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Viabilidade para implantação de sistema de captação e aproveitamento de água pluvial

Resumo

Este artigo apresenta uma análise da viabilidade para implantação de um sistema de captação e aproveitamento de água pluvial. Com base em aspectos econômicos, a partir do estudo dos custos envolvidos para instalação e manutenção do conjunto utilizaram-se índices econômicos tais como o Valor Presente Líquido (VPL), Taxa Interna de Retorno (TIR) e payback como ferramenta para apreciação do problema em análise. Após o estudo verificou-se que nas condições do ambiente em estudo não há viabilidade econômica, pelo alto investimento necessário e o payback resultante. Essa conclusão pode ser aplicada para edificações de uso público, onde, apesar do uso final ser majoritariamente passível da utilização de água não potável, como descarga de banheiros, limpeza em geral, dentre outros fins, o consumo é baixo em relação a prédios de uso residencial. Contudo, há exequibilidade técnica no empreendimento. E, além disso, a viabilidade de um projeto sob o viés da sustentabilidade resguarda aspectos intrínsecos. O impacto ambiental que deixa de ser gerado pela implantação de uma alternativa pode significar uma economia em escala.

Introdução

A água encontra-se distribuída sobre a superfície do planeta de modo que 97,5% estão concentradas nos oceanos e mares e 2,5% representam a água doce existente, sendo que deste percentual apenas 0,3% é renovável por meio do ciclo hidrológico [NOGUEIRA, 2016]. Segundo Tomaz (2001), o Brasil abriga 12% das reservas de água doce do globo, contudo de forma mal dividida dentro do seu território, o que gera problemas de abastecimento em regiões específicas.

A dificuldade de captação e, portanto, de fornecimento que se observa é consequência direta do crescimento populacional, ocupação desordenada de áreas de proteção de rios e bacias hidrográficas, do uso irracional dos recursos hídricos e da contaminação das fontes escassas devido à poluição.

Para contornar essa situação, uma solução desponta como uma alternativa extremamente atraente, que é a captação e aproveitamento das águas oriundas de precipitações pluviométricas. Isso porque a solução apresenta potencial para beneficiar dois bilhões de pessoas no mundo, as quais não têm acesso à água limpa ou saneamento básico [GNADLINGER, 2016].

A ABNT: NBR 15.527 (2007) define água de chuva como “água resultante de precipitações atmosféricas coletadas em coberturas, telhados, onde não haja circulação de pessoas, veículos ou animais”. Os fins não potáveis de que trata a referenciada norma consisti em descargas de bacias sanitárias, irrigação de gramados e jardins, lavagem de veículos e limpeza de natureza geral [SILVA, 2015].

O Brasil possui a matriz consumidora de água repartida de modo que 61% da água são destinados ao setor agrícola, 18% ao setor industrial e 21% ao consumo humano. Para o uso doméstico 40% são utilizados em vasos sanitários e lavatórios, 36% em chuveiros, 6% e 5% na cozinha e para bebidas, respectivamente, 5% para lavar roupas e 9% para fins menos nobres como limpeza e irrigação de jardins [BRASIL, 2016].

Nota-se, portanto, a economia decorrente da implantação de um sistema de captação e aproveitamento de águas pluviais poderia representar valores da ordem de aproximadamente 50% do consumo total. Em prédios públicos os números podem ser mais significativos ainda, posto que demandas exigentes de recursos em edificações residenciais são inexistentes, tais como chuveiros. Entretanto, o conceito de reaproveitamento da água é novo nos órgãos públicos, sendo que passou a ser tratado como assunto oficial pela Agência Nacional de Águas (ANA) apenas em 2002 [PINHEL et al, 2007].

Segundo Hagemann (2009), uma solução como a proposta compreende componentes tais como área de captação, condutores horizontais e verticais (calhas e tubulações de descida), filtros ou grades para remover materiais grosseiros, dispositivo de descarte da primeira chuva e reservatório para acumulação da água.

A área de captação geralmente compreende telhados de casas ou indústrias, os quais podem apresentar características diversas que devem ser consideradas no projeto, como o tipo de cobertura, que pode ser em telha de Fibrocimento, cerâmica, de zinco, de concreto, entre outros. Ainda deve ser analisada a inclinação, a qual usualmente está associada ao tipo de material do qual o revestimento adotado é composto [TOMAZ, 2009]. A análise da composição físico-química é particularmente importante para se evitar a contaminação da água da chuva por componentes tóxicos.

Condutores horizontais e verticais são dispositivos comumente fabricados em poli cloreto de vinila (PVC), plástico ou algum outro material inerte. Dimensionados segundo os critérios da NBR 10.844 (1989), que determina a observação do período de retorno adequado para a precipitação, a vazão de projeto e a intensidade pluviométrica. Além disso, necessitam de inspeção e limpeza periódica, com fins de se evitar que impurezas sejam coletadas pelo sistema.

São previstas grades com o objetivo de separar galhos, folhas e outras sujeiras que porventura venham a ser trazidas pela água. A instalação de filtros decorre da necessidade de retenção de porções menores ou até mesmo micro-organismos presentes na água [MARINOSK et al, 2004].

A primeira chuva, especialmente após um período prolongado de estiagem costuma conter excesso de matéria orgânica como folhas, poeira, insetos, excremento de pássaros e outras partículas sólidas depositadas pelo vento [HAFNER, 2007]. Ademais, pode conter agentes químicos agressivos que permanecem suspensos na atmosfera e são arrastados durante a precipitação. Por isso o descarte inicial corresponde a uma etapa importante no processo de coleta da água da chuva. A NBR 15.527 (2007) recomenda que sejam descartados os 2 mm iniciais de precipitação.

O reservatório para armazenamento deve garantir a proteção do calor e da luz, para evitar a formação de um ambiente favorável à reprodução de bactérias e algas. Os materiais empregados na fabricação são diversos, como fibra de vidro reforçada, polietileno, aço-carbono, concreto armado, alvenaria estrutural, dentre outros [JAQUES, 2005].

Um sistema de captação e aproveitamento de água pluvial pode ser sucintamente descrito como uma área de cobertura predial da qual a água escoa por meio de condutores verticais e horizontais que a direcionam para um reservatório [FERNANDES et al, 2007]. Dessa forma, a energia da gravidade funciona como força motriz do conjunto, o que evita a necessidade da utilização de outras fontes geradoras, como a elétrica.

Entretanto, em fase posterior, para o aproveitamento dos recursos auferidos, encontra-se a necessidade de bombeamento para um reservatório elevado, particularidade esta inclusive contemplada pela NBR 15.527 (2007), a qual estipula os parâmetros que devem ser atendidos para a devida instalação, nos termos interpostos pela NBR 12.214 (1992).

Hafner (2007) cita outro benefício potencial que se pode obter através da implantação do sistema, que configura na redução do escoamento superficial, com consequente diminuição da carga nas redes públicas de coleta de águas pluviais e o arrefecimento dos picos de enchentes, o que colabora para a prevenção de inundações.

Autores: Carlos Cesar de Araújo Junior e Andréa Teresa Riccio Barbosa.

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