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Metodologia para determinação do real coeficiente de retorno dos esgotos e os valores obtidos

Resumo

Na elaboração de projetos de sistema de esgotamento sanitário, na ausência de dados locais provenientes de estudos e pesquisas, a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, pela NBR 9649, recomenda a utilização do coeficiente de retorno de 80%. Este valor tem permanecido imutável por décadas até os dias de hoje, sem ser levada em consideração a mudança de hábitos individuais e coletivos da população, a mudança progressiva nas características da arquitetura das moradias e também as formas alternativas de abastecimento estimuladas pelas crises hídricas recentes.

O comportamento da população tem mudado progressivamente à medida que a forma de ocupação nas cidades vem mudando em função da evolução das características arquitetônicas das habitações.

É bastante razoável supor que pela progressiva mudança na obtenção e utilização das águas nas edificações que consequentemente se transformam em águas servidas, pela evolução tecnológica, forma de ocupação e fatores sazonais, os valores do coeficiente de retorno dos esgotos também sofram alterações nos valores tradicionalmente utilizados.

O presente trabalho, resultante de criteriosa medição em bacias de esgotamento previamente selecionadas, vai permitir a obtenção de valores reais e bem consolidados obtidos em laboratórios em verdadeira grandeza, onde o comportamento comum da população é medido ininterruptamente, produzindo uma base de dados consistente.

Apresentaremos a metodologia utilizada, detalharemos o que está sendo feito e os resultados obtidos na etapa inicial e na etapa posterior que está em andamento atualmente, no entanto, estando a metodologia bem desenvolvida e testada.

Introdução

O coeficiente de retorno é uma das condicionantes para o dimensionamento de sistemas de esgotamentos sanitários. Considerando que nem toda a água fornecida pela rede de distribuição retorna para a rede coletora de esgoto, pois parte do consumo per capita quantificado é destinado a lavagens de pisos e pátios externos, de veículos, animais domésticos e rega de plantas, por exemplo.

Por outro lado, a crescente escassez de água potável principalmente nas grandes cidades, tem sido estímulo para que parte da população busque fontes alternativas de abastecimento como a captação de água de chuva e poços individuais. Tais fatos que podem ocorrer em parte ou simultaneamente produzem uma distorção na relação entre o consumo do sistema tradicional de distribuição de água e a contribuição de esgotos por parte dos consumidores. Esta possibilidade de inúmeros cenários gera uma incerteza nos resultados tradicionalmente esperados fugindo do tradicionalmente adotado sendo, portanto, necessário um estudo aprofundado com dados reais e bem determinados para se estabelecer um valor médio mais adequado à realidade atual, ou valores adequados para casos específicos.

Há várias décadas, a relação entre o volume da água recebida pelo usuário e o de esgotos produzidos chamado de coeficiente de retorno dos esgotos, é aceito como sendo de 80%.

Pesquisando em fotografias antigas da Cidade do Rio de Janeiro, datadas do início do século passado até os dias de hoje, é notória a diferença na forma de ocupação imobiliária na cidade e que não difere na média das grandes cidades do Brasil. O tipo de edificação nesses tempos remotos era predominantemente de residências unifamiliares com áreas livres de terreno. Uma boa parte da água recebida pelas residências no passado, era utilizada para rega de plantas, lavagem de pátios e higiene dos animais, sendo a parte restante utilizada para os usos pessoais ou afazeres domésticos.

Temos como exemplo o bairro de Botafogo. Situado na zona sul da Cidade do Rio de Janeiro. Até meados da década de 30 do século passado, a ocupação nesta região era predominantemente formada por residências unifamiliares em vilas. Em 1937, o Código de obras do Distrito Federal de 1937 – Decreto nº 6000 de 01 de julho de 1937, elaborado e editado pelo Serviço de Propaganda Urbanística da Secretaria Geral de Viação e Obras da Prefeitura do Distrito Federal, proibiu a construção de novas vilas, mas ao mesmo tempo autorizou o gabarito de até 10 andares, em 1944, os Projetos de Alinhamento estabeleceram 12 pavimentos como gabarito máximo. Apesar disso, antes de 1950 somente existiam alguns poucos edifícios. A partir de então, particularmente a praia de Botafogo, passa por intensas transformações, com a demolição de todas as casas localizadas em terrenos amplos com a construção de edifícios com muitas unidades de apartamentos, para se burlar a limitação do gabarito de altura previsto por lei, desta forma eram construídos edifícios com muitos apartamentos. Em geral, esses edifícios possuem um longo comprimento e uma fachada estreita, esse formato de terreno possibilita um maior número de imóveis. A partir dos anos 1970 o bairro sofre uma verticalização intensa, assim como em outros bairros da zona sul da cidade, o processo foi similar.

O presente trabalho visa primordialmente, apresentar a metodologia que está sendo desenvolvida pela CEDAE–Companhia Estadual de Águas e Esgotos na cidade do Rio de Janeiro. Os dados que estão sendo coletados, ainda estão em fase de refinamento, sendo os valores atualmente determinados, indicativos apenas da tendência dos valores reais uma vez que existem diversos fatores físicos e operacionais que estão sendo identificados e corrigidos na medida em que os trabalhos avançam. Com a evolução dos trabalhos de medição, o refinamento dos dados coletados permitirá a determinação do valor médio do coeficiente de retorno por medições diretas dos volumes transportados pela rede coletora de esgotos, relacionados com os volumes totais da água fornecida, registrados nos micros medidores das economias da bacia amostral, cuja metodologia e os resultados iniciais serão abordados neste trabalho.

Autor: Eugenio Eduardo Queiroz Macedo.

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