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Manejo de reservatórios de abastecimento da região metropolitana de São Paulo (RMSP) para o controle de cianobactérias e seus subprodutos

Resumo

Reservatórios destinados ao abastecimento humano em áreas densamente povoadas, como os principais mananciais da RMSP, sofrem com a eutrofização artificial cuja principal consequência são as florações de cianobactérias que apresentam um risco potencial à saúde pública por serem organismos potencialmente produtores de cianotoxinas e também podem produzir compostos causadores de gosto e odor, como a geosmina e o 2-metilisoborneol. O presente trabalho apresenta os resultados do monitoramento sistemático de cianobactérias realizado em dois mananciais de abastecimento localizados em grandes centros urbanos com eventos de florações de cianobactérias e os reflexos que o manejo tem apresentado sobre a água tratada. Até o ano de 2004, a média de cianobactérias nos reservatórios Guarapiranga e Taiaçupeba eram bastante elevados, alcançando valores superiores a 20.000 céls/mL. Após o início do manejo, o número de células tem sido controlado, ficando abaixo do limite da Portaria 2914/11. Com o controle das cianobactérias minimiza-se o risco da presença de cianotoxinas na água tratada. Além disso, os compostos causadores de gosto e odor também são reduzidos, diminuindo o consumo de carvão ativado nas ETAs, minimizando os custos no tratamento.

Introdução

O desenvolvimento das atividades humanas sem a preocupação com o ambiente vem resultando na degradação dos corpos d’água, inclusive de mananciais de abastecimento. Geralmente, os reservatórios localizam-se em áreas que vem sendo pressionadas de forma crescente pela expansão urbana irregular, falta de infra-estrutura básica e degradação do solo em suas bacias hidrográficas (Pegorini et al., 2005).

Segundo Straškraba e Tundisi (2000), os reservatórios destinados ao abastecimento humano localizados em regiões densamente povoadas são comuns em países em desenvolvimento. Com o aumento da população no entorno, há o aumento das fontes de poluição, e com isso, aumentam-se muito os custos de tratamento, chegando a ser quatro vezes mais dispendioso em águas eutrofizadas que em fontes primárias limpas.

Em bacias com ocupação predominantemente urbana, o enriquecimento por nutrientes é uma das principais causas de degradação da água por estimular o crescimento de algas, cianobactérias e plantas aquáticas que poderão desequilibrar a oferta de oxigênio dissolvido, reduzindo a diversidade biológica e prejudicando o uso para o abastecimento (Bollmann e Andreoli, 2005).

Neste contexto, situam-se os reservatórios da Região Metropolitana de São Paulo que sofrem com a pressão da urbanização e crescimento desordenado, objetos do presente estudo: o reservatório Guarapiranga é responsável pelo abastecimento da região Sudoeste e o reservatório Taiaçupeba é responsável pelo abastecimento da região Leste. Em 2015, estes mananciais foram classificados como meso-eutrófico e oligo-mesotrófico, respectivamente (CETESB, 2015).

Eutrofização significa o enriquecimento das águas por nutrientes, levando a uma progressiva degradação de sua qualidade, reduzindo seus usos, por fazer com que o ambiente perca sua qualidade cênica, seu potencial recreacional e seu valor econômico, tanto para uso no abastecimento público quanto para o industrial (Xavier et al., 2005). A principal consequência da eutrofização são as florações de cianobactérias que apresentam um risco potencial à saúde pública por serem organismos potencialmente produtores de cianotoxinas e também podem produzir compostos causadores de gosto e odor, como a geosmina e o 2-metilisoborneol, levando à rejeição por parte dos consumidores e à busca por fontes alternativas que podem não ser seguras.

O sulfato de cobre é o algicida mais comumente usado e sua vantagem é a redução rápida da densidade do fitoplâncton. A partir de 2004, a Sabesp iniciou efetivamente o manejo dos reservatórios para o controle das cianobactérias quando também se passou a utilizar o peróxido de hidrogênio, mais eficiente para alguns gêneros de cianobactérias e com a vantagem de não deixar resíduo no ambiente.

Também em 2004, a Portaria 518 de 29/03/2004 do Ministério da Saúde entrou em vigência, vetando o uso de algicidas quando a densidade de cianobactérias fosse superior a 20.000 céls/mL. Desta forma, o controle de cianobactérias tornou-se ainda mais importante para evitar que este valor fosse atingido, situação bastante frequente nos reservatórios em estudo até aquele ano. Em 2011, esta Portaria foi revogada, passando a vigorar até o presente momento a Portaria 2914 de 12/12/2011. Em 2012, entrou em vigor a Resolução Conjunta SMA/SSRH Nº4 de 22/11/2012, que regulamentou as excepcionalidades para aplicação de algicidas nos corpos d’água no Estado de São Paulo, autorizando o uso de algicidas desde que atendidos os critérios específicos de elegibilidade, monitoramento e aplicação.

O presente trabalho apresenta os resultados do monitoramento sistemático de cianobactérias realizado nos reservatórios Guarapiranga e Taiaçupeba, localizados em grandes centros urbanos, com eventos de florações de cianobactérias e os reflexos que o manejo tem apresentado sobre a água tratada.

Autores: Fabiana Akemi Kudo; Adilson Macedo; Valesca Rodrigues Oliveira de Souza e Osmar Rivelino.

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