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Controle de odor em sistemas anaeróbios

Resumo

No Brasil existe uma grande quantidade de sistemas de tratamento com base na anaerobiose. Porém, via de regra, este processo produz compostos que geram mau cheiro como o sulfeto de hidrogênio.
Esta característica levanta dúvidas quanto à eficiência do processo, pois existem diversas ações impetradas por órgãos de fiscalização, pelo Ministério Público e pelas prefeituras para eliminar o incômodo causado por esse tipo de tratamento.
Na cidade de São Manuel, com 40.000 habitantes, todo o esgoto coletado é tratado em uma lagoa facultativa e, devido ao desprendimento de sulfeto de hidrogênio, havia reclamações da população mais próxima à unidade de tratamento o que não é desejável para qualquer companhia de saneamento, posto que tais reclamações podem resultar em sanções legais.
A insatisfação da população devido ao odor de um sistema de tratamento de esgotos é comum em várias partes do mundo. Neste contexto, citamos o ocorrido em torno da unidade de tratamento Eugene-Springfield Regional Water Pollution Control Facility, Oregon/EUA (WOLSTENHOLME, 2013), que teve de implantar um programa que identificou e eliminou as fontes de odor para manter um bom relacionamento com a população vizinha.
O presente trabalho visa demonstrar que é possível controlar a emanação de sulfeto em um sistema de tratamento por lagoas anaeróbias com a aplicação de produtos químicos. Porém, como se trata de uma operação delicada, é necessário um controle rigoroso para não inibir o processo de tratamento.
O controle do sulfeto de hidrogênio (odor) foi realizado em duas etapas: a primeira com a aplicação de peróxido de hidrogênio que teve o papel de oxidar o sulfeto de hidrogênio à sulfato reduzindo as reclamações rapidamente e a segunda, com a aplicação de nitrato de cálcio para o desenvolvimento de bactérias nitrato redutoras/sulfeto oxidativas.

Introdução

Na cidade de São Manuel o tratamento de esgotos é realizado através de lagoas de estabilização, mais especificamente do tipo australiano.

Neste processo, parte da carga orgânica é reduzida através de lagoa anaeróbia seguida de lagoa facultativa.

Nessas lagoas são tratados 17.280 m3 de esgotos por dia com uma elevada eficiência de remoção de demanda bioquímica de oxigênio igual a 92%.

Porém, devido ao processo anaeróbio há desprendimento de gás sulfídrico para a atmosfera e, consequentemente, há reclamações por parte da população. O processo anaeróbio é um processo bioquímico complexo (FOREST et al., 1999 apud TRUPPEL, 2002) que envolve pelo menos quatro etapas: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogenêse.

Para que a etapa da metanogenêse ocorra satisfatoriamente é necessário o controle de pH do meio, sendo que as condições ótimas se situam entre valores de pH de 6,6 até 7,6.

Uma fase que normalmente não é citada é a sulfetogênese que se desenvolve na presença de sulfato (CHERNICHARO, 1997 apud SENA, 2001; FOREST et al, 1999 apud TRUPPEL, 2002). Nesta etapa, as bactérias crescem por meio do catabolismo oxidativo.

Na sulfetogênese, os compostos à base de enxofre são utilizados como aceptores de elétrons e as bactérias responsáveis são anaeróbias estritas e sulforredutoras. Estas competem com as bactérias fermentativas, acetogênicas e metanogênicas por substratos disponíveis.

A redução do sulfato é termodinamicamente mais favorável e, na competição pelo substrato, há um aumento na remoção de DQO (SORENSEN, J., 1981 apud CHOI e RIM, 1991).

Apesar de haver maior eficiência na remoção de matéria orgânica, no processo de sulfetogênese é produzido o sulfeto de hidrogênio que é desprendido para a atmosfera conforme demonstrado nas equações 1 e 2.

(…)

Autores: Helvécio Carvalho Sena e Wesley Arradi.

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