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Avaliação da qualidade da água em poços nas vizinhanças de postos após 15 anos da ocorrência de vazamento de combustíveis em Recife, Pernambuco

Resumo

A utilização de poços é uma boa alternativa para a Região Metropolitana de Recife (RMR), por causa da existência de mananciais subterrâneos de boa qualidade e devido à crescente escassez de fontes hídricas superficiais nas bacias hidrográficas próximas. Entretanto, certos problemas como a falta de saneamento e a presença de empreendimentos potencialmente poluidores, dentre eles os postos de combustíveis, que oferecem risco de acidentes envolvendo vazamentos, aumentam consideravelmente a consequente contaminação do lençol freático. Nesse contexto, o objetivo no presente trabalho foi o de avaliar o comportamento das plumas de contaminação no entorno de três postos de abastecimento localizados na RM, alvo de denúncias no passado sobre vazamentos de combustíveis. Certos compostos presentes no óleo diesel e na gasolina, respectivamente os hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA) e benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno (BTEX), são indicadores de que a água foi contaminada por combustíveis de origem petroquímica. Foram coletadas amostras de água e levantados dados de campo de poços próximos aos três postos de combustíveis suspeitos. Foram determinadas as concentrações dos referidos hidrocarbonetos via cromatografia gasosa com espectrômetro de massa, e de parâmetros de potabilidade. Os resultados encontrados sugerem atenuação natural em todos os locais próximos dos poços analisados, uma vez que as concentrações encontradas foram mínimas ou nulas. De qualquer maneira, sugere-se a necessidade de trabalhos semelhantes para avaliação dos hidrocarbonetos em solos ao longo do tempo, caracterização da microbiota no processo de biodegradação anaeróbia nos poços e elaboração de textos normativos. Estas deveriam fixar as exigências de monitoramento desses contaminantes para verificar a qualidade da água consumida pela população que utiliza poços em áreas potencialmente sujeitas à contaminação por combustíveis.

Introdução

Poços tubulares para abastecimento de água é uma prática cada vez mais utilizada devido à escassez de fontes hídricas superficiais nas bacias hidrográficas em Pernambuco, mais precisamente nas proximidades da Região Metropolitana de Recife (RMR). A RMR possui dois mananciais subterrâneos com volume e qualidade excelentes, o Beberibe na zona norte e o Barreiras na zona sul. Este trabalho focaliza no aquífero Barreiras na área de Boa Viagem, já que os três bairros avaliados em que se localizam os postos estão delimitados nessa região. O aquífero Boa Viagem possui elevado índice de vulnerabilidade natural (CORREIA, 2006).

Os mananciais subterrâneos na RMR enfrentam certos problemas de caráter socioambiental, destacando-se a sua vulnerabilidade frente à falta de saneamento básico e a presença de empreendimentos potencialmente poluidores, quais sejam as indústrias, os lixões, os cemitérios e os postos de combustíveis, entre outros.

Estes últimos merecem destaque devido ao grande volume de derivados de petróleo armazenados em tanques subterrâneos e, apesar do esforço pela prevenção e investimentos em novas tecnologias e adequação de equipamentos, continuam oferecendo risco de acidentes envolvendo vazamentos e consequente contaminação do lençol freático (CORSEUIL, 1997).

Apresentam-se ainda, nesse cenário, duas questões que precisam de intervenção: a perfuração clandestina e indiscriminada de poços (não registrada nos órgãos competentes) e a falta de fiscalização ambiental eficiente (fruto de carência de pessoal em número suficiente para atendimento das demandas); ou seja, falta de controle ou monitoramento ambiental mais efetivo. O resultado é uma deficiente gestão das áreas degradadas por derramamento ou vazamento de combustíveis, o que constitui numa fragilidade grave que poucos Estados brasileiros conseguiram minimizar (MORAES et al, 2014).

Dentro desse contexto, o presente trabalho partiu do interesse de saber como se comportaram as plumas de contaminação no entorno de três postos de combustíveis localizados em três bairros distintos na Região Metropolitana de Recife, e que foram alvo de denúncias sobre possíveis vazamentos de combustíveis, num lapso de tempo de quinze anos.

Dos três casos em estudo, o que se localiza no bairro do Ipsep foi o que teve maior destaque na mídia em setembro de 2002, uma vez que o vazamento de combustíveis afetou os poços de abastecimento de água de várias residências construídas no entorno, inclusive de um conjunto habitacional. A empresa detentora da bandeira do posto e fornecedora de combustíveis tomou medidas mitigadoras cabíveis, quais sejam a extração de combustível em fase livre através de bombeamento e o fornecimento de água potável à população através de caminhões-pipa, já que o consumo de água dos referidos poços tornou-se impróprio.

Os outros dois bairros, Ibura e Cordeiro, não receberam a mesma atenção, pois os respectivos incidentes não tiveram visibilidade por parte da população em geral e nem dos órgãos fiscalizadores, ou ainda da imprensa. Estes acidentes foram denunciados por anônimos via Ouvidoria da Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH) e posteriores entrevistas com os moradores por ocasião de vistorias para verificar a consistência das queixas.

A presença de certos compostos em amostras de água revelou que as mesmas foram contaminadas por combustíveis derivados de petróleo, tendo sido considerados dois grupos, os denominados BTEX, formados pelos hidrocarbonetos monoaromáticos benzeno, tolueno, etilbenzeno e os xilenos, e os HPA que são os hidrocarbonetos policíclicos aromáticos, formados por mais de um anel aromático (BRITO, 2005).

Estes compostos são associados a casos de leucemia e tumores cancerosos, além de má formação fetal. Portanto, trata-se de potenciais carcinogênicos e teratogênicos amplamente estudados pelos grandes centros de pesquisa, com limites de permissibilidade à exposição ou ingestão da ordem de µgL-1 , o que é suficiente para justificar as preocupações que cercam os incidentes aqui estudados; principalmente os BTEX, por serem mais solúveis em água (INMETRO, 2012).

Os hidrocarbonetos aromáticos, tanto mono quanto policíclicos, gozam de grande estabilidade química; isso significa que não reagem com facilidade com outros compostos, e em ambientes naturais, onde as condições físicas e bioquímicas, que oferecem a possibilidade dos fenômenos microbiológicos, não favorecem muito a sua degradação (OLIVEIRA e ALVES, 2013).

Autores: José Luiz Lima da Silva; Sávia Gavazza; Lourdinha Florêncio e Mario Takayuki Kato.

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