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Caracterização e tratabilidade biológica dos efluentes líquidos gerados em cabines de pintura de uma indústria moveleira

Resumo

O objetivo deste trabalho foi caracterizar os efluentes gerados em cabines de pintura de uma indústria moveleira e avaliar a eficiência de sistemas biológicos (anaeróbio e aeróbio) para o seu tratamento. O efluente industrial apresentou elevado teor de matéria orgânica (DQO total de 634 a 2.790 mg.L-1; DBO5 total de 360 a 972 mg.L-1) e baixos teores de macronutrientes (NTK de 1,9 mg.L-1 e Ptotal de 0,5 mg.L- ) e metais tóxicos. Os ensaios de tratabilidade em reator UASB (~25°C e tempo de detenção hidráulica − TDH = 10 horas), indicaram uma eficiência máxima de remoção de matéria orgânica de 90% na composição volumétrica 70:30 (efluente industrial:esgoto sanitário). A alimentação do reator UASB só com efluente industrial resultou em acúmulo de ácidos graxos voláteis e inibição microbiana, mas o uso de pós-tratamento aeróbio (TDH = 96h) garantiu elevada eficiência global (~88%) de remoção de matéria orgânica. Palavras-chave: água residuária da indústria moveleira; tratamento biológico; biodegradabilidade; reator anaeróbio de fluxo ascendente; tratamento anaeróbio; pós-tratamento aeróbio; sistema combinado.

Introdução 

O setor moveleiro tem apresentado um grande crescimento no Brasil nas últimas décadas. De acordo com a Associação Brasileira de Indústrias Moveleiras (ABIMÓVEL, 2001), em 2003 existiam cerca de 16.112 empresas moveleiras, gerando cerca de 190 mil empregos, com a produção concentrando-se em móveis residenciais (60%), escritório (27%) e institucionais, escolares, médico-hospitalares, restaurantes, hotéis e similares (15%). Os principais polos moveleiros encontram-se nas regiões Sul e Sudeste, mais especificamente nas cidades de Bento Gonçalves, Rio Grande do Sul, São Bento do Sul, Santa Catarina, Arapongas, Paraná, Mirassol e Votuporanga, São Paulo, Ubá, Minas Gerais e Linhares, Espírito Santo.

A indústria moveleira caracteriza-se pelo uso integrado de materiais de natureza distinta, tais como madeira maciça e painéis derivados (com e sem acabamento); lâminas naturais de madeiras; laminados plásticos, compostos de diferentes materiais e resinas; metais (aço, alumínio e latão); produtos químicos (colas, tintas e vernizes); vidros e cristais; tecidos e couros (naturais e sintéticos); pedras ornamentais (mármores e granitos), entre outros. Dessa forma, a atividade de produção de móveis produz resíduos sólidos, líquidos e gasosos de características diversas, altamente dependentes do produto elaborado e comercializado.

Na fabricação de móveis, os resíduos sólidos são gerados na primeira etapa do processamento, durante as atividades de corte, perfuração e polimento da madeira. Tais resíduos são normalmente empregados na própria região, podendo ser utilizados como adubo após processo de compostagem ou como combustível para produção de energia. Contudo, em muitos casos, tais resíduos têm sido desperdiçados, sendo que muitas empresas promovem a queima do material para redução de volume sem aproveitamento energético dos mesmos (SCHENEIDER et al., 2003).

Por sua vez, os efluentes líquidos e gasosos são normalmente gerados nas etapas de acabamento, principalmente durante a atividade de pintura. A pintura de móveis é normalmente feita em cabine circundada por cortinas de água, de forma a controlar a emissão para a atmosfera de vapores de produtos químicos constituintes das tintas, vernizes e solventes utilizados. A geração de águas residuárias decorre diretamente da atividade de controle da poluição atmosférica e da limpeza de recipientes, embalagens e utensílios utilizados durante a pintura. Dessa forma as águas residuárias da cabine de pintura podem conter compostos orgânicos − como cetonas, ésteres, hidrocarbonetos aromáticos (principalmente xileno e tolueno) e resinas − e inorgânicos, como aqueles utilizados em pigmentos sintéticos. Tais substâncias contribuem para a elevada carga orgânica e potencialmente tóxica das águas residuárias geradas.

Várias empresas do setor moveleiro tratam as águas residuárias geradas, muito embora também seja prática comum lançar tais efluentes diretamente nos corpos d’água sem qualquer tratamento prévio. O tratamento normalmente utilizado nas indústrias moveleiras emprega a coagulação/floculação com cal ou coagulantes convencionais, e não tem se mostrado eficiente na redução da sua carga tóxica (FERREIRA, 2003).

Uma opção para o tratamento de águas residuárias industriais que contêm compostos orgânicos biodegradáveis não tóxicos (por exemplo, cetonas, ésteres e alcoóis) seria a utilização de processos biológicos, principalmente os que empregam sistemas que combinam reatores anaeróbios de manta de lodo (UASB) com o pós-tratamento aeróbio (por exemplo, lodos ativados e lagoas aeradas). Dessa forma, tendo em vista a importância da indústria moveleira para a economia e o impacto ambiental causado por tal atividade econômica, o presente trabalho teve como objetivo caracterizar os efluentes gerados na cabine de pintura de uma indústria moveleira, bem como avaliar sua tratabilidade anaeróbia e aeróbia.

Autores: Anselmo R. Lage Santos; Sérgio F. Aquino; Cornélio F. Carvalho; Laura Aparecida Vieira e Erik Sartori Jeunon Gontijo.
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