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Avaliação da remoção de nitrogênio amoniacal no tratamento combinado de esgoto doméstico e lixiviado de aterro sanitário na estação de tratamento de esgotos alegria

Resumo

Neste trabalho foi avaliada a remoção de nitrogênio amoniacal no tratamento combinado de esgoto sanitário e lixiviado de aterro sanitário na estação de tratamento de esgotos Alegria. A partir de 2013 a estação de tratamentos de esgotos Alegria, localizado no Caju, bairro da região portuária da cidade do Rio de Janeiro, iniciou uma série de estudos com o objetivo de avaliar o impacto do lançamento de chorume no tratamento de esgotos. A ETE Alegria opera com tratamento secundário por lodos ativados. As razões volumétricas de chorume afluente a estação não ultrapassaram o valor de 1%. A carga afluente de amônia foi de 780 ton/ ano em 2015 e 870 ton/ano em 2016. A carga de chorume afluente foi de 74 ton/ano em 2015 e 100 ton/ano em 2016. A carga de amônia no efluente foi de 180 ton/ano em 2015 e 110 ton/ano em 2016. Estes resultados evidenciaram pouco impacto do recebimento de chorume quando avaliado a remoção de amônia. Resultados elevados de remoção de nitrogênio total ao longo no período de 2014 a 1016 sugerem a ocorrência de processos de desnitrificação, carecendo, entretanto, de maiores estudos.

Introdução

A geração do lixiviado de aterros sanitários (chorume) tem sido apontada como um dos principais problemas na gestão de aterros sanitários no Brasil. O lixiviado tem origem na percolação da água da chuva e da umidade natural do lixo pelas diversas camadas do aterro e da água produzida pela decomposição química e microbiológica depositada no aterro. Esse resíduo produzido tem composição variável, pois depende entre outras coisas, do material depositado, e da idade do aterro (Maia et al., 2015; Morais et al., 2006).

O lixiviado de aterro sanitário é uma mistura complexa contendo matéria orgânica, metais pesados, substâncias inorgânicas recalcitrantes, tais como ácidos húmicos e fúlvicos, e elevada concentração de amônia. O potencial poluidor do lixiviado se deve as altas concentrações de matéria orgânica e amônia. O despejo do lixiviado in natura pode causar sérios danos ambientais no corpo hídrico receptor, bem como a infiltração no solo pode contaminar aquíferos (Brennan et al., 2016; Mannarino et al., 2011).

Processos biológicos e físico-químicos têm sido utilizados para o tratamento do chorume. No Brasil o tratamento biológico é o mais utilizado, devido à facilidade, e o baixo custo do mesmo, entretanto esta forma de tratamento é limitada pela biodegrabilidade do chorume, que tende a diminuir para aterros sanitários mais velhos. Valores de biodegrabilidade (relação DBO/DQO) maiores que 0,4 indicam uma fração biodegradável considerável, e neste caso os processos de tratamento biológicos são os mais adequados. Se essa relação é menor que 0,1 indica-se preferencialmente a utilização de processo físico-químico (Maia et al., 2015; Hamada et al., 2004).

MacBean et al. (1995) apontam que, entre as diversas formas de tratamento de lixiviado de aterro sanitário, a o tratamento combinado com esgotos domésticos é frequentemente a mais utilizada. Renou et al. (2008) em revisão dos diversos processos de tratamento de chorume apontam a preferência pelo tratamento combinado com esgotos domésticos, devido os baixos custos operacionais. Entretanto, apontam a limitação deste processo para lixiviados de aterros velhos, devido à baixa degrabilidade. Yuan et al. (2015) estudaram o impacto da concentração elevada de amônia no recebimento de lixiviado de aterro sanitário na estação de tratamento de esgotos de Winnipeg, chegando a conclusão que a elevada carga não impacta o sistema de tratamento por lodos ativados, numa razão volumétrica de 2,5%, tendo inclusive encontrado uma melhora no desempenho da nitrificação. Brennan et al. (2016) avaliaram desempenho de três estações municipais de tratamento de esgotos domésticos que recebiam lixiviado de aterro sanitário, chegando a conclusão que o recebimento de lixiviados por estas estações municipais era a solução mais sustentável para o tratamento de lixiviados de aterros sanitários naquela região.

A partir de abril 2013 com a entrada em operação do aterro sanitário de Seropédica, que recebe os resíduos sólidos do munícipio do Rio de Janeiro, e parte da Região Metropolitana, a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Alegria, localizada no bairro Caju, zona portuária do Rio de Janeiro, iniciou-se um estudo de viabilidade para recebimento de lixiviado deste aterro para tratamento combinado.

A ETE Alegria opera em dois níveis de tratamento, o primário por meio de processo físico, e o secundário por meio de lodos ativados. São recebidos em média 130.000 m3 por dia de esgoto bruto para tratamento, e no estudo de viabilidade estabeleceu-se um processo de aumento gradativo da carga de recebimento do lixiviado, respeitando a razão volumétrica de 1%, até chegar a presente data a um recebimento médio diário de 360 m3 de lixiviado. No estudo de viabilidade caracterizou-se o chorume de acordo com todos os parâmetros físicoquímicos descritos na CONAMA nº 430, bem como se realizou o acompanhamento do impacto deste recebimento na qualidade do efluente final através de monitoramento com base na mesma resolução CONAMA, incluindo ensaios de toxicidade, e na microbiota do lodo ativado.

Autores: Robson Campos dos Santos Junior; Sheila Barbosa Martins; Alessandra Pereira e Tereza Cristina Reis da Silva.

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