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Monitoramento dos córregos – ferramenta de gestão do processo esgoto com engajamento da sociedade – estudo de caso do córrego Mandaqui

Resumo

É sabido que para se atingir um bom nível na qualidade das águas dos córregos é necessário que, além das grandes ações estruturais no sistema de esgotamento sanitário (implantação de redes de coleta, coletores-tronco, estações elevatórias, etc), sejam realizadas ações operacionais complementares e promovido um trabalho de conscientização e envolvimento da população residente nas bacias.

O córrego tido como objeto deste trabalho é o Mandaqui, inserido na zona norte da cidade de São Paulo. O mesmo possui 33 subbacias e com uma área total de 19,5 km². A maioria das obras para despoluição do córrego foram realizadas entre 2011 e 2014. O volume de esgotos que deixaram de ser escoados para o córrego foi da ordem de 100 litros por segundo.

A partir de análises da Demanda Bioquímica de oxigênio – DBO, indicador utilizado para medir a poluição orgânica dos cursos d’água, é possível verificar a qualidade das águas nos córregos entregues como despoluídos e com o acompanhamento dos indicadores Índice de Obstruções em rede Coletora – IORC e do Índice Numérico de Tratamento dos Esgotos Coletados – INTEC também se obtém importante controle e melhoria na gestão do processo esgoto, pois, o mapeamento das áreas com alto número de obstruções indica possíveis anomalias na rede que ocasiona impactos negativos na qualidade da água dos córregos.

Outro fator de igual importância para degradação dos cursos d’água, além dos esgotos, é a poluição difusa, caracterizada pelo lixo e entulhos diversos que possivelmente são descartados irregularmente por moradores do entorno dos córregos. Concorre, nesse sentido, contribuindo para o aumento dessa poluição excrementos de animais domésticos, lavagem de ruas, calçadas e quintais, fuligem de chaminés, da queima de combustíveis fósseis e da própria pegada de carbono oriunda da presença humana.

Devido à dificuldade de manter o córrego despoluído após a execução das obras e serviços, a prática adotou a Governança Colaborativa trazendo um forte viés social, para promover ações de conscientização e envolvimento da sociedade na manutenção dos córregos.

Introdução

A poluição da água é causada pelo lançamento direto de esgotos domésticos ou efluentes industriais nos corpos d’água, ou nos casos em que os esgotos após tratamento ainda contenham carga orgânica não removida. A poluição também pode se dar pelo lançamento indireto de resíduos sólidos, que é chamado de poluição difusa, onde os resíduos dispostos no solo são posteriormente carreados, lixiviados ou solubilizados pela água pluvial atingindo os corpos d’água superficiais ou as águas subterrâneas. Outra fonte de poluição provém da chuva que captura partículas e gases do ar (DANIEL, 2013).

Segundo Philippi Jr. (2005), o estresse ambiental se acentua quando o esgoto é lançado em algum corpo d’água corrente. De imediato, algumas mudanças na qualidade da água receptora podem ser notadas como: aumento da matéria orgânica, diminuição de oxigênio dissolvido e presença de substâncias nocivas, como produtos químicos, entre outras.

Com o objetivo de melhorar a qualidade dos grandes rios que cortam o município de São Paulo e reverter a situação de degradação das bacias de parte dos córregos da cidade, em 2007, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) junto com a Prefeitura do Município de São Paulo (PMSP) iniciaram em 2007 o Programa Córrego Limpo.

A bacia hidrográfica do córrego do Mandaqui está localizada no Município de São Paulo, na margem direita do Rio Tietê, tendo sua cabeceira junto a Serra da Cantareira. Possui 19,85 km² de área e apresenta uma ocupação residencial de 87% e comercial/ industrial de 13%. A extensão de rede coletora da bacia é de 440 km e a população atendida é de 457.000 habitantes. A extensão do córrego Mandaqui é de 7,3 Km e de seus afluentes 32,9 Km, ou seja, a extensão total de córregos na bacia é de 40,2 Km (SABESP, 2015).

Devido à dificuldade de manter o córrego despoluído após a execução das obras e serviços, pois a população do entorno continua a lançar lixo diretamente nas ruas e nas margens desse córrego, causando obstruções constantes nas redes de esgotos e aumentando a carga difusa das águas, foi incluída, em 2010 ao Programa Córrego Limpo a prática da Governança Colaborativa (SABESP, 2015). A Governança Colaborativa é uma metodologia estratégica que envolve parcerias entre atores sociais e governos instituídos, que buscam soluções práticas que dizem respeito aos problemas públicos. É o reconhecimento do poder de atuação de uma organização social (CEBRAP, 2010).

Autora: Raquel Góis de Carvalho.

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