provocou uma série de impactos socioeconômicos e ambientais, tal como alterações na qualidade da água dos corpos hídricos que carrearam o rejeito lançado até o Oceano. Por conta disso, o município de Governador Valadares, que apresenta a maior população às margens do Rio Doce, teve seu abastecimento de água interrompido devido aos altíssimos níveis de turbidez observados. Em virtude disso, o presente trabalho tem por pressuposto a identificação dos principais impactos do rompimento da Barragem do Fundão sobre a água de abastecimento do município de Governador Valadares/MG. Além disso, verificou-se quais as medidas mitigadoras foram adotadas para solucionar a questão do abastecimento de água do município. Dessa maneira, observou-se que foi necessário o emprego de soluções alternativas para o tratamento da água, destacando-se o uso do polímero de Tanfloc, que, apesar de proporcionar alta eficiência para remoção de turbidez, não foi suficiente para adequar esse parâmetro à Portaria 2.914/2011. Para a adequação deste parâmetro, também foi necessária a lavagem das unidades da estação de tratamento, buscando assim melhorar a eficiência do tratamento. Com isso, o abastecimento de água do município foi restabelecido. Além disso, também verificou-se que mesmo com o uso desse polímero os níveis de alumínio e manganês mantiveram-se acima do estabelecido pelo padrão de potabilidade, no período analisado. Os demais metais atenderam o valor máximo permitido estabelecido pela Portaria 2.914/2011, neste mesmo período.

Introdução

As barragens de rejeitos têm por objetivo conter os materiais resultantes do beneficiamento mineral, sendo estruturas executadas em estágios, a medida em que os rejeitos são gerados. Tratam-se de estruturas que por si só já geram impactos ambientais significantes. Além disso, em caso de falhas, é colocado em risco não só o ambiente, mas também a população inserida na área de influência do empreendimento (DUARTE, 2008).

Muitos acidentes já foram reportados no Brasil, como o caso do rompimento da barragem de uma mineradora de bauxita que afetou a qualidade da água dos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Porém, o caso de maior dimensão ocorreu no dia 05 de novembro de 2015, dia esse marcado pelo maior crime ambiental do país: o rompimento da barragem de rejeitos do Fundão.

A barragem do Fundão está localizada no Complexo Minerário de Germano, no município de Mariana, Minas Gerais. Um volume de 50 milhões de m³ de rejeitos de mineração de ferro foram lançados nos corpos hídricos da região, causando um impacto de grandes dimensões. A lama inicialmente destruiu a localidade de Bento Rodrigues e seguiu pelo Rio Gualaxo do Norte, desaguando no Rio do Carmo que é afluente do Rio Doce. Após 16 dias, os rejeitos chegaram até o Oceano Alântico, totalizando cerca de 663,2 km de corpos d’água diretamente atingidos (PINTO-COELHO, 2015).

Pires et al. (2003) realizaram a caracterização química e a classificação dos rejeitos provenientes do Complexo de Germano. De posse desses dados, foi possível melhor compreender os impactos ocasionados na água, relacionando os elementos presentes no rejeito em maiores concentrações com os parâmetros em desconformidade com o padrão de potabilidade. De acordo com os mesmos autores, verificou-se a seguinte composição mineralógica do rejeito: goethita (FeOOH), hematita (Fe2O3), quartzo (SiO2) e caulinita (Al2SiO5(OH)4). Considerando essa composição, realizou-se a quantificação dos principais constituintes do rejeito. Os dados indicaram um teor de ferro de 57,20 %, sílica de 14,10 %, água 7,70 % e alumínio 1,30 %.

Segundo Pinto-Coelho (2015), dados disponibilizados pela empresa responsável pela barragem indicaram que os rejeitos do Complexo Minerário de Germano são resíduos não perigosos e não inertes, de acordo com a NBR 10.004: 2004 (ABNT, 2004). Isso porque ao serem submetidos ao ensaio de solubilização (NBR 10.006:2004), os rejeitos apresentaram em sua constituição substâncias (ferro e manganês) presentes em concentrações superiores ao limite máximo estabelecido pelo Anexo G da norma NBR 10.004. O mesmo se observou no trabalho de Fontes (2013), que também indicam esta mesma classificação para rejeitos de minério de ferro.

Com o rompimento da barragem, os rejeitos atingiram corpos hídricos de toda a Bacia do Rio Doce, comprometendo a qualidade da água de diversos municípios. Considerando a composição já mencionada dos rejeitos, acredita-se que os principais parâmetros influenciados serão a turbidez, ferro, manganês e alumínio (MPMG, 2015). Estes são parâmetros que podem prejudicar a eficiência do tratamento convencional de águas para abastecimento adotado na maioria das estações brasileiras, uma vez que estas são projetadas para valores específicos de turbidez.

Autores: Luisa Cardoso Maia e Andressa Rezende Pereira.

 

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