BIBLIOTECA

Reaproveitamento de lodos de saneamento de ETA, fossa e tanque séptico como matéria-prima na construção civil: uma revisão

Resumo

A problemática da gestão dos resíduos de saneamento e os impactos da má disposição geram uma crescente necessidade de se buscar alternativas de destinação e aproveitamento destes materiais. A disposição dos lodos de saneamento pode resultar em impactos ambientais em grande escala e por isso deve-se buscar formas de agregar valor a esse resíduo e o reinserir no processo produtivo. Uma forma é a utilização como matéria-prima para a fabricação de materiais de construção civil. O objetivo desta revisão bibliográfica foi levantar oportunidades de pesquisa abordando o reaproveitamento dos lodos de fossa e tanque séptico e lodos de ETA. Verificou-se que as principais alternativas já estudadas para reuso dos lodos de saneamento são: produção de materiais de construção incorporados ao cimento ou cerâmicos, disposição em áreas degradadas e aterros sanitários, coprocessamento, entre outros. Esta pesquisa demonstrou que existem diferentes formas de reaproveitamento, podendo ser o uso na composição de novos materiais com características principalmente de concreto e cerâmica. Sendo assim é possível destinar os resíduos de maneira adequada, buscando evitar os impactos ao meio ambiente, oportunizando o desenvolvimento de produtos de qualidade superior, quando comparados aos tradicionais provenientes de matéria-prima virgem, reduzindo custos de disposição e de produção.

Introdução

O quadro sanitário brasileiro demostra que grande parcela da população não tem acesso aos serviços de coleta de esgoto, sendo obrigada a recorrer a sistemas individuais de tratamento ou a lançar diretamente os esgotos em valetas, galerias pluviais ou exatamente no corpo receptor (CARVALHO & ANDREOLI, 2015).

O uso de fossas e tanques sépticos como tratamento individualizado faz parte do que tem sido proposto pelo Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), como forma de universalização do saneamento no Brasil. Ou seja, deve ser incluído como estratégia de gestão do saneamento pelos municípios e pelas companhias de saneamento. O que mais diferencia uma fossa de um tanque séptico é o fato do tanque séptico ser uma unidade de tratamento de esgotos, o qual possui um efluente que necessita ter um destino final, e geralmente a disposição local de esgotos que ocorre é a infiltração no solo através de sumidouro ou valas de infiltração. Já a fossa é utilizada para disposição final dos esgotos. Ou seja, ambos são funcionalmente bastante distintos (ANDREOLI, 2009).

Já com relação ao lodo de Estação de Tratamento de Água (ETA) sabe-se que o processo de tratamento de água convencional utilizado na grande maioria dos sistemas de abastecimento, produz na fase de sedimentação e filtração um resíduo composto por materiais concentrados existentes na água bruta, acrescido de coagulantes (sais de alumínio ou ferro) e carbonatos, que é o lodo de ETA (DI BERNARDO, 2005).

Apesar da frequente utilização do sistema convencional, os lodos provenientes dos decantadores das ETAs têm composições diferenciadas quando comparados entre si. Isso ocorre por vários fatores como: qualidade da água bruta, concentração e tipo de produto químico utilizado para coagulação e auxiliares de coagulação, tipo de decantador, a forma de limpeza dos filtros, polímeros empregados na etapa de desaguamento, entre outros. Segundo a NBR-10004 (ABNT, 2004) os lodos de ETA são classificados como “resíduos sólidos” devendo, portanto, ser tratados e dispostos como tal. Entretanto, estes resíduos poderiam ser classificados como simples efluentes líquidos do processo de tratamento de água o que alteraria consideravelmente as opções para seu destino final (DI BERNARDO, 2012).

Devido aos poucos estudos e da grande variação da composição do lodo de ETA, o real impacto causado pela sua disposição final não é bem conhecido. Estima-se que 2.000 toneladas de lodo por dia são lançadas nas águas brasileiras sem nenhuma forma de tratamento (CORDEIRO, 1993).

Outro problema recorrente se refere a definição da destinação final do lodo séptico que acarreta em um custo adicional para a gestão das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) que o recebem. A adequação das ETEs, bem como sua operação para o recebimento deste resíduos representam custos que geralmente não estão previstos nos planos de gestão. Os programas de gestão de lodo séptico devem, portanto, avaliar os casos específicos para que se possa dimensionar os custos caso a caso, a fim de dar a necessária segurança para embasar tecnicamente esta opção tecnológica e definir a questão dos custos envolvidos (CARVALHO & ANDREOLI, 2015).

Uma opção de destino do lodo de ETE e de ETA é utilizá-lo como matéria prima para geração de materiais de construção civil. Atualmente, a reciclagem e, de forma geral, o aproveitamento de resíduos, surgem como uma necessidade para alcançar o equilíbrio dos ecossistemas e sua sustentabilidade. Nesse contexto, o Brasil vem contribuindo com pesquisas em diversas áreas com destaque na agricultura, construção civil e, recentemente, nas áreas de resíduos derivados do saneamento ambiental, nos quais se incluem os lodos sépticos e lodos do tratamento de água (INGUNZA et al., 2015).

Para que o crescimento da população brasileira seja sustentável será necessária a elaboração e incorporação de novas estratégias de mitigação das pressões exercidas aos recursos naturais pela extração de matéria-prima, de forma a suprir a crescente demanda. Com o aumento da urbanização e índices de saneamento do país a tendência é de se aumentar consideravelmente o volume dos lodos gerado nas cidades brasileiras, necessitando com isso de grandes áreas de aterros sanitários para destinação destes resíduos, espaços estes cada vez mais escassos e caros. Neste sentido a adoção de técnicas de reutilização de materiais, reciclagem e incorporação de certos resíduos urbanos, no processo construtivo, poderia aliar preservação de recursos naturais com ganho econômico e produtividade (INGUNZA et al., 2015).

Diferentes maneiras de aproveitamento dos lodos de saneamento como materiais de construção estão sendo sugeridas internacionalmente e nacionalmente como alternativas seguras para a disposição final destes resíduos, os quais serão expostos neste trabalho.

Autores: João Henrique Mine; Stéphanie Abisag Sáez Meyer Piazza; Urivald Pawlowsky e Vsévolod Mymrine.

ÚLTIMOS ARTIGOS: