BIBLIOTECA

Compromisso empresarial brasileiro para a biodiversidade

A perda da biodiversidade vem se consolidando como um dos temas mais críticos na pauta ambiental global

A perda da biodiversidade vem se consolidando como um dos temas mais críticos na pauta ambiental global, sendo considerada um dos três elementos que compõem a chamada “Tripla Crise Planetária”, juntamente com as mudanças climáticas e a poluição.

Entende-se como perda da biodiversidade o declínio ou o desaparecimento da diversidade biológica, incluindo animais, plantas e ecossistemas.

A biodiversidade provê às pessoas uma gama de benefícios naturais que são o alicerce para o bem-estar da humanidade.

À medida que esforços crescentes são envidados para buscar reverter a crise planetária, torna-se cada vez mais clara a relação intrínseca da biodiversidade com outras questões socioambientais de grande relevância atual, como as próprias mudanças climáticas e até mesmo a ocorrência de pandemias como a Covid-19, reforçando que a sua conservação e uso racional são primordiais para a qualidade de vida e a sustentabilidade do planeta.

O valor vital da biodiversidade foi reconhecido pela Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, um abrangente e ambicioso plano de ação que visa promover uma transformação urgente para colocar o mundo em uma trajetória sustentável e resiliente.

Lançada em 2015, a Agenda 2030 compreende 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas, para grande parte dos quais a conservação e o uso sustentável da biodiversidade são considerados fundamentais, seja de forma direta, como no caso dos ODS 14 (Vida na Água) e 15 (Vida na Terra), ou indireta, como para os ODS 2 (Fome Zero e Agricultura Sustentável), 6 (Água Potável e Saneamento) e 13 (Ação Contra a Mudança Global do Clima) .

Paralelamente, a Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) destacou, em sua última avaliação global, o protagonismo da natureza na promoção do desenvolvimento sustentável, por desempenhar um papel crítico na provisão de alimentos, energia, medicamentos, recursos genéticos e uma variedade de materiais essenciais para a saúde humana, bem como na manutenção da cultura, dando suporte a todas as dimensões da qualidade de vida.

No entanto, de forma alarmante, a biodiversidade vem declinando em taxas sem precedentes e as pressões que levam a esse declínio continuam se intensificando.

É de extrema preocupação o atual estado de degradação do planeta, onde cerca de 75% da superfície terrestre encontra-se significativamente alterada, 66% do território oceânico sofrem impactos cumulativos crescentes, mais de 85% de áreas úmidas foram perdidas e, embora a taxa da perda florestal tenha desacelerado globalmente desde 2000, ainda está distribuída de forma desigual e irregular.

Monitoramentos conduzidos entre 1970 e 2018 indicam uma redução média de 69% nas populações de vida selvagem estudadas, com maior declínio regional na abundância média das populações na América Latina (94%), sendo que as tendências populacionais das espécies de água doce monitoradas também estão diminuindo bruscamente (83%)7.

Atualmente, a taxa mundial de extinção de espécies é dezenas e, possivelmente, centenas de vezes superior à taxa média dos últimos 10 milhões de anos, sendo que um número considerável das espécies de animais e de plantas já estão sob ameaça de extinção e deverão desaparecer do planeta em algumas décadas.

No contexto global, os fatores indutores diretos do declínio da diversidade biológica e dos serviços ecossistêmicos com maior impacto têm sido: as mudanças no uso do mar e da terra (principalmente a agricultura), a exploração direta de organismos, as mudanças climáticas, a poluição e as espécies exóticas invasoras.

Estima-se que a economia global já sofra um prejuízo de mais de US$ 5 trilhões por ano devido ao declínio da funcionalidade dos ecossistemas.

É relevante destacar a relação sinérgica entre a biodiversidade e as mudanças climáticas, na qual cada um desses fatores exerce uma forte influência sobre o outro, tanto de forma negativa como positiva, o quereforça a necessidade de convergir os esforços mundiais para a resolução dessas questões de forma integrada.

Nesse sentido, causam grande preocupação os resultados do último relatório do Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC), que afirma que as alterações dos ecossistemas terrestres e aquáticos causadas pelas mudanças dos eventos climáticos estão cada vez mais disseminadas em todo o mundo, com consequências mais abrangentes do que o previsto.

As mudanças do clima têm causado perdas locais de espécies, aumento de doenças e eventos de mortalidade em massa de plantas e animais, provocando, dessa forma, os prováveis primeiros eventos de extinção decorrentes dessas alterações globais.

Outros impactos relevantes identificados pelo IPPC são a reestruturação de ecossistemas, o aumento de áreas queimadas por incêndios florestais e o declínio dos principais serviços ecossistêmicos, o que têm causado perdas econômicas mensuráveis, bem como alterado modos de vida, práticas culturais e atividades recreativas ao redor do mundo.

Evidenciando o elevado nível de dependência que as sociedades humanas e as atividades econômicas têm em relação à natureza, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial revela que a geração de US$ 44 trilhões de valor econômico – mais da metade do PIB mundial – é moderada ou altamente dependente da diversidade biológica e dos serviços ecossistêmicos, estando, portanto, suscetível aos impactos decorrentes de sua perda.

Dessa forma, não surpreende que o Relatório Global de Riscos 2022 do Fórum Econômico Mundial classifique a perda de biodiversidade e o colapso dos ecossistemas como o terceiro maior risco para a economia nos próximos 10 anos, tanto em termos de probabilidade como de magnitude de impacto.

Assim, há um claro entendimento de que a perda de biodiversidade gera riscos materiais para todos os setores produtivos, o que torna primordial que as empresas avaliem e divulguem seus impactos e dependências sobre a natureza, como tem sido feito em relação às mudanças climáticas.

Nesse contexto, destacam-se as diversas iniciativas que têm orientado o setor privado para a execução dessas ações, com uma abordagem de impacto positivo sobre a biodiversidade, tais como Science-Based Targets for Nature (SBTN), The Natural Capital Protocol, Task Force on Nature Related Financial Disclosure (TNFD) e o guia What does nature-positive means for business? do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD).

A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) alerta que o alcance da Visão 2050 de “Viver em Harmonia com a Natureza” requer uma transformação significativa do modelo atual de negócios, que deve envolver de forma abrangente as diversas atividades humanas, com a implementação de mudanças e inovações substanciais em um curto espaço de tempo e envolvendo uma ampla gama de atores em todas as escalas e setores da sociedade.

Para tanto, é crucial que haja uma mudança proativa nas políticas e práticas que têm impulsionado o modelo de crescimento atual e, nesse contexto, as empresas, as instituições financeiras e os formuladores de políticas têm um papel vital a desempenhar, trabalhando junto da sociedade civil para reverter até 2030 a trajetória crescente da curva da perda da biodiversidade.

Fonte:cebds

leia-integra


LEIA TAMBÉM: ESTUDO GLOBAL REVELA PERDA DE BIODIVERSIDADE EM RIOS URBANOS

ÚLTIMOS ARTIGOS: