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Avaliação de sistema alternativo de esgoto visando reúso de água em plataforma de petróleo offshore

Resumo

O presente trabalho, desenvolvido em uma plataforma de petróleo offshore, tem como objetivo avaliar a utilização de um sistema alternativo de tratamento de esgoto visando o reaproveitamento de água na indústria. O projeto foi elaborado sob a perspectiva de viabilidade técnica, econômica e ambiental, tendo em vista a redução do consumo de água e de custos operacionais. O estudo foi baseado nas diretrizes da NBR 13969 (1997) e recomendações técnicas de Trovati (2004) e da Environmental Protection Agency (2012), de modo a permitir a reutilização da água de forma segura e racional, minimizando ainda os custos de implantação do projeto. Foram definidos os sistemas que utilizarão o esgoto tratado, o volume a ser reutilizado, o grau de tratamento necessário, o sistema de reservação e distribuição, descrito o funcionamento de cada sewage (sistema de tratamento de esgoto) e indicados os procedimentos de operação do sistema de reúso de água. Os resultados se mostraram bastante atraentes pelo potencial de economia de água, pela redução de custos operacionais e também pelo reduzido período de payback.

Introdução

Todas as atividades econômicas se desenvolvem com a presença de água, o que faz com que a água deixe de ser vista como recurso natural e passe à condição de mercadoria, sujeita à disponibilidade ou escassez (LUNA, 2007 apud VIANA, 2015). A insuficiência desse recurso provoca tensões entre os diferentes usuários, e podem intensificar-se, tanto a nível nacional quanto internacional (WWC, 2016). A falta de água traz ainda sérias consequências econômicas, sociais e ambientais, das quais podem ser citadas: perdas de produção (GONZALES, 2011), conflitos pelo acesso e direito de uso (UNESCO, 2009), destruição da biodiversidade (CARVALHO, 2012), dentre outros.

A escassez da água, seja ela causada por consumo excessivo ou por poluição, encontra solução por meio das ferramentas de conservação (WEBER, 2010). De acordo com o New Mexico Office of the State Engineer (1999), a conservação é definida como toda e qualquer ação que reduza a quantidade de água extraída da natureza, seu consumo, suas perdas e desperdícios, e que torne seu uso mais eficiente, promovendo sua reciclagem e seu reúso ou prevenindo sua poluição. Na literatura, os estudos sobre projetos de reutilização de água têm recebido muita atenção (HALIM, 2015); de acordo com Detoni (2007) muitas tecnologias já desenvolvidas possibilitam desacelerar de maneira controlada seu consumo perigosamente rápido.

De uma maneira geral, a prática do reúso só pode ser aplicada caso as características do efluente disponível sejam compatíveis com os requisitos de qualidade exigidos pela aplicação na qual se pretende usar o efluente como fonte de abastecimento (FIESP, 2004). Além disso, o órgão gestor deve ainda manter um programa de pesquisa e monitoramento na rede de água distribuída, coletando amostras e realizando análises sistemáticas (SILVA, 2011).

A água residuária pode ser classificada basicamente em dois tipos; água negra, oriunda do vaso sanitário, e água cinza, proveniente dos demais usos, tais como, chuveiros, banheiras, pias e máquinas de lavar roupas (THAKUR, 2013). Quanto ao reúso da água, a utilização de águas cinzas se mostra uma boa opção devido à menor quantidade de matérias orgânicas e patógenos, o que torna o tratamento mais fácil e por métodos mais simples (SELLA, 2011; THAKUR, 2013). Normalmente podem ser reutilizadas para fins que não requerem água potável, tais como: vasos sanitários, limpeza industrial, redes de combate a incêndio, resfriamento, linhas de produção, ajuste de pH, dentre outros (EPA¹, 2009).

Muitos estudos de caso têm comprovado a eficiência da utilização de águas residuárias nos diferentes setores fabris. Dentre os estudos realizados pode-se destacar o reúso da água nas indústrias de ferro e aço (ÇAĞIN, 2011; SINHA, 2014), papel e celulose (ALEXANDERSSON, 2004), produtos têxteis (TWARDOKUS, 2004), químicos (MARTINS, 1999), metalúrgicos (MARON JÚNIOR, 2006), e alimentícios (FISPAL, 2016). O lodo residual, proveniente do tratamento da água, também tem suas aplicações; estudos demonstraram a possibilidade de sua utilização para geração de energia elétrica ou térmica (BURANI, 2003; RUBIM, 2013).

A indústria de petróleo e gás tem desenvolvido tecnologias que otimizem seus processos de exploração e produção; entretanto, pouco se tem publicado no que diz respeito à reutilização de águas residuais nesse setor (MURICHU, 2015). Em alguns casos, o reaproveitamento desse recurso pode se dar de maneira bastante simplificada, por meio de modificações da rede de água; já em outras situações podem ser necessárias mudanças tecnológicas para viabilizar esse processo (HALIM, 2015).

De acordo com Murichu (2015), a reutilização de águas residuais tem um efeito significativo sobre os custos de operação, além de ser um tema importante relativo a questões ambientais ou de relações públicas para empresas de petróleo e gás. Acrescenta ainda que reduzir o custo associado à eliminação de águas residuais pode representar uma fonte de vantagem competitiva, além de reduzir o volume que necessita ser tratado (ALLEN, 2010).

Com base nesses aspectos, foram definidos como objetivos do presente trabalho avaliar o atual sistema de tratamento de esgotos de uma plataforma offshore (sewage biológico) e propor melhorias (mudança de projeto) visando a utilização de um sistema alternativo de tratamento de esgoto (sewage biológico + sewage físico-químico) visando reúso de água.

Autores: Gustavo da Silva Oliveira Porchera e Danieli Soares de Oliveira.

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