Resumo
O monitoramento de recursos hídricos representa um importante instrumento de conhecimento da qualidade das águas e seu comportamento ao longo do espaço e tempo. Sabe-se que o crescimento urbano às margens de ecossistemas aquáticos causa degradação da qualidade das águas levando à eutrofização artificial.
Este processo pode causar expressivos prejuízos à sociedade, especialmente no que tange a problemas de saúde pública e de redução do potencial de irrigação, de produtividade pesqueira, de balneabilidade e de inúmeras outras possibilidades de uso. As razões pelas quais nasceu o interesse em desenvolver este trabalho estão ligadas ao aumento elevado no consumo de água subterrânea a partir da década de 60 e o desenvolvimento urbano irregular na cidade de Ribeirão Preto. Algumas razões deste aumento do consumo de água nas cidades estão relacionadas ao aumento da utilização da água para irrigação na produção agrícola e ao aumento na perfuração de poços de forma desordenada.
Assim, o principal objetivo deste estudo foi monitorar, durante os anos de 2012 a 2014, a qualidade da água das lagoas nomeadas Saibro, Pesqueiro e Recreio Internacional na cidade de Ribeirão Preto, SP, locais considerados área de afloramento do Aquífero Guarani, a fim de oferecer à sociedade informações sobre as condições da água e iniciativas de conscientização ambiental. Os resultados demonstram que estes ambientes vêm sendo impactados negativamente pela ausência de Áreas de Preservação Permanente (APPs), presença de efluentes domésticos, despejo de resíduos sólidos e erosão, além dos baixos índices pluviométricos na região, o que agrava a disponibilidade e a qualidade da água subterrânea.
Introdução
A água, um dos mais preciosos recursos naturais, é um bem essencial à vida, sobre a qual grande parte das atividades sociais e econômicas bem como as funções dos ecossistemas são dependentes (WWDR, 2015). A demanda por sua utilização para fins agrícolas, industriais, domésticos e de lazer está aumentando rapidamente. A escassez hídrica, situação em que a disponibilidade hídrica é insuficiente para atender as demandas, já é evidenciada em várias partes do mundo (ASSOULINE et al., 2015; GIRI; QIU, 2016).
O ciclo hidrológico, provido de grandes contribuições dos reservatórios de água subterrânea, fornece água para consumo humano, agricultura, indústria e ecossistemas dependentes destas águas, especialmente durante as secas (KLØVE et al., 2013). A mudança climática prevista irá agravar estas preocupações em muitas partes do mundo, reduzindo a precipitação e aumento da evapotranspiração, sendo que ambos irão reduzir afloramento e, possivelmente, aumentar as taxas de retirada de água subterrânea (TREIDEL et al., 2012).
Um dos maiores reservatórios de água doce do mundo, o Sistema Aquífero Guarani (SAG), é altamente exposto a uma contaminação potencial, principalmente devido aos avanços das tecnologias agrícolas e a exploração contínua em áreas consideradas como naturalmente vulneráveis. A presente área de estudo, localizada no município de Ribeirão Preto, nordeste do estado de São Paulo, localiza-se em área de afloramento do Aquífero Guarani. Uma vez que o estado de São Paulo apresenta o maior contingente populacional no Brasil, com 44 milhões de habitantes, aproximadamente 21,7% da população brasileira (IBGE, 2016), as demandas atuais do uso e cobertura da terra podem aumentar a poluição do aquífero (CUNHA et al., 2016; SANTOS et al., 2015).
O processo de urbanização das cidades vem sendo acompanhado por alterações marcantes no uso e na ocupação do solo (GIRI; QIU, 2016). Essa descaracterização do meio natural, proveniente das ações antrópicas, pode ocasionar impactos ambientais negativos nos recursos hídricos. Um dos reflexos mais evidentes da crise ambiental da sociedade contemporânea está alicerçada no desenvolvimento socioeconômico, mudança dos hábitos de consumo e na acelerada redução qualitativa e quantitativa dos recursos naturais (GIRI; QIU, 2016; JUNIOR et al., 2011).
A ocupação do solo por atividades humanas tem alterado sensivelmente o equilíbrio de processos biológicos, físicos e químicos dos sistemas naturais, que juntos determinam o padrão de qualidade dos recursos (CUNHA et al., 2016). As alterações antrópicas mais comuns da qualidade em recursos hídricos caracterizam-se pela supressão da cobertura vegetal e pelo lançamento de águas residuais domésticas e industriais aos corpos hídricos (BERTINI et al., 2015; BORGES et al., 2015).
As transformações nos corpos hídricos ocasionadas pela urbanização podem ser mensuradas e diagnosticadas pelo controle da qualidade das águas superficiais (SOUZA; MELLO, 2012). O monitoramento da qualidade é um dos principais instrumentos de planejamento e gestão de recursos hídricos, visto que funciona como ferramenta de controle e acompanhamento do processo de uso dos corpos hídricos (GUEDES et al., 2012); dentre os parâmetros mais estudados na limnologia estão a temperatura da água e o oxigênio dissolvido (MEINSON et al. 2016).
Neste sentido, o objetivo deste estudo foi avaliar as condições das Áreas de Preservação Permanente (APPs) e analisar parâmetros limnológicos em três lagoas urbanas na cidade de Ribeirão Preto, SP, localizadas na área de afloramento do Aquífero Guarani.
Autores: Thaís Vilela Silva; Carolina Sampaio Machado;Guilherme Sgobbi Zagui; Susana Inés Segura-Muñoz e Analu Egydio dos Santos.
