BIBLIOTECA

Fármacos: estudos sobre a eficiência de remoção em estações de tratamento de esgotos e ensaios de toxicidade

Resumo

Considerando o aumento dos conhecimentos na área da química ambiental e a atuação do comitê científico de toxicologia, ecotoxicologia e ambiente identificou-se, a necessidade da obtenção de dados sobre os efeitos dos fármacos no ambiente. A literatura científica comenta que a presença de fármacos no ambiente é, geralmente, pequena quando comparada a outros produtos químicos. No entanto, a alta persistência de vários destes compostos e sua contínua reposição aumentam o risco de exposição crônica para os organismos aquáticos, como também para os humanos. No Brasil, assim como em outros países, muitos compostos já foram identificados, em várias matrizes ambientais, apresentando variações quanto a remoção em plantas de tratamento de esgoto. Estes compostos e seus metabólitos são introduzidos no ambiente, pelo esgoto em quantidades que superam 100 toneladas/ano. Um destes compostos, o Hidrocloridrato de Fluoxetina, tem sido reportado como causador de distúrbios em organismos aquáticos. Nesse sentido, esse trabalho apresenta os resultados obtidos na avaliação da eficiência de remoção de fármacos em plantas de tratamento de esgoto, com base na literatura especializada, e desenvolve ensaios de toxicidade para o fármaco Hidrocloridrato de Fluoxetina. Os resultados obtidos demonstraram que o fármaco em estudo foi parcialmente degradado pelos organismos no sistema teste com uma remoção aproximada de 27%. Os dados obtidos experimentalmente, estão de acordo com o que foi predito pelo modelo de relação quantitativa entre estrutura e atividade (Q’SARS), em torno de 32%. Os ensaios toxicológicos indicaram que os fármacos apresentam toxicidades diferentes entre as formulações estudadas: CE50=47,74% (comercial), CE50=37,76% (genérico) e CE50=66,24%(princípio ativo puro), no teste utilizando o organismo Vibrio fischeri. A avaliação da toxicidade das amostras geradas pelo sistema de respirometria apresentaram uma redução na toxicidade, a medida que a biodegradação se processa. O testes com Ceriodaphinia dubia apresentou redução em torno 25% (CE50-24horas=0,87ppm – 1,16ppm) e com o organismo Vibrio fischeri redução em torno 12% (CE50=28,50% e CE50 40,92%). Os ensaios indicam uma possível acumulação ambiental com consequências prejudiciais aos organismos aquáticos.

Introdução

A indústria farmacêutica mundial é considerada como o segundo melhor negócio do planeta, ficando atrás apenas de companhias de petróleo. Segundo a revista inglesa Focus, 2008 apud MORAIS, 2003, o setor faturou em 2002, 406 bilhões de dólares.

O Brasil está entre os cinco maiores consumidores de medicamentos do mundo, com mais de 32 mil rótulos de medicamentos com 12 mil substâncias quando na verdade bastariam 300 itens. Há uma drogaria para cada 3 mil habitantes, mais que o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A variedade de especialidades químicas farmacoterapêuticas bem como os metabólitos gerados, os fármacos excretados inalterados ou na forma conjugada através de urina e fazes, assim como os descartes inadequados e os medicamentos vencidos, indicam a necessidade de estudos relacionados aos aspectos ecotoxicológicos, quantificação e identificação quanto à presença destes compostos nas várias matrizes ambientais e eficiência na remoção dos mesmos (CAMINADA, 2009).

A contaminação das águas superficiais por farmoquímicos tem suscitado preocupações entre cientistas devido ao potencial de efeitos negativos sobre os organismos aquáticos (HENRY, 2005). De particular importância são os compostos farmacêuticos que afetam os sistemas endócrino ou nervoso, pois seus efeitos em organismos aquáticos podem ser observados mesmo em baixas concentrações ambientais. Estudos recentes têm relatado a presença de fármacos, em partes por bilhão em águas superficiais, águas residuais e tratadas. Pouco é conhecido sobre o destino e o comportamento dessas substâncias no ambiente aquático, assim como não está claro quais organismos são afetados e em que grau. Atualmente, uma avaliação do risco ambiental devido à contaminação por fármacos tem sido requerida em vários países.

Diante da problemática quanto ao uso indiscriminado dos compostos farmacêuticos, insegurança quanto ao real efeito que estes produtos possam causar, assim como a falta de procedimentos adequados para seu descarte e tratamento a contaminação ambiental, causada por estes compostos, é um assunto bastante atual no meio científico e preocupante em termos de saúde pública.

A presença destes compostos e/ou seus metabólitos tem sido apontada como causa de inúmeras modificações tanto em nível fisiológico como genético, de organismos aquáticos, e com potencial, bastante provável, de causar doenças ao homem conforme demonstrado em vários artigos científicos.

O monitoramento da eficiência de remoção destes compostos ao passar pelos sistemas atuais de tratamento é de grande importância, pois, no futuro, podem ser necessárias adaptações, ou mesmo a implantação de sistemas de tratamento complementar e mais eficaz, para a remoção de fármacos do ambiente (BROOKS et al., 2002).

Autores: Suzete Maria Lenzi Caminada; Miriam Moreira Bocchiglieri e Wanderley da Silva Paganini.


ÚLTIMOS ARTIGOS: