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A urbanização e o desenvolvimento de processos erosivos em área de preservação ambiental na cidade de Maringá, PR

Resumo

A ocorrência de processos erosivos pode ser diretamente relacionado com o crescimento da população urbana de uma cidade, em um processo de rápida urbanização, com projetos inadequados e deficientes no que tangem o parcelamento de solos. Ocupações e a instalação de redes de drenagem inadequadas destroem vegetações nativas, mudam os caminhos preferenciais de escoamento superficial de águas pluviais, podendo ocasionar o surgimento de voçorocas e taludes instáveis em áreas vegetadas. O presente trabalho analisa os fatores físicos e hidrológicos da cabeceira de drenagem do córrego Cleópatra, as consequências advindas da urbanização e do lançamento concentrado de águas pluviais captadas pela rede de drenagem artificial em área de preservação ambiental – o PARQUE FLORESTAL DOS PIONEIROS – BOSQUE II, na cidade de Maringá, Paraná, observando fatores para o aparecimento de sistema erosivo formado por ravinas e voçorocas.

Introdução

A maioria dos casos relatados de erosão urbana na bibliografia pesquisada ocorre em áreas dominadas por solos arenosos e substratos areníticos. Existem vários exemplos de áreas urbanas degradadas pela erosão, assentadas em regiões sedimentares da bacia do Paraná, em especial onde ocorrem os arenitos do Grupo Bauru, arenitos da Formação Caiuá, sedimentos do Grupo Tubarão e Botucatu, e que são recobertos por formações terciárias ou quaternárias de natureza coluvial ou aluvial: cidades como Bauru, Assis e Marília, no Estado de São Paulo e em mais de 154 municípios no noroeste do Estado do Paraná, dentre os quais se destacam as cidades de Cianorte, Loanda, Umuarama, Paranavaí, Cidade Gaúcha, Nova Esperança, Terra Rica dentre outras. O desencadeamento dos processos erosivos nessas áreas coincide, praticamente, com o ápice do processo de colonização e ocupação realizado através do desmatamento intensivo para o plantio de café, culturas anuais de algodão, amendoim, soja e trigo e, ainda, com a instalação de núcleos urbanos ao longo das rodovias de integração.

A ocorrência de processos erosivos e seu consequente agravamento verificado em inúmeras cidades, tanto no Estado do Paraná como em outros estados, está diretamente relacionado ao crescimento vertiginoso da população urbana, em um processo de rápida urbanização, sem planejamento ou com projetos e práticas de parcelamento de solos que são inadequados e deficientes. Essas ocupações destroem as vegetações nativas, mudam os caminhos preferenciais de escoamento superficial das águas pluviais e acrescentam a esses os volumes de águas servidas, criando voçorocas e taludes instáveis e ainda agravando enchentes pelo volume de sedimentos depositados nos córregos e rios urbanos.

Entretanto, esses fenômenos erosivos podem se instalar também em áreas urbanas na qual o substrato rochoso e os solos são, do ponto de vista natural, mais resistentes a erosão e, ainda, em áreas onde a floresta foi preservada, como é o caso do PARQUE FLORESTAL DOS PIONEIROS – BOSQUE II, na cidade de Maringá, Paraná. Este parque é considerado uma floresta urbana e declarado como “Área de Preservação Ambiental” com área de 59 hectares e representando 17,93% da área total da bacia hidrográfica do córrego Cleópatra. Está localizado em anel central do perímetro urbano de Maringá, Paraná, sendo cabeceira de drenagem do córrego citado, compreendendo as nascentes e o fundo de vale do respectivo córrego, afluente do ribeirão Pinguim, da bacia hidrográfica do rio Ivaí.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA, 2006), o substrato rochoso da área é constituído por rochas ígneas vulcânicas – basalto – da Formação Serra Geral, provenientes de extensos derrames de lavas do período Jurássico-Cretáceo. A intemperização dessas rochas gerou solos espessos e de alta fertilidade natural, o Latossolo Vermelho e o Nitossolo Vermelho, sendo que os Latossolos podem ser encontrados nos topos e altas vertentes, enquanto os Nitossolos ocorrem na média e baixa vertente (ZAMUNER, 2002).

Quanto a sua situação climática, a cidade de Maringá situa-se numa zona de transição climática entre os climas tropical de duas estações e o subtropical, segundo a classificação de Köppen (1978), apresentando temperatura média anual de 21,7 °C e precipitação média anual de 1592 mm. O período mais chuvoso corresponde aos meses de dezembro a fevereiro, enquanto os meses mais secos estão entre junho e agosto.

A vegetação do Bosque II classifica-se como sendo “floresta estacional Semidecidual submontana da região da floresta estacional Semidecidual”. Essa vegetação que ocupava a parte norte do Terceiro Planalto e seus vales fluviais representam uma variação da mata pluvial tropical do litoral (BIGARELLA & MAZUCHOWSKI, 1985; VELOSO & GÓES FILHO, 1985). Nessa formação, o estrato emergente é constituído pelas seguintes espécies: jequitibás (cariniana spp.); peroba rosa (Aspidosperma polyneuron.); cedro (Cedrella fissilis); pau d’alho (Gallesla gorazema), angico-vermelho (Parapiptadenia rígida) e canafístula (Peltophorum dubium) dentre outras (BIGARELLA & MAZUCHOWSKI, 1985), e esta área florestada se constitui em uma das maiores reservas ecológicas do município de Maringá, preservando significativas espécies da flora e fauna, algumas em vias de extinção e, ainda, como lazer contemplativo para a população.

O objetivo deste trabalho é mostrar como as consequências da urbanização e o gerenciamento inadequado das águas pluviais captadas pela rede de drenagem artificial instalada e do lançamento concentrado pode originar formas erosivas do tipo ravinas e voçorocas no interior de área florestada, tida como área de preservação ambiental.

Autores: Lourival Domingos Zamuner;  Cláudia Telles Benatti;  Bruno Henrique Toná Juliani e  Cristhiane Michiko Passos Okawa.

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