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Análise da viabilidade econômico-financeira da utilização agrícola de biossólido em unidade de gerenciamento de lodo

Resumo

A disposição ou destinação do lodo de esgoto, proveniente dos processos de tratamento de efluentes, acende algumas preocupações socioambientais, principalmente, no Brasil, que por sua vez, majoritariamente, tem esse resíduo disposto em aterros. Uma prática que vem demonstrando-se bastante favorável e sustentável é o aproveitamento do lodo, enquanto biossólido, em solo agrícola, no emprego à recuperação de áreas degradadas ou para reflorestamento. O objetivo desse trabalho foi analisar o investimento necessário para implementação e os custos para manutenção de uma unidade de gerenciamento de lodo, sob dois cenários, sendo um cenário: uma autarquia municipal relacionada ao Serviço Autônomo de Água e Esgoto e o outro enquanto um empreendimento privado. Para fins de análise foram considerados dados referentes ao município de Volta Redonda, Rio de Janeiro. Foi realizada a análise da viabilidade econômico-financeira, utilizando os indicadores econômicos de rentabilidade: Valor Presente Líquido (VPL) e a Taxa Interna de Retorno (TIR), bem como, foi identificado os itens de maior impacto sobre o VPL, por meio da realização da análise de sensibilidade. Os cenários avaliados foram viáveis financeiramente, quando submetidos a uma taxa de desconto de 8% ao ano, em razão de apresentarem resultados positivos para o VPL. O cenário em que considerou o empreendimento privado mostrou-se atrativo para investimento, porém a rentabilidade alcançada toca no limite do que foi estabelecido como remuneração do capital financeiro investido. Em contrapartida, o cenário que avaliou a unidade gerenciada pela autarquia municipal, a TIR foi bem superior à taxa mínima de atratividade adotada, respondendo como uma excelente opção de investimento. E no que se relaciona ao custo de disposição em aterro sanitário e a comercialização do biossólido, esses se apresentaram como os componentes de maior impacto nos resultados econômicos do VPL em ambos cenários analisados.

Introdução

A eficiência na coleta e no tratamento das águas residuais, bem como, a destinação segura de seu material remanescente representa ações fundamentais no que tange a proteção ambiental e a qualidade de vida da população, demonstrando a relevância no investimento das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs). Com tecnologias específicas, estas se dedicam à redução da carga orgânica e de poluentes do esgoto coletado, retornando a água tratada aos corpos hídricos, contudo, gerando ao mesmo tempo, um resíduo semissólido, pastoso e de constituição majoritariamente orgânica, denominado lodo de esgoto (ANDRADE, 1999).

A preocupação acerca da disposição desse resíduo é inerente, ainda que sua produção, proporcional à coleta e ao tratamento de esgoto, não alcance metade da população brasileira, afinal, conforme o último dado do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (2015), avaliou-se que apenas 42,7% dos esgotos são tratados no Brasil. No país, o lodo de esgoto, em sua maior parte, é disposto em aterros. Todavia, existem diversas alternativas de destinação do mesmo que configuram-se como sustentáveis e portanto, capazes de minimizar os impactos negativos e mesmo reduzir os custos provenientes de sua saída por aterramento. A aplicação desse resíduo em solo agrícola é uma considerável maneira de destinação.

O emprego, à agricultura, do biossólido (lodo submetido a processo de higienização e tratamento, como compostagem ou estabilização alcalina, e com finalidade útil) é inclusive, normatizado no Brasil pela Resolução nº 375 do Conselho Nacional do Meio Ambiente, que “define critérios e procedimentos para o uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estações de tratamento de esgoto sanitário e seus produtos derivados” (BRASIL, 2006, p. 01). O seu aproveitamento agrícola contempla alguns benefícios por tratar-se de um resíduo com elevado teor orgânico, atuando, por sua vez, como componente relevante à capacidade produtiva do solo (PIRES e ANDRADE, 2014). Ademais, é possível caracterizar o biossólido, enquanto, fertilizante nitrogenado, pois além do nitrogênio, o lodo de esgoto contém fósforo e micronutrientes essenciais, como ferro, cobre, manganês, zinco (LOBO et al., 2013). Frente às considerações, têm-se a importância de avaliar a implementação e os custos envolvidos de uma Unidade de Gerenciamento de Lodo (UGL).

Autores: Luciana Cristina do Carmo Silva Carvalho; Afonso Aurelio de Carvalho Peres; Fabiana Soares dos Santos e Luiz Guilherme de Andrade Aguiar.

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