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Capacidade de autodepuração do arroio hermes como corpo receptor de efluentes domésticos

Resumo

A precária cobertura pelos serviços de coleta e tratamento de esgotos domésticos, principalmente em regiões periféricas de centros urbanos, tem como principal consequência o lançamento desses efluentes nos corpos hídricos sem nenhum tratamento. Como consequência disso está a deterioração da qualidade das águas que recebem altas cargas poluidoras de matéria orgânica, nutrientes e microrganismos.
Localizada na periferia do município de Agudo/RS, a Vila Caiçara não possui sistema de coleta dos efluentes domésticos gerados, sendo estes lançados “in natura” no Arroio Hermes. Em virtude disto, a população local está constantemente sujeita a odores fétidos, presença de vetores e contato direto com o esgoto, e esta situação é acentuada em épocas de cheia, quando ocorre o extravasamento do arroio, possibilitando a disseminação de uma série de doenças.
O estudo da resposta dos cursos d´água ao lançamento de despejos domésticos faz-se imperativo para que seja possível prever possíveis impactos negativos e traçar planos de ação. Essa resposta varia em função de suas características físicas, químicas e biológicas, da natureza dos efluentes lançados e, principalmente, das vazões envolvidas. Dá-se o nome de autodepuração ao processo de restabelecimento do equilíbrio no meio aquático, após as alterações induzidas por despejos.
Sendo assim, foram mapeados os pontos de lançamento de efluentes no trecho do Arroio Hermes que corta o município de Agudo, até sua foz no Rio Jacuí, e em seguida coletadas e analisadas as amostras de cada ponto, bem como verificadas as vazões.
A partir dos resultados das análises laboratoriais das amostras coletadas (esgotos sanitários ou drenagem pluvial), procedeu-se o estudo de autodepuração para o trecho analisado do arroio, de forma a quantificar os impactos causados pela poluição por matéria orgânica.
O modelo matemático escolhido para o estudo foi o proposto por Streeter-Phelps, devido a sua simplicidade (facilidade de uso), necessidade de poucos dados e resultados rápidos.
Os resultados obtidos após a aplicação do modelo de Streeter-Phelps permitiram a construção gráfica do perfil de oxigênio dissolvido para o trecho do arroio estudado. A análise dos resultados, juntamente com o gráfico, mostraram que apesar do déficit crítico de oxigênio dissolvido de 1,52 mg/L apresentado, a concentração crítica de oxigênio dissolvido se mantém acima da concentração de saturação mínima para esta classe de curso d’água (classe 2), estabelecida pela Resolução CONAMA 357/2005 que é de 5,0 mg/L, durante todo o percurso do arroio a jusante do ponto de lançamento.

Introdução

O crescimento populacional e a decorrente ocupação desordenada dos espaços urbanos têm por consequência o uso excessivo dos recursos naturais, sendo essa uma causa direta da degradação do meio ambiente. Esta degradação provoca sérios danos ao meio ambiente, como por exemplo, a contaminação do ar, da água, do solo, dos animais e do próprio ser humano, principal responsável pelos problemas ambientais encontrados e também vítima de suas próprias ações.

Neste cenário, um dos setores mais afetados devido ao crescimento desordenado da população é o do saneamento básico, onde a cobertura desse serviço acaba sendo muitas vezes insuficiente ou insatisfatória.

Quando analisado o esgotamento sanitário, mais especificamente, a coleta e o tratamento do esgoto doméstico, a situação mostra-se ainda mais preocupante, no Brasil mais da metade da população é atendida por sistemas precários de afastamento e tratamento de esgoto ou simplesmente não tem acesso a tal.

Esta situação torna-se ainda mais crítica nas regiões periféricas de centros urbanos, devido à dificuldade de cobertura dos serviços de saneamento nessas áreas, os esgotos gerados são constantemente lançados nos corpos hídricos sem nenhum tratamento, ou, quando passam por algum sistema de tratamento, estes muitas vezes possuem baixa eficiência.

Como consequência disso, está a deterioração da qualidade da água dos corpos hídricos que recebem altas cargas poluidoras de matéria orgânica, nutrientes e microrganismos oriundos desses despejos, ocorrendo a diminuição da biodiversidade aquática.

A resposta dos cursos d´água ao lançamento de despejos domésticos varia em função de suas características físicas, químicas e biológicas, da natureza das substâncias lançadas e, principalmente, das vazões envolvidas (curso d’água e despejos).

O processo de autodepuração em corpos d’água, segundo SPERLING (2005, p. 96) está vinculado ao “restabelecimento do equilíbrio no meio aquático, por mecanismos essencialmente naturais, após as alterações induzidas pelos despejos”.

Para avaliar os impactos gerados pelo lançamento de efluentes domésticos em um corpo hídrico é necessário realizar a quantificação das cargas poluidoras afluentes. Para tanto, são necessários levantamentos de campo, incluindo amostragem dos poluentes, análises de laboratório e medições de vazão.

Nesse sentido, os modelos matemáticos aparecem como uma excelente ferramenta na gestão dos recursos hídricos, permitindo simular os efeitos de acontecimentos sobre os parâmetros de qualidade da água.

A aplicação desses modelos possibilita prever possíveis impactos positivos ou negativos sobre a qualidade das águas, oriundos das alterações causadas por atividades antrópicas, permitindo desenvolver planos de ação capazes de preservar e proteger a qualidade das águas das bacias hidrográficas.

Faz-se hoje imperativo a busca de maiores esforços para o controle dessa poluição. Uma das formas de obter esse controle é, justamente, estudar e conhecer a capacidade de autodepuração de cada corpo hídrico, estimando a quantidade de efluentes que cada rio é capaz de receber sem que suas características naturais sejam prejudicadas. Dependendo do nível de poluição dos rios, o processo de autodepuração pode ser bastante eficiente na melhoria da qualidade d´água, promovendo assim a qualidade de vida da população.

Autores: Bibiane Nardes Segala; Ana Beatris Souza de Deus Brusa; Ana Letícia Sbitkowsk Chamma e Franciele Prado de Medeiros.

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