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O uso de águas cinzas em uma edificação multifamiliar

Resumo

Ações para racionalizar o consumo de água devem ser implantadas. Uma alternativa é o reuso de águas cinzas para finalidades não potáveis, como a utilização em descargas de bacias sanitárias. O presente estudo, tendo como objeto um edifício multifamiliar, analisa a viabilidade de implantação deste sistema adotando uma opção de tratamento prática e eficiente. Para o dimensionamento do sistema, a demanda e oferta de águas cinzas foram determinadas e assim a economia no consumo pôde ser verificada. Com o levantamento dos custos de implantação, manutenção e economia de água foi possível analisar a viabilidade e o período de retorno do investimento. Com a análise da viabilidade financeira mostrou-se qual a real economia para o consumidor. O investimento em um sistema de reuso demonstrou ser economicamente viável e desde o início da implantação do sistema o condomínio tem ganhos intangíveis como preservação de recursos ambientais e valorização da edificação.

Introdução

A água é um recurso natural renovável, fundamental para sobrevivência humana e ocupa cerca de 70% da superfície terrestre. Uma substância que permanece em constante circulação e está disponível na natureza em todos os estados físicos: sólido, líquido e gasoso. Dos 70% da massa de água existente na crosta terrestre, somente 2,5% estão na forma de água doce, dos quais apenas uma pequena parcela, constituída por lagos e rios, encontra-se disponível para utilização. A escassez do recurso em vários países é justificada pela má distribuição de água doce pelo planeta. Além disso, a poluição e contaminação de rios e lagos diminuem a quantidade de água de qualidade disponível.

Com o aumento progressivo da demanda de água para seus múltiplos usos e a constante poluição dos mananciais ainda acessíveis, a disponibilidade per capita de água doce no mundo vem sendo comprometida rapidamente. Situação muito preocupante já que água é considerada, atualmente, o fator limitante para o desenvolvimento agrícola, urbano e industrial.

A disponibilidade da água é um dos mais importantes fatores de controle habitacional e de desenvolvimento regional. A qualidade da água é avaliada por diversos parâmetros definidos pelo homem que constituem os vários padrões de uso, como, por exemplo, o padrão de potabilidade para o consumo humano. Em termos de bacia hidrográfica, o volume de água é sempre constante, enquanto a demanda de uso regional na bacia é sempre crescente, em função do crescimento populacional, industrial, irrigação e de outros usos. (LEME, 2014, p.18).

Regiões áridas e semiáridas não são as únicas atingidas pela escassez de água. Muitas áreas com recursos hídricos abundantes vivenciam problemas de uso e sofrem restrições de consumo que afetam o desenvolvimento econômico e qualidade de vida, já que possuem demandas excessivamente elevadas, sendo os recursos insuficientes para atendê-las. (TUNDISI, 2003).

As edificações são grandes consumidoras de recursos naturais, segundo Wines (2000), consumindo 16% do fornecimento mundial de água potável. É de fundamental relevância que este consumo seja feito de maneira racional e consciente, reduzindo os índices de perdas e desperdícios.

A lei n° 9.433 de 8 de janeiro de 1997, em seu capítulo II, artigo 20, inciso 1, afirma, entre os objetivos da política nacional de recursos hídricos, a necessidade de “assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos”.

Uma alternativa para enfrentar este problema é adotar processos de reuso de água. Segundo Fernandes et al. (2006) “Reuso da água é a reutilização da água, que, após sofrer tratamento adequado, destina-se a diferentes propósitos, com o objetivo de se preservarem os recursos hídricos existentes e garantir a sustentabilidade.”. O reuso da água em edificações permite o aproveitamento deste recurso para usos menos nobres, minimizando a produção de efluentes e o consumo de água fornecida pelas companhias de saneamento, gerando resultados positivos tanto para o meio ambiente como para a economia.

Segundo o Manual da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) (2005), “Água cinza para reuso é o efluente doméstico que não possui contribuição da bacia sanitária e pia de cozinha, ou seja, os efluentes gerados pelo uso de banheiras, chuveiros, lavatórios, máquinas de lavar roupas.”.

O reuso de águas cinzas pode resultar em economia de água potável, economia de energia elétrica e menor produção de esgoto sanitário na escala das edificações. Em uma escala maior, resulta em preservação dos mananciais de água, por diminuir a quantidade de água captada e por reduzir o lançamento de esgoto sanitário pelas áreas urbanas, além de reduzir o consumo de energia elétrica. (GONÇALVES, 2006, p.154).

Para determinar ações de conservação de água, como o reuso de águas cinzas, é indispensável o conhecimento da distribuição do consumo, que pode variar com o clima da região, renda familiar, tipologia da edificação e características culturais.

Estudos realizados no Brasil apontam que 29% do consumo de água num ambiente residencial são destinadas a descargas de bacias sanitárias, seguido de 28% do chuveiro, como mostra a figura 1.

(…)

Autores: Maria Gabriela Coral Maccarini; Flávia Cauduro e Christiane Ribeiro da Silva.

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