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Tecnologia reduz o consumo de água em 70% na fabricação de jeans

Tradicionalmente, calculamos e quantificamos o consumo de água de acordo com o recurso que sai da torneira ou que é destinado a usos industriais e agrícolas.No entanto, por muitos anos, esquecemos, consciente ou inconscientemente, que também alocamos água (e em quantidades mais elevadas) para produzir carne, cosméticos, roupas, entre muitos outros objetos que usamos no dia a dia.

Além da água que consumimos ou usamos diretamente, devemos contabilizar a pegada hídrica, que é o recurso usado durante a fabricação ou produção de um determinado produto.

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É o que chamamos de pegada hídrica e que é responsável pelo cálculo da quantidade total de água utilizada para produzir um determinado produto, desde o momento em que a água da chuva é coletada até o fluxo destinado à diluição dos contaminantes durante a produção de uma determinada peça de vestuário.

Entre 3 mil e 10 mil litros de água para fabricar uma peça de jeans

Certamente nunca pensamos que, para vestir uma determinada peça de roupa, como um jeans, são necessários até 10 mil litros de água para a sua produção. Isto foi afirmado por Arjen Hoekstra, professor de Gestão de Águas da Universidade de Twente (Holanda), em uma entrevista para o jornal espanhol, La Vanguardia.

Existem outras fontes, no entanto, como o Instituto Técnico Têxtil (Aitex), que calcula em 3.300 litros de água necessários para fazer uma peça de jeans, como publicou o jornal Abc há alguns anos. Na tabela a seguir, você pode verificar a quantidade total de água necessária para produzir um certo tipo de jeans:

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Fonte: Fundación Botín/El Corte Inglés. Informe sobre conclusiones análisis uso responsable agua industria têxtil

De qualquer forma, a realidade é que a quantidade de água necessária para produzir roupas são muito altas e, dado que a produção de jeans são de 5 milhões de peças anualmente, é claro que algo deve ser feito.

Uma das roupas mais poluentes

Um estudo realizado pela Agência para o Meio Ambiente e Controle de Energia da França (ADEME) realizado há um ano, destaca que vários poluentes entram em jogo durante todo o processo de fabricação do jeans. Já na primeira fase e para manter a matéria-prima, algodão saudável e em condições adequadas, são utilizados pesticidas (10% de todos os pesticidas e cerca de 25% dos inseticidas em todo o mundo). Estima-se também que a produção mundial de algodão requer até 222 bilhões de metros cúbicos de água.

Não devemos esquecer, que uma das principais causas da secagem do Mar de Aral, no Uzbequistão, se deve ao alto consumo de água para irrigar os extensos campos de algodão. Deve-se ter em mente que este país, durante a década de 1980, foi o principal produtor mundial de algodão. Um relatório divulgado pela BBC informa que, anos atrás, o Mar de Aral tinha uma área de 60.000 m2 com profundidades que podiam chegar a 40 metros. Atualmente, o Mar de Aral tem apenas 10% de seu tamanho original. Perdeu-se uma área equivalente a quase o tamanho do Estado de Santa Catarina.

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Imagem de satélite do Mar de Aral. À esquerda, una fotografía de 1989. À direita, de 2014. Fonte: Wikipédia / Nasa

Um dos efeitos do recuo desse corpo de água é também o aumento de certas doenças, decorrentes dos restos de pesticidas que resistiram no mar. Alguns dados fornecidos pela FAO revelam que as doenças relacionadas à tireoide e o fígado atingiram taxas de 200% na década de 80.

Já durante o processo de produção, uma quantidade significativa de cloro, corantes e produtos químicos são liberados, em muitos casos no meio ambiente, causando a sua poluição.

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Efluentes da fabricação de jeans no México. Fonte: The Guardian / Reuters / J.Szimascek

Em 2017 aconteceu o lançamento de “River Blue”, um documentário que analisa o impacto sobre o meio ambiente da indústria têxtil. Assista ao trailer abaixo:

Esperança por um novo processo

Uma empresa de Valência (Espanha), chamada Jeanalogía, seria responsável por reduzir o consumo de água durante a fabricação de jeans da empresa Levi’s, a principal produtora desse tipo de roupa.

É uma empresa jovem, com 20 anos de experiência. Uma das questões mais surpreendentes foi a redução em 71% da água utilizada no processo de produção de jeans, conforme destacado no seu Mídia Kit. Também muito positivo que o uso de produtos químicos, seja reduzido em 67% com a aplicação deste novo sistema de fabricação.

Laser, Ozônio e E- Flow

Um dos processos mais nocivos na produção dessa peça de vestuário é o momento em que se aplica o spray para colorir e pode ser muito prejudicial aos trabalhadores, como pode ser visto na imagem abaixo.

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Trabalhadores em fábrica no sudeste da Ásia, tingindo jeans. Fonte: La noche tématica (2014), RTVE

A empresa Jeanalogía utiliza um sistema mais seguro, o laser, fazendo com que a impressão seja de uma maneira mais sustentável e segura para os trabalhadores que manipulam este vestuário. A máquina de tecnologia laser contínua para tecelagens, tem o mesmo princípio de funcionamento de alimentação da máquina de ozônio. No painel de controle é escolhido o desenho a ser gravado no jeans, e onde é controlada a velocidade e intensidade necessária do laser, o sistema de operação recolhe a fumaça do ar, que depois é enviada para os filtros que eliminam o ar limpo para a atmosfera.

O uso do ozônio seria outro dos processos utilizados por esta empresa e é o que afeta diretamente a redução do consumo de água e a diminuição do uso de produtos químicos no processo. A máquina de ozônio contínuo, também para tecelagens, proporciona ao jeans um desbote com efeito envelhecido. Chamada de Eco G2 Dynamic, seu laser funciona de forma contínua e uniforme sem química e com 2m³ de água apenas, podendo operar por 24 horas direto, dependendo o grau do desbote, que varia de 2 a 15 metros por minuto. O mais interessante é que dessa forma o jeans não perde a rigidez de um tecido cru, facilitando na hora da costura por manter o mesmo comportamento. Depois de confeccionada, é necessário o mínimo de água para desengomar as peças.

Em seguida, a tecnologia E-Flow, com a tecnologia de nano bolhas, a máquina dá acabamento nas peças, resinas para efeitos 3D, repelente de água, easy care, amacia, tudo com o mínimo de água. Isso é possível porque micros bolhas de ar carregam o produto químico em sua superfície, e, ao entrarem em contato com as peças, trabalham uniformemente para finalização do beneficiamento, sem molhá-las, apenas umedecendo-as. A E-Flow trabalha com até 100 peças por vez, necessitando apenas de um pouco de água e do produto químico. O reator de fluxo de geração de nano bolhas pode ser usado com diferentes tambores rotativos: amaciamento, suavização, vestuário íntimo, roupas delicadas e jeans bruto.

Não poderia faltar o reúso

Há um maior consumo de água durante o processo para amaciar cada calça, o que implica a realização de várias lavagens, aumentando o consumo de água. Em todo o processo, é vital reutilizar a água para reduzir significativamente o seu uso. Com um sistema desenvolvido pela mesma empresa, 99% da água utilizada no processo de fabricação é reutilizada.

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Fases do processo da produção de jeans desenhado por Jeanalogía. Fonte: Jeanalogía

Este artigo não pretende ser um apelo em favor da marca de jeans que aplica esta tecnologia, mas deve reconhecer sua natureza pioneira e seu interesse em reduzir consideravelmente o consumo de água. Existem outras marcas de jeans que também usam medidas para reduzir o consumo de água, mesmo que não sejam tão eficazes. Existem também outras soluções, que neste caso podem aplicar a mesma cidadania e conscientização, como comprar jeans de segunda mão.

O importante é conceber que o consumo de água utilizado nos processos de fabricação de determinados produtos é muito superior que o nosso consumo direto de água. Estar ciente disso nos tornará mais crítico ao comprar e mais informado, algo que a longo prazo será benéfico para todos.

 

Fonte: iAgua, Blog de Xavi Duran Ramírez e Iolanda Wutzl, adaptado por Portal Tratamento de Água

Traduzido por Gheorge Patrick Iwaki

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