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Ocorrência dos fármacos amoxicilina e cafeína em esgoto doméstico e águas superficiais

Resumo

A presença de fármacos em águas superficiais é uma questão que vem causando preocupação, devido ao fato destes compostos possuírem baixa biodegradabilidade, por geralmente persistirem aos processos de tratamento convencionais e por também serem desconhecidos os efeitos crônicos desta exposição aos organismos aquáticos e aos seres humanos. As Estações de Tratamento de Esgoto são indicadas como as principais fontes de descarga dessas substâncias no ambiente. Nesse contexto, foi desenvolvida uma metodologia para determinação dos fármacos cafeína e amoxicilina, utilizando Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com detecção por Ultravioleta (HPLC- UV). O método proposto foi validado nos parâmetros linearidade, precisão, exatidão, limite de detecção e limite de quantificação, de acordo com os padrões do INMETRO e ANVISA. Após considerado válido, o método foi então aplicado em amostras de água de rio e de esgoto, do município de Medianeira-PR. Os resultados indicaram presença de ambos os fármacos nas amostras analisadas, sugerindo a baixa eficiência de tratamento da ETE analisada frente a esses micropoluentes. As concentrações encontradas para a cafeína variaram entre não detectado e 0,1187 mg.L-1, com um limite de detecção de 0,08 mg.L-1 e um limite de quantificação de 0,27 mg.L-1. Já para a amoxicilina as concentrações variaram entre 0,0029 a 0,026 mg.L-1, para limite de detecção de 0,05 mg.L-1 e um limite de quantificação de 0,18 mg.L-1. Dessa forma, a metodologia se mostrou adequada e pode ser utilizada em outros estudos de mesma natureza.

Introdução

Na década de 70, começou-se a atentar para a presença de fármacos em ambientes aquáticos, devido ao fato de muitos destes compostos, tais como antibióticos, hormônios, anti-inflamatórios, anestésicos, dentre outros, serem encontrados em efluentes de Estações de Tratamento de Esgotos (ETEs) e em águas superficiais e subterrâneas em concentrações na faixa de μg.L-1 e ng.L-1 ao redor do mundo. A presença dessas substâncias no meio ambiente indica que as mesmas são recalcitrantes e que possuem baixa biodegradabilidade, sendo que ainda não se conhece o efeito crônico desta exposição em seres humanos e animais (ANDREOZZI et al., 2004; LOPES, 2014; COSTA JUNIOR et al, 2014; MELO et al., 2009; LONGHIN, 2008).

A principal rota de contaminação de fármacos em águas superficiais é o lançamento de esgoto in natura, já que em diversos locais há um grande déficit de infraestrutura em saneamento (MELO et al., 2009). De acordo com dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, no Brasil, somente 54,87% dos municípios realizam a coleta do esgoto doméstico, dentro desse grupo 70,87% dos municípios que realizam a coleta também efetuam o tratamento do esgoto e em 45,13% dos municípios o esgoto não é coletado, sendo lançado diretamente em águas superficiais (SNIS, 2014).

Outra rota importante é o lançamento de efluentes de estações de tratamento de esgotos domésticos, uma vez que a remoção de fármacos é incompleta frente aos processos de tratamento utilizados. Além disso, a contaminação também pode ocorrer pelo descarte inadequado de medicamentos, derramamentos acidentais durante a fabricação e distribuição e pelo lançamento de efluentes industriais sem o tratamento adequado (ANDREOZZI et al., 2004; SILVA, 2015; MELO et al, 2009).

Os antibióticos constituem uma importante classe de fármacos com grande possibilidade de causar impactos ambientais devido a capacidade de gerar organismos resistentes, apresentarem toxicidade aguda para algumas espécies aquáticas, resistirem ao tratamento de ETEs convencionais e pelo fato de persistirem no ambiente e potencializarem seu efeito no ecossistema (SILVA, 2015; LONGHIN, 2008).

No grupo dos fármacos, também está incluída a cafeína, que além de estar presente na formulação de diversos medicamentos, também se encontra em bebidas, alimentos e condimentos e a sua presença no ambiente aquático é um importante bioindicador ambiental, já que ela não é consumida por animais e nem está presente em fertilizantes, demonstrando contaminação por esgotos domésticos (MAFIOLETI, 2014).

Métodos baseados na Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) ou High Performance Liquid Chromatography (HPLC) são adequados para uma variedade de compostos orgânicos que apresentam polaridade alta e volatilidade baixa ou elevada instabilidade térmica, que são características de alguns fármacos (SILVA; COLLINS, 2011). Nesse método, a fase móvel, constituída de solventes líquidos, tem a capacidade de realizar separações e análises quantitativas de uma grande quantidade de compostos, em escala de tempo de poucos minutos, transportando os analitos através de uma coluna cromatográfica, onde ocorre a separação pelas diferenças de afinidade dos analitos com a fase estacionária (QUEIROZ, 2011; DE SOUZA LOPES et al., 2010).

Dessa forma, considerando a problemática atual, realizou-se um estudo para desenvolver e validar uma metodologia analítica para a detecção de cafeína e amoxicilina, utilizando Cromatografia Líquida de Alta Eficiência com detecção por Ultravioleta (HPLC- UV) para determinação desses micropoluentes. A validação foi avaliada segundo os parâmetros linearidade, precisão, exatidão, limite de detecção e limite de quantificação, de acordo com os padrões do INMETRO e ANVISA.

Autores: Michelle Cristine Wagner; Ismael Laurindo Costa Junior; Juliana Bortoli Rodrigues Mees e Poliana Paula Quitaiski.

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