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Reator com lodo granular aeróbio: Solução para tratamento de esgoto no brasil?

Resumo

Desenvolvido na Holanda, o Reator com Lodo Granular Aeróbio (RLGA) possui funcionamento semelhante ao do lodo ativado em bateladas sequenciais, porém, percebeu-se que, dependendo das condições operacionais, o lodo pode granular e assumir propriedades bastante favoráveis para o tratamento de esgoto sanitário. Sendo que esta tecnologia teve por origem um país de clima frio e onde se produz esgoto com características diferentes, a transferência dessa tecnologia não pode ser feita diretamente. O objetivo deste trabalho é a discussão de aspectos relativos à composição do esgoto sanitário brasileiro, às condições operacionais das estações, à formação de lodo a ser tratado e descartado, bem como as exigências de qualidade do efluente final, que possam influenciar na difusão desta modalidade de tratamento no Brasil. Conclui-se, à luz do conhecimento dos fundamentos da ciência do tratamento e esgoto, das informações provenientes da literatura internacional e da experiência inicial no Brasil, que a potencialidade deste tipo de tratamento de esgoto é de grande interesse, tendo em vista o nível elevado de qualidade do efluente tratado e o alto grau de compacidade da estação, reunindo condições para solucionar inclusive as situações mais complexas. Mesmo com temperaturas mais elevadas no Brasil, característica favorável para os processos bioquímicos envolvidos no tratamento de esgoto, há dúvidas sobre os tempos de reação necessários para a remoção simultânea de matéria orgânica e de nutrientes. Há obstáculos também a respeito da estabilidade do processo de granulação. Algumas características do esgoto brasileiro podem afetar negativamente o processo, como a baixa concentração de fósforo e a elevada concentração de óleos e graxas. O elevado nível de automação requerido pelo processo deverá exigir maiores cuidados operacionais do que os verificados em nosso país e a solução para a elevada produção de lodo não digerido deve ser levada em consideração nos estudos de alternativa para a implantação de estações de tratamento de esgoto.

Introdução

Os processos de tratamento de esgoto sanitário podem ser agrupados em relação à imposição ou não de algum dispositivo de retenção de biomassa. Reter biomassa (ativa), significa permitir que os microrganismos responsáveis pelas reações bioquímicas permaneçam maior tempo no reator do que o esgoto sanitário. Ou seja, é necessário fazer com que o tempo médio de residência celular (também conhecido por tempo de retenção de sólidos ou idade do lodo) seja maior que o tempo de passagem do esgoto (ou tempo de detenção hidráulica). Os processos de tratamento que não possuem este recurso são incipientes e resultam em elevados volumes de tanques, como, por exemplo, as lagoas de estabilização.

Nos filtros biológicos, a retenção da biomassa é feita mediante a introdução de material suporte para propiciar o crescimento de biomassa aderida. No caso dos reatores com crescimento biológico em suspensão na massa líquida, como é o caso do processo de lodo ativado, a retenção de biomassa é feita por meio de retorno de lodo do decantador secundário para o tanque de aeração. Esta é uma característica do lodo ativado de fluxo contínuo. Já para a operação em bateladas sequenciais, não há a necessidade de um decantador secundário e a etapa de sedimentação ocorre no próprio reator biológico, permitindo, da mesma forma, a concentração da biomassa.

O reator de bateladas sequenciais (RBS) tem sido utilizado com grande intensidade para o tratamento de esgoto no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, visando sobretudo à obtenção de um efluente clarificado, que possa ser desinfetado eficientemente e assim garantir uma boa qualidade. Por isso o RBS, é um sistema muito implementado em zonas costeiras para garantir o bom nível de balneabilidade de praias. Por ser também um processo com características favoráveis para adaptar a remoção simultânea de matéria orgânica e nutrientes, o interesse pelo RBS tem crescido paralelamente ao aumento da efetiva cobrança dos padrões legais de nitrogênio e fósforo nas águas naturais. Pode-se afirmar que o domínio dessa tecnologia no Brasil é pleno e o seu emprego tem sido expandido para diversas condições, seja em situações de grande ou pequeno portes. Recentemente, foi descoberto que, dependendo das condições operacionais do RBS, os flocos de lodos ativados podem ser convertidos em grânulos, os quais são partículas maiores e mais densas com características bastante favoráveis para o tratamento de esgoto sanitário. Trata-se do chamado reator com lodo granular aeróbio (RLGA), ainda pouco conhecido e utilizado no Brasil.

Autores: Andrei Rosental Buarque de Gusmão; Natália Rodrigues Guimarães; Fabio Campos; Fernanda Cunha Maia e Roque Passos Piveli.

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