Resumo
A avaliação do desempenho de uma ETA, comumente, é realizada por meio da análise de parâmetros de qualidade da água que não são suficientes para responder questões de ordem: operacional, hidráulica, entre outras. Admitindo como objeto de estudo as ETA Vieira de Melo (VM), Teodoro Sampaio (TS) e ETA Principal, que abastecem a Região Metropolitana da cidade de Salvador – Bahia, bem como, os pontos de captação Joanes I (JO I), Ipitanga I (IP I), Pedra do Cavalo (PC) e Joanes II (JO II), o objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho do processo de tratamento de água, no período compreendido entre os anos de 2010 e 2014, a partir dos índices de qualidade da água bruta (IQAB) e de qualidade da estação de tratamento de água (IQETA), concomitante aos resultados do índice de conformidade da qualidade da ETA (ICA), utilizado pela Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA), e o levantamento de aspectos operacionais e ambientais das ETA estudadas, tais como: o consumo de produtos químicos e as perdas de água na manutenção das ETA. Constatou-se que tanto o IQAB quanto o IQETA, na forma de produtório, são mais susceptíveis a menores valores de alguns parâmetros. Quanto ao grau de associação entre IQAB, consumo de produtos químicos (PQ), e o Índice de Perdas de Água no Tratamento (IPTR), confirmou-se a assertiva de que a depreciação da qualidade da água no manancial é acompanhada pelo aumento do consumo de PQ e elevação do IPTR. Quanto à aplicação do IQETA, nas ETA VM e Principal verificou-se que quanto maior a vazão de operação, menor o IQETA e, na ETA TS, constatou-se o inverso, ou seja, quanto maior a vazão, melhor o desempenho hidráulico da ETA. Quando hierarquizados, os resultados de IQETA mostram que a ETA Principal, após a ampliação da unidade de floculação, registrou o melhor desempenho, entre as três ETA estudadas, e a ETA TS, o pior desempenho hidráulico do período. Embora, seja difícil estabelecer hierarquias absolutas no tratamento de água, a aplicação dos índices de qualidade IQAB e IQETA na avaliação do desempenho das ETA, se mostrou apropriada, podendo ser usados para transformar dados de exploração em informação de apoio à tomada de decisão por parte dos gestores.
Introdução
O crescente número de parâmetros de qualidade, seguido de limites cada vez mais restritivos dos padrões de potabilidade, associado à degradação da qualidade da água nos mananciais e as limitações tecnológicas dos sistemas de tratamento de água comumente adotados, compõem o quadro complexo do abastecimento de água potável no Brasil.
Essa complexidade exige dos prestadores dos serviços de abastecimento de água posturas mais proativas no que tange a adequação e enquadramento dos sistemas as novas exigências impostas. Muitas dessas ETA enfrentam problemas de sobrecarga hidráulica, consequência do aumento da demanda de água potável, não acompanhada da ampliação das unidades, além das dificuldades na tratabilidade da água, advinda do decaimento da qualidade da água nos mananciais de abastecimento.
Geralmente, a avaliação do desempenho da ETA se norteia pela qualidade do efluente tratado ou, em outras palavras, pelo tempo de operação da unidade durante o qual a água tratada atende às premissas estabelecidas pelo Ministério da Saúde. No entanto, dependendo do objetivo e do nível de detalhamento que se deseja obter, a avaliação do desempenho de uma ETA via parâmetros de qualidade não é suficiente para responder questões de ordem operacional, hidráulica, entre outras.
Nesses casos, o uso de ferramenta de avaliação, como os índices de tratabilidade da água e de avaliação do desempenho da ETA, baseados em grupos de variáveis-chave, disponíveis na rotina de monitoramento da estação, pode ajudar no enfrentamento dos desafios de ordem estrutural e estruturante, que se colocam fundamentalmente na melhoria do desempenho das infraestruturas existentes, na tomada de decisão das prioridades de investimento e na produção de informação de apoio que auxilie na tomada de decisão.
Desse modo, a aplicação de índices de qualidade, como o Índice de Qualidade da Água Bruta – IQAB (SOUZA, 2008) e o Índice de Qualidade da Estação de Tratamento de Água – IQETA (LOPES, 2005; ALMEIDA, 2009), se justifica de modo a auxiliar os operadores, gestores e autoridades ligadas a esses serviços a atingir um nível de qualidade que melhor atenda as expectativas dos usuários, respeite a legislação em vigor e aproxime as metas de desempenho dos valores internacionalmente reconhecidos como satisfatórios.
A opção pelos índices IQAB e IQETA, face a outros índices de qualidade como, por exemplo, o Índice de Qualidade de Águas Brutas para Fins de Abastecimento Público (IAP), utilizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), se deve ao fato de que tanto o IQAB quanto o IQETA foram desenvolvidos, especificamente, para aplicação em ETA que empreguem a tecnologia de ciclo completo de tratamento de água.
Nesse contexto, frente ao cenário de degradação da qualidade da água nos mananciais, as crescentes exigências legais de qualidade da água potável e o aumento da demanda, a proposta desse trabalho é avaliar o desempenho do processo de tratamento de água em três ETA de ciclo completo que abastecem a Região Metropolitana de Salvador (RMS), as ETA Vieira de Melo (VM), Teodoro Sampaio (TS) e ETA Principal, no período entre os anos de 2010 e 2014, nas quais se pretende discutir, a partir dos índices IQETA e IQAB, as limitações hidráulicas e de tratabilidade da água, concomitante ao levantamento de alguns aspectos ambientais da ETA, tais como: o consumo de produtos químicos empregados no tratamento e as perdas de água na manutenção da ETA (lavagem de filtros e descarga de decantadores).
O desenvolvimento desse trabalho contou com o apoio e a participação da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (EMBASA-BA).
Autores: Daniele Cristina Talarico; Luciano Matos Queiroz e Magda Beretta.
