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Filtros granulares (seixo, areia e carvão ativado) para pós-tratamento de efluente anaeróbio

Resumo

O lançamento de efluentes sem tratamento nos cursos d’água ainda é um problema em evidência para a maioria das cidades brasileiras e, em alguns casos, mesmo após passarem pelos processos convencionais de tratamento, as impurezas são apenas parcialmente removidas e acabam comprometendo a qualidade dos corpos receptores. Este trabalho foi realizado numa instalação piloto localizada na ETE Mangueira, Recife-PE, e teve como objetivo avaliar o pós-tratamento de um efluente secundário anaeróbio por sistemas de filtração em meio granular. Os sistemas eram compostos de um filtro ascendente de pedra que alimentava, em paralelo, dois conjuntos de filtração descendente em areia, seguidos de carvão ativado granular. O experimento foi dividido em 2 fases resultando em 4 sistemas idênticos que foram operados sob diferentes taxas de filtração (60, 90, 120 e 160 m³/m².dia). Foram obtidas eficiências médias de remoção acima de 85% para DQO, 90% para sólidos suspensos totais e turbidez e 98% para coliformes totais e E. coli. O sistema que operou com a taxa de 90 m³/m².dia foi o que apresentou a melhor relação entre o volume de água gasto para lavagem dos filtros e o volume de efluente final produzido.

Introdução

Por muito tempo a água foi tratada como um recurso inesgotável, porém atualmente muito se tem falado de sua escassez. A pressão sobre os recursos hídricos causada pela má gestão hídrica e pelo crescimento populacional acelerado tem afetado a disponibilidade de água e sua qualidade principalmente em regiões onde se encontram os grandes centros urbanos. O lançamento de esgotos domésticos, industriais e de atividades rurais nos corpos hídricos tem contribuído para a deterioração dos ambientes aquáticos, prejudicando a fauna, a flora e os diversos usos múltiplos que a água pode proporcionar (ERICKSON, 2002; GHISELLI E JARDIM, 2007; BARESEL et al., 2015).

Nas últimas décadas, os sistemas anaeróbios de tratamento de esgoto sanitário se difundiram largamente em países onde a temperatura ambiente é elevada, como no Brasil. Todavia, tais sistemas dificilmente são capazes de produzir efluentes com as características adequadas para disposição final de acordo com os padrões estabelecidos pelas legislações ambientais. Em alguns casos, mesmo após a depuração dos esgotos nas estações de tratamento convencionais, a carga poluidora remanescente que é lançada ainda pode provocar a eutrofização das águas superficiais e a contaminação do meio aquático com microrganismos patogênicos e substâncias potencialmente toxicas e de difícil biodegradabilidade. Geralmente, estas substâncias são encontradas em concentrações baixíssimas, da ordem de µg/L ou ng/L, e dificilmente são removidas nas estações de tratamento de esgotos (ETEs), como é o caso dos compostos farmacêuticos, desreguladores endócrinos e plastificantes (BRANDT et al., 2013; KNOPP et al., 2016).

Uma vasta gama de tecnologias para o pós-tratamento das águas residuárias têm sido desenvolvidas e estudadas para que possam, por fim, serem aplicadas nas ETEs com a eficiência requerida para atender as legislações ambientais e reduzir impacto negativo causado no meio ambiente. A filtração em meio granular, principalmente em areia e carvão ativado, tem ganhado destaque no meio científico por se apresentar como uma alternativa de baixo custo de instalação, fácil operação e boa eficiência para remoção de sólidos suspensos, matéria orgânica, nutrientes, microrganismos e micropoluentes, adequando o efluente final aos padrões legais de lançamento em corpos d’água e/ou reúso (TOSSETO, 2005; ALTMAN et al., 2016; PAREDES et al., 2016).

Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi avaliar o desempenho de 4 sistemas de filtração em meio granular como unidades de pós-tratamento de efluente secundário anaeróbio. A qualidade dos efluentes produzidos foi comparada com os limites máximos estabelecidos pelas legislações ambientais para verificar o seu enquadramento e a aplicabilidade dos sistemas piloto estudados para a escala real.

Por esse motivo, o pós-tratamento das águas residuárias surgiu como uma etapa fundamental e promissora para mitigar os danos causados no meio ambiente pelo lançamento de efluentes de estações de tratamento convencionais e, em alguns casos, possibilitar o reúso da água para diversos fins (FLORENCIO et al., 2006).

Autores: Bruno Delvaz Linhares; Juliana Cardoso de Morais; Wanderli Rogério Moreira Leite; Maria de Lourdes Florencio dos Santos e Mario Takayuki Kato.

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