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Influência da utilização de diferentes misturas de mananciais no tratamento de água por flotação por ar dissolvido – avaliação em escala de bancada

Resumo

Embora o Brasil seja um dos países mais ricos em água doce do planeta, a distribuição desse recurso não ocorre de forma equilibrada e a área ocupada pela maior parte da população possui menor disponibilidade de água. Essa situação é agravada pelo crescimento desordenado das cidades e o mau uso da água, que provoca um aumento gradual da demanda de água. Por conseqüência, a população já sofre os efeitos dessa realidade e várias regiões do país têm vivenciado graves crises hídricas nos últimos anos. No início de 2017 a região do Distrito Federal-DF foi atingida por uma crise hídrica, com impacto significativo nos níveis dos reservatórios. O reservatório Santa Maria, principal manancial que alimenta a segunda maior Estação de Tratamento de Água do DF, teve considerável redução no seu volume de água, fazendo-se necessário maior utilização das águas do ribeirão Torto para alimentação, com objetivo de permitir a recuperação do volume acumulado no reservatório. Outra medida tomada foi a adoção de racionamento nas áreas abastecidas pelos reservatórios do Descoberto e de Santa Maria. Neste contexto, o presente trabalho objetivou investigar, em escala de bancada, a influência da utilização de diferentes proporções de misturas dos dois mananciais (reservatório Santa Maria e ribeirão Torto) que abastecem uma das Estações de Tratamento de Água (ETA) do DF que adota o tratamento convencional com flotação por ar dissolvido. O trabalho experimental foi divido em três grupos: no primeiro foi investigado o tratamento da água apenas utilizando água do ribeirão Torto; no segundo foi utilizada uma mistura contendo 75% de água do ribeirão Torto e 25% do reservatório Santa Maria; e no terceiro 50% de cada manancial. Os resultados indicaram que a utilização da flotação por ar dissolvido no tratamento da água do ribeirão Torto, que possui características minerais, com turbidez mais elevada, é menos eficiente do que uso dessa tecnologia no tratamento de misturas que contenham a água proveniente do reservatório de Santa Maria, que se caracteriza por águas de baixa turbidez e presença de algas. Misturas contendo apenas 25% de água do reservatório Santa Maria já proporcionam resultados satisfatórios, enquanto a utilização de água proveniente apenas do ribeirão Torto pode oferecer riscos operacionais como a sobrecarga dos filtros, em função da turbidez elevada da clarificada pelo sistema de flotação, e consequentemente, problemas potenciais de qualidade da água filtrada.

Introdução

O Brasil é um dos pais mais ricos em água doce do planeta segundo classificação das Nações Unidas. No país se localizam as maiores bacias hidrográficas do mundo e também uma enorme rede de drenagem que nunca seca sobre mais de 90% do território nacional (Rebouças, 2003). Entretanto, segundo a ANA (2015), apesar da grande oferta de água no país, esse recurso natural encontra-se distribuído de maneira heterogênea no território nacional. Segundo essa Agência, passa pelo território brasileiro, em média, cerca de 260.000 m³/s de água, dos quais 205.000 m³/s, quase 80% estão localizados na bacia do rio Amazonas, onde se encontra pouco mais de 5% da população, restando 55.000 m³/s para 95% da população. Este desequilíbrio entre a concentração dos recursos hídricos superficiais e a distribuição demográfica, agrícola e industrial tem levado à grave escassez de água em várias regiões. O uso desordenado do solo, o desperdício e o crescimento da demanda são fatores que contribuem para intensificar a escassez de água, que pode comprometer o desenvolvimento socioeconômico, a conservação do capital ecológico e também a sobrevivência e qualidade de vida dos seres humanos.

A crise no abastecimento de água de grandes cidades metropolitanas tem ganhado as manchetes dos principais meios de comunicação. A situação de escassez no Nordeste é crônica, mas, em 2014, várias cidades do Estado de São Paulo vivenciaram o racionamento, inclusive a capital São Paulo. Dois anos depois o Distrito Federal vive a mesma experiência, com os dois principais reservatórios, Descoberto e Santa Maria, em níveis críticos. Para desacelerar o ritmo de queda dos níveis de água desses reservatórios, em janeiro de 2017 foi iniciado o racionamento nas cidades abastecidas pelo reservatório do Descoberto e em março do mesmo ano iniciou-se também o racionamento nas áreas abastecidas pelo reservatório de Santa Maria. Além disso, iniciativas que buscam a redução de perdas e melhor utilização dos recursos hídricos disponíveis vêm sendo adotadas.

Nesse contexto, o presente trabalho teve como principal objetivo investigar, em escala de bancada, a influência da utilização de diferentes misturas dos dois mananciais (reservatório Santa Maria e ribeirão Torto) que abastecem uma Estação de Tratamento de Água (ETA) do DF que adota o tratamento convencional com flotação por ar dissolvido.

O reservatório Santa Maria, formado pelo barramento do córrego do mesmo nome, foi concebido exclusivamente para abastecimento público, e é hoje o principal manancial do sistema Torto – Santa Maria que é responsável pelo abastecimento de cerca de 25% da população do DF. Porém, em função da grave crise hídrica que atinge o DF o volume de água do reservatório Santa Maria reduziu consideravelmente. De modo a reduzir a vazão captada do reservatório Santa Maria, permitindo dessa forma a recuperação do seu volume acumulado, faz-se necessário a maior utilização das águas do ribeirão Torto.

A Estação de Tratamento de Água (ETA) responsável pelo tratamento desses dois mananciais foi inaugurada em 1960 e passou por uma reforma em 2006, em que o processo de Flotação por Ar Dissolvido (FAD) foi implementado em função, principalmente, da presença sazonal de microalgas no Reservatório Santa Maria.

A flotação por ar dissolvido é um processo que se tornou bastante conhecido por sua elevada eficiência no tratamento de águas com baixa turbidez, com partículas de baixa densidade, presença de microalgas e cianobactérias (Edzwald, 1993, Teixeira e Rosa, 2006 e 2007; Henderson et al., 2008; entre outros). A FAD possui, dentre outras vantagens comparativas com sistema de decantação convencional, a de permitir a utilização de elevadas taxas de aplicação superficial, o que leva a menores custos na implantação com construção civil; possui partida rápida, garantindo a produção de água tratada em menos de uma hora, e o lodo produzido contêm alta concentração de sólidos (Sartori,1998). Na FAD parâmetros como a tamanho das bolhas, pH de coagulação/floculação e dosagem de coagulante são elementos que possuem influência direta na efetividade do tratamento e necessitam serem investigados permanentemente (Lédo, 2008).

Autores: Claudia Patricia Pereira Simões; Amandda Carolline Cavalcante; Leila Cristiane Fernandes B. de Lima; Raquel Stavale Schimicoscki e Cristina Celia Silveira Brandão.

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