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Estudo do potencial de biorremediação de óleo diesel em solos ácidos contaminados através de atenuação natural e da utilização de surfactantes

Resumo

Os acidentes ambientais envolvendo hidrocarbonetos de petróleo são motivo de grande preocupação na atualidade. A contaminação de aquíferos por vazamentos de petróleo é uma das possíveis ameaças para a qualidade das águas. Compostos provenintes de óleo diesel estão entre os hidrocarbonetos de petróleo que podem causar problemas ambientais, podendo apresentar potencial carcinogênico. A presente pesquisa buscou avaliar o efeito da adição de surfactantes no processo de biorremediação de solos contaminados com óleo diesel, contribuindo para um maior entendimento e uma maior aplicabilidade de uma tecnologia de tratamento de menor custo. Para a preparação dos microcosmos e estudo do processo de biodegradação, foram utilizadas amostras de solo, em respirômetros incubados em temperatura controlada no escuro. O solo a ser utilizado nos experimentos foi obtido da Região Metropolitana de Belo Horizonte. Após a sua caracterização, o solo foi contaminado com o óleo diesel, objetivando simular a contaminação por vazamentos de resíduos. Foram realizados experimentos com e sem a adição do surfactante SDS (Dodecil Sulfato de Sódio ou Lauril Sulfato de Sódio) para avaliação do seu efeito no processo de biodegradação. A verificação do desempenho da técnica de biorremediação aplicada aos solos contaminados foi realizada através da medida da produção microbiana de CO₂. Os resultados indicaram que a adição do surfactante SDS no solo não promoveu melhoria no processo de biorremediação de solos contaminados com óleo diesel, visto que na amostra desprovida de surfactante houve uma maior degradação do óleo diesel no intervalo de tempo estudado.

Introdução

O setor petrolífero corresponde pela geração de 40% de toda a energia mundial. Acidentes ambientais ocorrem durante as etapas de exploração e comercialização de petróleo, podendo causar graves danos ao meio ambiente e à saúde humana. A contaminação de aquíferos por vazamentos de petróleo é uma das possíveis ameaças da qualidade de águas. Compostos provenientes de óleo diesel estão entre os hidrocarbonetos de petróleo que podem causar problemas ambientais. Esses compostos possuem cadeias mais longas, contribuindo para menor mobilidade e solubilidade em água, em comparação à gasolina, entretanto os PAH’s (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos), presentes no diesel, são considerados de potencial carcinogênicos podendo provocar graves problemas em caso de vazamento. De acordo com a Agência Nacional de Petróleo, no Brasil existem cerca de 40 mil postos de combustíveis, sendo a maioria desses postos construída na década de 70. Considerando uma média de vida útil de 25 anos para tanques subterrâneos, supõe-se que eles já estejam comprometidos. De acordo com a CETESB, os postos respondem a 63% das áreas contaminadas em São Paulo (SUGIMOTO, 2004). Em Minas Gerais, os postos de combustíveis (óleo diesel, gasolina) são os principais poluidores do solo. De acordo com a FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente), dos 56 locais com solo contaminado no estado de Minas Gerais, 55 se originam de postos de combustíveis (FREITAS, 2009).

Estudos da biodegradação de hidrocarbonetos de petróleo têm demonstrado a possibilidade de aplicação de tratamento biológico para esse tipo de composto orgânico (MOURA et al, 2005), devendo-se avaliar os fatores que podem limitar o processo de biodegradação antes de se utilizar esse tratamento (YERUSHALMI et al, 2003). O uso da biodegradação é uma das técnicas de maior destaque entre os ambientalistas como a maneira adequada de se eliminar contaminantes da água e do solo.

Numerosos estudos indicam que o pré-tratamento do solo com surfactantes para solubilizar compostos hidrofóbicos aumenta a biodegradação desses contaminantes. Tipo do solo, pH, capacidade de troca de cátions, tamanho, permeabilidade e tipo de contaminantes afetam a eficiência de remoção (MULLIGAN, 2001). Um estudo sobre o uso de surfactantes Tween 80 e Aerosol 80 na remediação de resíduos oleosos no solo e em águas subterrâneas foi realizado por Franzetti et al (2006). Nesse estudo, a sorção e biodegradabilidade dos surfactantes foram avaliadas para se delimitar as condições e limitações de seu uso. Tween 80 apresentou um alto grau de biodegradação, mas uma grande afinidade pela matriz do solo, o que limita seu uso para remediações in situ. Aerosol MA+ 80 apresentou baixo grau de biodegradabilidade e mineralização, levando à acumulação de compostos intermediários de degradação. Assim, o uso desse composto na remediação de aquíferos requer cuidados para evitar a perda do produto e o excesso do surfactante deve ser removido do solo.

No entanto, apesar das pesquisas existentes sobre biorremediação de solos contaminados com hidrocarbonetos de petróleo, ainda não existem estudos detalhados sobre o efeito do uso de surfactantes na biodegradação de óleo diesel no solo, sendo necessária a realização de novas pesquisas para obtenção de dados conclusivos sobre o processo.

Diante desses problemas, é de grande importância avaliar as técnicas de remediação de áreas contaminadas por hidrocarbonetos de petróleo. A presente pesquisa pretende, dessa forma, avaliar o efeito da utilização de surfactantes no processo de biorremediação de solos contaminados com óleo diesel. O estudo das técnicas de biorremediação contribuirá para um maior conhecimento de uma tecnologia de menor custo, em relação às outras existentes, podendo auxiliar futuramente na minimização de impactos decorrentes de acidentes ambientais. Assim, haverá uma prevenção da contaminação de aquíferos por vazamentos de petróleo, que constitui uma grande ameaça para a qualidade de águas subterrâneas.

Autores: Isabela Márcia de Carvalho Luiz e Patrícia Procópio Pontes.

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